Após sofrer com a falta de vacinas para a segunda dose da CoronaVac, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Porto Alegre decidiu se prevenir e, mesmo contrariando orientação do Ministério da Saúde, reservou metade das doses recém-chegadas da Pfizer para a aplicação do reforço no prazo de 21 dias recomendado pela fabricante. Para especialistas consultados por GZH, a saída adotada pela Capital oferece mais segurança à população no combate ao coronavírus.
Um informe técnico do ministério divulgado no domingo (2) reafirmou que o prazo para oferecer a dose complementar dos produtos da Pfizer/BioNTech repassados no dia seguinte ao Estado deve ser de três meses. Além disso, desde março, o governo federal vem orientando Estados e municípios a não guardar frascos de imunizantes. A intenção das medidas é acelerar o avanço da imunização com pelo menos uma aplicação.
O diretor da Vigilância em Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter, afirma que a decisão da prefeitura de seguir outra estratégia tem como objetivo garantir as doses necessárias para que o reforço seja aplicado no intervalo chancelado em bula pelo laboratório, sem risco de desabastecimento. Cidades de todo o país enfrentam, nas últimas semanas, dificuldades de estoque para completar o esquema vacinal com a CoronaVac por atrasos nas remessas.
Na manhã desta quarta-feira (5), cerca de 19 mil doses da Pfizer foram armazenadas em um ultrafreezer da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) — 16 mil para a aplicação do reforço e o restante para completar a previsão de primeiras doses nos próximos dias.
Para o virologista e professor da Universidade Feevale Fernando Spilki, a decisão da SMS está correta sob o ponto de vista científico.
— Tendo em vista o que ocorreu com a liberação precipitada do uso da CoronaVac e o atraso que agora se vive para aplicação da segunda dose, a medida da prefeitura de Porto Alegre é acertada. É preciso que não se repita esse erro do passado e, mais do que tudo, respeitar o protocolo preconizado pelo fabricante — analisa Spilki.
O governo federal sustenta que se baseia em estudos realizados no Reino Unido, onde os imunizantes foram aplicados em intervalos maiores. O epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry observa, porém, que os estudos não foram respaldados pelo laboratório, e que diferenças no perfil populacional e na presença de variantes do vírus em circulação podem fazer com que o resultado obtido em um país não seja exatamente o mesmo em outro.
— Precisamos respeitar as resoluções dos fabricantes. Os estudos que dão origem às vacinas são ensaios clínicos randomizados, controlados. É diferente desses estudos britânicos, não endossados pela Pfizer, por que se aplicam à população de lá, com estrutura etária, comportamento social, clima e variantes do vírus diferentes — observa Petry.
Para Spilki, a melhor receita de imunização a ser seguida é aplicar o mais rápido possível as doses necessárias no intervalo estipulado com base científica:
— No sentido de otimizar a imunização da população, fazer com que se possa, o mais breve possível, sentir em mais faixas etárias o efeito benéfico das vacinas, deve se adotar o esquema vacinal mais eficaz possível e garantir por compra e remessa a reposição dos estoques. Nenhuma solução paliativa pode ser comparável à ideal.
Questionada por GZH sobre a adoção de estratégia própria na Capital, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) respondeu, por meio de nota, que “conforme informe técnico do Ministério da Saúde, o intervalo da vacina Pfizer deve ser de 12 semanas. A Secretaria da Saúde do RS recomenda que os municípios sigam as diretrizes do MS (Ministério da Saúde)”.
Segundo Fernando Ritter, até o momento a Capital não recebeu nenhuma solicitação oficial da SES ou do ministério para alterar seus procedimentos em relação ao processo de imunização.