Outros países como Estados Unidos e Reino Unido consideram, até o momento, vacinas contra o coronavírus que utilizam RNA mensageiro (mRNA), como as da Pfizer e da Moderna, mais seguras para aplicação em gestantes. Na Alemanha, entidades médicas pressionam o governo a recomendar a imunização desse grupo com produtos que usam essa tecnologia. Nesta terça-feira, o governo gaúcho recomendou a suspensão do uso da vacina de Oxford para mulheres à espera de dar à luz.
A avaliação se baseia no fato de haver mais informações disponíveis por enquanto sobre o uso dos imunizantes de mRNA em mulheres grávidas em comparação a produtos de outros laboratórios. A principal razão para isso é que mais de cem mil gestantes já foram vacinadas nos EUA até o começo deste mês — em sua grande maioria, com doses da Pfizer e da Moderna, sem relatos de efeitos adversos significativos.
Um estudo de grande porte, que analisou a aplicação dessas duas vacinas (que utilizam engenharia genética para induzir a resposta imunológica em vez do vírus inativado, por exemplo) em 35 mil grávidas americanas até o final de fevereiro, foi publicado em 21 de abril no New England Journal of Medicine. A pesquisa informa que, preliminarmente, não foram observados riscos à saúde. A conclusão, porém, aponta a necessidade de realizar análises ainda mais abrangentes e com prazos maiores de observação.
O Centro de Controle de Doenças (CDC, da sigla em inglês) dos Estados Unidos segue monitorando eventuais efeitos adversos entre essa população específica. Conforme o mais recente relatório do órgão americano, até 3 de maio, pouco mais de 106 mil gestantes já haviam recebido ao menos uma aplicação nos EUA.
Embora o CDC siga coletando informações, a conclusão até agora é de que as mulheres que vão dar à luz ou que recém tiveram filhos podem continuar se imunizando com as três opções em uso no país: Pfizer, Moderna ou Janssen. Há uma segurança maior envolvendo os dois primeiros laboratórios porque formam a grande maioria das vacinas já aplicadas no país.
Conforme o site do governo americano que monitora o avanço da campanha contra a covid-19, até esta terça-feira (11), foram imunizados 59,5 milhões de americanos com doses da Pfizer, 47 milhões da Moderna e 8,9 milhões da Janssen. Ou seja, mais de 90% das doses oferecidas foram de produtos de mRNA, o que fornece uma amostra muito maior para análise.
Além disso, a aplicação da Janssen chegou a ser temporariamente interrompida após relatos da formação de coágulos no sangue. O uso do produto foi retomado em razão da raridade desse tipo de ocorrência, mas o CDC observa às gestantes, em suas recomendações oficiais, que “em outras vacinas disponíveis contra a covid-19 (Pfizer/BioNTech e Moderna) esse risco não foi observado”.
Como resultado dessas avaliações, o Sistema Nacional de Saúde (NHS, da sigla em inglês) do Reino Unido, onde foi criada a vacina de Oxford, passou a recomendar que as grávidas se vacinem — mas dá oficialmente preferência aos produtos da Pfizer e da Moderna até que mais estudos sejam feitos envolvendo a substância desenvolvida em parceria com a AstraZeneca.
A orientação no site do NHS, em uma página atualizada dia 29 de abril, diz: “É preferível que você tome a vacina Pfizer/BioNTech ou da Moderna. Isso porque elas foram utilizadas de forma mais ampla durante a gestação em outros países e não provocaram problemas de saúde”.
— Há mais dados da vida real dos Estados Unidos em relação à Pfizer e à Moderna para mulheres que estão grávidas. Por isso, recomendamos preferência por essas — declarou o integrante do comitê inglês de imunização Wei Shen Lim, ao portal Health Europa dia 19 de abril.
OMS: “quando o benefício supera os riscos potenciais”
A Organização Mundial da Saúde (OMS) observa que ainda há “poucos dados para avaliar a segurança das vacinas durante a gestação”. O órgão internacional recomenda, como linha geral, que as grávidas sejam vacinadas “quando o benefício supera os riscos potenciais” — como em casos em que estão sob risco elevado de exposição ao vírus (como profissionais de saúde) ou com comorbidades, e levando em consideração a situação epidemiológica onde se encontram.
Em um seminário virtual na semana passada, representantes da OMS mantiveram essa orientação geral, mas ressaltaram que gestantes têm mais risco do que outras mulheres de necessitar de internação em UTI caso contraiam o coronavírus — e que a doença também amplia o risco de parto prematuro.
Ainda há dúvidas sobre possíveis efeitos dos imunizantes durante a gestação porque, por razões de segurança, mulheres grávidas não foram incluídas nos ensaios clínicos que resultaram na autorização das vacinas já disponíveis.
A situação em outros países
Alemanha
É um dos países europeus mais reticentes em relação à vacinação de gestantes contra a covid-19. Em 21 de abril, o comitê de vacinação recomendou que apenas grávidas com maior risco de complicações pelo coronavírus deveriam receber as doses em razão da falta de estudos mais exaustivos sobre eventuais efeitos negativos. Mas um conjunto de 11 entidades médicas alemãs publicou um manifesto sustentando que já há informações suficientes sobre a segurança dos imunizantes de mRNA.
Estados Unidos
Oficialmente, o Centro de Controle de Doenças (CDC) informa que “gestantes ou puérperas podem tomar qualquer vacina autorizada” no país (Pfizer, Moderna e Janssen). Porém, a nota de orientação às mulheres indica que a aplicação da Janssen já foi interrompida após raros relatos sobre formação de coágulos, e destaca que as opções da Pfizer e da Moderna "não foram relacionadas a um maior risco". O governo americano segue coletando dados sobre a vacinação em gestantes.
Reino Unido
A recomendação do sistema de saúde do país diz: “se você está grávida, ou pensa que poderia estar, pode tomar a vacina contra a covid-19. Você será chamada quando chegar a vez da sua faixa etária, ou antes disso se tiver um problema de saúde ou outra razão que a torne admissível. É preferível que você tome a vacina Pfizer/BioNTech ou da Moderna. Isso porque elas foram utilizadas de forma mais ampla durante a gestação em outros países e não provocaram problemas de saúde”.
Israel
Foi um dos primeiros países a recomendar a vacinação das gestantes, ainda no começo do ano, após o aumento no número de grávidas que tiveram complicações de saúde por conta da covid-19. A prioridade era das mulheres com maior risco de exposição com complicações de saúde. O país estruturou seu esquema de vacinação com o produto da Pfizer, mas também estabeleceu acordo com a Moderna (ambas de mRNA).