Após detectar o vírus da covid-19 em cerca de 1% dos passageiros examinados e flagrar casos de viajantes com sintomas intensos a ponto de necessitar de atendimento médico, a prefeitura de Porto Alegre pretende prorrogar a fiscalização sanitária montada no aeroporto Salgado Filho, que estava prevista para terminar no domingo (27).
Uma reunião entre representantes da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), parceira na iniciativa, foi agendada para a tarde desta sexta-feira (25) para começar a discutir o assunto. Até a próxima segunda (28), deve ser definido um novo formato para o projeto iniciado no dia 14 de junho.
O novo modelo de monitoramento a ser implantado pela SMS poderá ocorrer em um período mais curto do dia, nos momentos com maior frequência de voos, e com foco nos passageiros que apresentem algum sintoma compatível com coronavírus — perfil da grande maioria dos casos flagrados na primeira fase da iniciativa.
— Tínhamos feito um projeto temporário para tentar buscar novas variantes. Pensamos em quem vinha de fora, mas acabamos detectando muitos casos positivos entre passageiros domésticos. O prefeito Sebastião Melo ficou surpreso com a quantidade de 40 exames positivos que tivemos até a tarde de quinta (24) e pediu para montarmos uma estratégia que permita dar continuidade às testagens por mais tempo — afirma o diretor da Vigilância em Saúde da Capital, Fernando Ritter.
Até o momento, uma amostra foi analisada geneticamente e revelou conter a variante P1, que já é predominante no Estado. Cerca de uma dezena de amostras deverão ser mapeadas na semana que vem. Mas um dos principais fatores que estimula a intenção de manter a ação de vigilância é a quantidade significativa de passageiros que foram flagrados com sintomas da covid-19 — e tinham intenção de seguir viagem entrando em contato com outras pessoas e até embarcando em ônibus intermunicipais.
— Quase todas as pessoas que tiveram resultado positivo estavam sintomáticas — revela Ritter.
Um passageiro com destino a Santa Maria precisou ser encaminhado a uma unidade de pronto atendimento (UPA) da Capital imediatamente em razão do coronavírus. Se não tivesse sido abordado pelos agentes de saúde, teria tomado um transfer até a estação rodoviária e, de lá, embarcaria em um ônibus até a região central do Estado – colocando centenas de pessoas em risco ao longo do trajeto. Em vez disso, a prefeitura de Santa Maria enviou uma ambulância para transportá-lo.
Outro episódio envolveu um morador de Taquara. Da mesma forma, apresentava sintomas e, mesmo assim, tinha planos de tomar um ônibus na manhã seguinte para seu município de origem. Foi orientado a permanecer em um local isolado até a prefeitura enviar um carro com um profissional de saúde para buscá-lo.
Sanitarista e professor de Saúde Coletiva da UFRGS, Dário Pasche afirma que a universidade vai avaliar a proposta de prorrogação da parceria. Pasche observa que a ação de vigilância desenvolvida no aeroporto não é exatamente uma barreira sanitária porque não há obrigação dos passageiros de se submeterem às testagens.
— É uma ação de vigilância sanitária, mas não é uma barreira, já que quem quiser não precisa se submeter ao exame. Vamos avaliar, tecnicamente, a continuidade da universidade na iniciativa — afirma Pasche.
O sanitarista avalia que a testagem se mostrou útil para detectar doentes em trânsito e prevenir a multiplicação de infecções, mas lembra que é uma operação complexa, que mobiliza de 40 a 50 pessoas diariamente, exige oferta de transporte por parte da universidade, e por isso enfrenta dificuldades para se manter por prazos muito longos.
Além disso, Pasche avalia que a falta de uma coordenação nacional diminui a eficiência do sistema porto-alegrense, já que nem todos os aeroportos adotam procedimentos semelhantes. Como a testagem na chegada não é obrigatória, a ação pode detectar alguns casos positivos e deixar passar outros. Conforme Fernando Ritter, o município não teria amparo legal para barrar o desembarque dos passageiros que não quisessem fazer o exame.
A estratégia, em vez disso, foi procurar oferecer esclarecimentos sobre como agir em caso de sintomas e manter contato com quem teve teste positivo. Nesses casos, quando o viajante é de Porto Alegre, no dia seguinte a prefeitura vai até a casa do paciente e faz um exame do tipo RT-PCR, mais preciso do que o inicial, e passa a monitorá-lo por contato telefônico.
Quando a pessoa é de outro município, a prefeitura de origem, além da Secretaria Estadual de Saúde, é informada. Todos recebem orientação para ficarem em quarentena, sem contato com outras pessoas.