
O coronavírus continua matando milhares de pessoas pelo mundo, mas, de umas semanas para cá, houve boas notícias: israelenses e americanos se livraram das máscaras, a Itália pretende fazê-lo na segunda-feira (28), o Reino Unido permitiu a confraternização de volta aos pubs, uma instituição do país, e a França reabriu museus, como o Louvre, o mais visitado do planeta.
A desaceleração no número de casos e de mortes por covid-19 é confirmada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O otimismo, indiretamente, também nos contagiava - ainda que, no Brasil com altas taxas de transmissão e mortes e baixos índices de vacinação, não tenhamos motivo para tanto.
O problema é que, junto com os primeiros raios de sol do verão no Hemisfério Norte veio o balde de água fria. A variante delta, identificada pela primeira vez na Índia, ameaça o mundo com uma nova onda da pandemia.
A mutação já é predominante no Reino Unido, um dos países que maior índice de vacinação no planeta, e obrigou o governo a adiar a flexibilização das últimas restrições.
A reabertura na Europa deve sofrer atraso, em especial em países onde a nova cepa avança, como em Portugal, Espanha e França. Em Israel, nação que deu exemplo ao mundo em termos de imunização, um aspecto simbólico do revés das últimas semanas aparece em locais fechados: as máscaras, abolidas há 10 dias, voltaram a ser obrigatórias nesses ambientes.
Do lado de cá do Atlântico, nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden afirmou na quinta-feira (24) que a variante delta é a maior ameaça neste momento ao mundo e fez um apelo para os jovens se vacinarem - ela tem atingido, em especial, esse público.
Embora seja a variante mais contagiosa que já surgiu até agora - de 40% a 60% mais transmissível do que a cepa alpha -, a mutação indiana é controlável por meio das vacinas que estão no mercado. Porém, essa garantia só existe se o ciclo vacinal for completo - com as duas doses. Na sexta-feira (25), o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, afirmou que a variante delta já está presente em 85 países ao redor do mundo e que a cepa tem se espalhado inclusive em populações já majoritariamente vacinadas contra a covid-19.
Há ainda um alerta maior: a Índia anunciou ter encontrado uma mutação da variante delta - uma mutação da mutação, digamos assim - que a torna ainda mais transmissível: a chamada de delta plus, já está presente em 11 países.
No gráfico abaixo, em colorido, os locais onde a variante delta está presente. Os ícones em preto mostram os lugares da delta plus.
Veja a situação em algumas regiões
Israel
O país reimpôs na sexta-feira a obrigatoriedade, em caráter urgente, o uso de máscaras. Desde o dia 15, os casos saltaram de praticamente zero para 200. Em 70% dos casos, esses novos contágios se devem à variante delta. As autoridades não acreditam que o país esteja diante de uma quarta onda, por enquanto.
- Confiamos que a vacinação maciça evitará um aumento de casos graves com hospitalizações - disse Nachman Ash ao jornal El País.
A maioria dos novos casos é de indivíduos assintomáticos ou com sintomas leves, afetando principalmente menores de 16 anos, faixa etária em que o índice de imunização chega a apenas 5%. Máscaras voltaram a ser obrigatórias em todos os lugares fechados. O repique coincidiu com o aumento de voos vindos do Exterior, autorizados em princípio apenas para os residentes. A reabertura do turismo em grande escala foi adiada para 1º de agosto.
Oceania
Com a disseminação da variante Delta do coronavírus, a Austrália está entrando em sua fase mais preocupante da pandemia, disseram autoridades em um alerta para o país. O aumento de casos começou na semana passada, quando um motorista de limusine do aeroporto da cidade foi diagnosticado. O número de casos cresceu para 36, incluindo 11 anunciados nessa quinta-feira (24). O surto é minúsculo para os padrões globais, mas um grande problema em um país que segue uma estratégia de transmissão zero.
A Nova Zelândia também está em alerta depois que um homem de Sydney voou para a capital, Wellington, enquanto estava infectado, e passou um fim de semana visitando restaurantes e um museu. As autoridades limitaram, na quarta-feira, as reuniões na região de Wellington a menos de 100 pessoas, e as máscaras foram tornadas obrigatórias no transporte público.
União Europeia
A variante está colocando em risco os esforços para controlar a pandemia.
- Até o fim de agosto, ela representará 90% de todos os vírus sars-coV-2 circulando na UE - disse Andrea Ammon, diretora do Centro Europeu para a Prevenção e o Controle de Doenças (EDCD)
Acredita-se como "muito provável" que a variante circule bastante na UE no verão, especialmente entre os mais jovens, que não são até agora alvo de vacinação.
Um dado preocupante é que na maioria dos países são baixos os percentuais de quem recebeu as duas doses da vacina - cerca de 30% daqueles com mais de 80 anos e cerca de 40% daqueles com mais de 60 anos ainda não receberam vacinação completa. O dado preocupante é que a variante pode infectar pessoas que receberam apenas uma dose das vacinas atualmente disponíveis.
Em Portugal, a variante já é responsável por 96% das infecções. O governo retrocedeu no relaxamento das restrições, voltando a impor limites na circulação de pessoas. Proibiu, por exemplo, viagens não essenciais à região metropolitana de Lisboa aos finais de semana. Na França, as autoridades tentam conter surto na região de Landes, perto da fronteira com Espanha, onde foram confirmados 125 casos da variante. Há focos também nas regiões de Paris e em Estrasburgo. A variante já representa mais de 20% dos novos casos na Itália e 16% na Bélgica.
Reino Unido
É o país europeu sob maior risco. A variante delta representa 98% das novas infecções. O governo suspendeu o relaxamento das últimas restrições, adiando o que vinha sendo chamado de Dia da Liberdade, inicialmente marcado para 21 de junho. A data foi adiada por quatro semanas. Pessoas poderão continuar se encontrando em ambientes abertos e atividades em locais fechados que não envolvam grandes aglomerações também continuam permitidas - com uso de máscaras. A ideia era liberar boates e bares com atendimento interno. Ainda que com maior presença da variante delta, o Reino Unido é também o país europeu com maior índice de vacinação _ o que mantém o número de mortes em baixa.
Estados Unidos
Anthony Fauce, especialista em doenças infecciosas do governo americano, disse que a variante delta é a maior ameaça ao esforço dos EUA para erradicar a covid-19. Apesar de todo o avanço na vacinação, o país provavelmente não conseguirá cumprir a meta de imunizar 70% dos adultos até 4 de julho, o Dia da Independência. No país, a variante delta é responsável por uma em cada cinco novas infecções. Embora essa proporção ainda seja pequena, autoridades estão muito preocupadas que a situação do Reino Unido se repita e que possa atrasar os planos de reabertura. Na quinta-feira, o presidente Joe Biden alertou para o risco da variante delta, em discurso na Carolina do Norte.
- Por favor, se vacinem - pediu ele aos jovens.
América do Sul
Na quinta-feira (24), o Chile confirmou o primeiro caso de variante delta no país: uma mulher de 43 anos que chegou de avião dos Estados Unidos. Ela está isolada em Talca, no sul do país. O Chile é o país que mais vacina sua população, em termos proporcionais, na América Latina, mas enfrenta surtos de covid-19 especialmente na região de Santiago, onde há novos confinamentos.
Na Argentina, a variante foi detectada em um turista também procedente dos EUA. A variante predominante no país por enquanto é a Gamma, que se originou em Manaus. O Peru registra casos de variante delta em Arequipa.
Brasil
No país foram identificados até agora pelo menos 11 casos, segundo o boletim do Ministério da Saúde, que leva em conta período entre 9 de janeiro e 19 de junho. As primeiras foram em 20 de maio, em seis pessoas que chegaram ao Maranhão a bordo de um navio indiano. Houve também casos em Goiás, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e no Paraná.