Ela achou que sua vez chegaria em julho. Ele chutou que seria maio. E acertou. Na noite desta segunda-feira (31), o casal de aposentados Ruth Becker, 58 anos, e Carlos Kerecki, 59, pôde tomar a vacina contra a covid-19 em Esteio, uma das primeiras cidades do Rio Grande do Sul a abrir a imunização para a população em geral.
Ruth perdeu a aposta para o marido, mas ganhou certa segurança logo após a primeira picada no braço.
— Estamos felizes, né? Desejamos que todos tenham isso. Professores, motoristas de ônibus, todo mundo. Não tem uma noite em que eu não rezo pedindo vacina para todos — disse ela, na carona do carro conduzido por Carlos.
A possibilidade de avançar a imunização para quem não faz parte dos grupos prioritários veio após o Ministério da Saúde emitir uma nota técnica, na sexta-feira (28), permitindo imunizar pessoas dos 59 anos para baixo, sempre respeitando a ordem decrescente. É o que a pasta chamou de segunda fila da vacinação, que deve ocorrer ao mesmo tempo em que segue a imunização para quem tem doenças, está superexposto ao coronavírus ou tem outras vulnerabilidades.
A orientação é que os municípios iniciem a campanha para o público em geral somente quando tiverem vacinado os professores. No caso de ter doses suficientes para esse grupo e começar a segunda fila, também fica permitido.
Foi na noite de domingo (30) que a prefeitura de Esteio revisou o estoque de vacinas e decidiu que iria partir para o público de 59 anos. Com a previsão de terminar a imunização dos profissionais da educação na quarta-feira (2) e com um lote recém-chegado de 2.840 doses do imunizante de Oxford/AstraZeneca, sobrou fôlego para ampliar a campanha. Na manhã desta segunda, foi decidido que seria ampliada a faixa etária para 58 anos ou mais.
A vacinação para as pessoas de 59 e 58 anos aconteceu somente hoje em Esteio, no drive-thru montado no Parque de Exposições Assis Brasil. Para receber a injeção, era necessário agendar pelo site da prefeitura, uma maneira, segundo a gestão, de evitar frustrações: só faria fila quem havia recebido confirmação de que seria imunizado.
A professora Márcia Nunes, 32, estava angustiada com o fato de que sua mãe, Maria Terezinha Nunes Machado, 58, era a única da família que ainda não havia tomado a vacina. Tanto ela quanto a irmã, asmática, e o marido, policial militar, já tinham recebido a primeira dose. Quando viu na internet que a cidade iria contemplar os de 59 e 58 anos sem qualquer doença, se organizou:
— Eu disse: é agora!
E levou Maria Terezinha de carro até o drive-thru.
— Tava demorando, né? Antes, era só quem tinha problema... — disse a mãe, segurando o cartão da vacinação com data marcada para a segunda dose.
Segundo o prefeito de Esteio, Leonardo Pascal, a cidade deve terminar de vacinar os grupos prioritários nos próximos dias. Com isso, a tendência é de que, a partir da semana que vem, mais faixas etárias sejam contempladas na imunização do público em geral. As doses ficam garantidas para quem pertence aos grupos prioritários e ainda não tomou a injeção.
— A gente fica esperançoso porque dar início à vacinação do público em geral é como ver uma luz no fim do túnel. Do ponto de vista da gestão, também é melhor. A vacinação por grupos é difícil porque está sujeita a fraudes, e às vezes o gestor tem que justificar por que um grupo está sendo vacinado e outro não. Como os grupos mais vulneráveis já foram vacinados e os mais expostos, como os professores, também, me parece mais justo que agora seja por idade — disse o prefeito.
De acordo com número divulgados pela prefeitura, Esteio, município com cerca de 84 mil habitantes, já aplicou 32.392 primeiras doses e 8.436 aplicações de reforço. Ivoti e Campo Bom, no Vale do Sinos, também já começaram a vacinar a população em geral. Em Dois Irmãos, a segunda fila da vacinação deve começar na sexta-feira (4).