Mesmo após ter vacinado idosos e funcionários, dois asilos registraram surtos de covid-19 nas últimas três semanas no Rio Grande do Sul. Os casos ocorreram nos municípios de São Luiz Gonzaga e São Borja. Conforme levantamento de GZH, até esta quarta-feira (19), oito idosos haviam morrido em decorrência de complicações provocadas pela doença.
As mortes mais recentes ocorreram no hospital de São Luiz Gonzaga, no Noroeste do RS. Conforme o diretor técnico da instituição, o neurologista José Renato Grisólia, três mortes de moradores do Lar do Idoso São Vicente de Paula foram confirmadas até a terça-feira (18). As vítimas são um homem de 90 anos e duas mulheres, de 80 e 81. O local teve um surto de covid-19 confirmado em 7 de maio. A primeira e a segunda mortes ocorreram no dia anterior, de uma idosa de 80 anos e um homem, de 77.
— Os óbitos foram de pessoas com idades avançadas e comorbidades. Eram acamados, com quadros de sequelas de AVC (acidente vascular cerebral), demência, cardiopatia isquêmica e diabetes, por exemplo — afirma Grisólia.
O médico avalia que o surto já pode ser considerado encerrado, pois os primeiros sintomas foram percebidos em 30 de abril. Ao todo, ao menos 64 pessoas, entre idosos e funcionários, testaram positivo para o coronavírus. O asilo informou que os idosos foram vacinados com duas doses da CoronaVac entre janeiro e fevereiro deste ano.
— O resultado desse surto seria uma catástrofe caso não tivéssemos a vacina. Os funcionários que se contaminaram, por exemplo, foram todos com casos leves. São pessoas mais jovens e, se apresentam comorbidades, não são tão graves. Acreditamos que, no caso dos idosos, o sistema imunológico pode não desenvolver uma resposta vacinal tão boa quanto uma pessoa mais jovem — opina o médico.
Procurado, o Instituto Butatan, que produz a CoronaVac no Brasil, disse que pessoas podem desenvolver a doença mesmo tendo sido vacinadas, mas que isso "é exceção à regra" (leia a íntegra abaixo).
"É prematura e temerária qualquer afirmação sobre hospitalizações ou óbito pela covid-19 de pessoas vacinadas contra a doença, uma vez que cada caso, individualmente, deve passar obrigatoriamente pelo processo de investigação, que não considera apenas a imunização de forma isolada, e sim o conjunto de aspectos clínicos, como comorbidades e outros fatores não relacionados à vacinação", diz a nota.
As hipóteses de como o vírus chegou ao asilo são através de algum funcionário ou por uma das vítimas, que pode ter sido o primeiro infectado. O paciente havia se mudado para o asilo oito dias antes e morava com um casal de cuidadores.
— É difícil de fazer esse mapeamento de como ocorreu a infecção. No caso desse idoso, por exemplo, ele apresentou todos os exames exigidos, inclusive o negativo para a covid — disse a enfermeira Karol Comassetto Hamerski de Morais, responsável técnica do asilo.
O diretor técnico do hospital de São Luiz Gonzaga confirmou que os casos têm relação com a presença da variante P.1 do coronavírus. A nova variante foi identificada em uma amostra coletada de uma funcionária do lar.
— O Estado demora para fazer essa confirmação. Por isso, o município optou em pagar um exame particular de genotipagem do vírus. Essa nova variante causa preocupação, pois por onde ela passa, eleva o número de casos e, consequentemente, o de óbitos — destacou o médico.
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) disse, sobre o caso de São Luiz Gonzaga, que três amostras de pessoas positivas para o coronavírus foram selecionadas para envio à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com o intuito de análise da variante responsável pelas infecções. Sobre a análise do laboratório privado, a pasta informou que "não tem ciência, até o momento", e destacou que existe um fluxo pré-determinado do envio para o laboratório de referência nacional para esse exame.
Três óbitos em São Borja
Duas mulheres de 90 anos e um homem, de 79, residentes do Asilo São Vicente de Paulo, em São Borja, na Fronteira Oeste, morreram vítimas da covid-19 na última semana. O lar registrou um surto da doença, que foi confirmado pela prefeitura em 8 de maio.
Conforme a tesoureira do asilo, Mara Rúbia Cassanego, foram confirmados 58 casos de coronavírus em idosos e 11 funcionários. Idosos que não testaram positivo para a doença seguem isolados em uma ala separada.
— Oito idosos seguem hospitalizados no município. Os óbitos que foram registrados são de pessoas que apresentavam uma condição bastante debilitada — informou.
O último boletim epidemiológico do governo do Estado, do dia 11 de maio, aponta que os surtos notificados em Instituições de Longa Permanência para Idosos representaram 50,8% do total já identificado (encerrados e em investigação). Isso representa 778 surtos entre os 1.341.
Atualmente, 157 surtos estão em investigação (quando não passaram ao menos 15 dias desde o último caso) — sendo 12 em asilos (7%).
Leia o posicionamento do Instituto Butatan:
É prematura e temerária qualquer afirmação sobre hospitalizações ou óbito pela COVID-19 de pessoas vacinadas contra a doença, uma vez que cada caso, individualmente, deve passar obrigatoriamente pelo processo de investigação, que não considera apenas a imunização de forma isolada, e sim o conjunto de aspectos clínicos, como comorbidades e outros fatores não relacionados à vacinação.
Vacinas salvam vidas, e a adesão às campanhas e à imunização de rotina sempre foi, é e será fundamental para que evitar que pessoas adoeçam ou morram por doenças preveníveis. Assim, é importante que a população siga se vacinando.
A vacina do Butantan contra COVID-19 é segura e eficaz, indicada para indivíduos acima de 18 anos com o objetivo de prevenir o agravamento de infecções pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2).
A resposta imune (proteção) requer a aplicação de duas doses no intervalo previsto em bula (de 14 a 28 dias) e não representa uma “barreira” para a infecção, sendo, portanto, essencial manter os protocolos não farmacológicos de prevenção, como distanciamento social, uso de máscaras e higienização.
Em relação à vacina, necessita-se de algumas semanas para que seja obtida uma resposta imune (proteção) adequada após as duas doses.
Algumas pessoas podem ainda desenvolver a doença mesmo tendo sido vacinadas, mas isso é exceção à regra.
O imunizante previne de complicações provocadas pela Covid, atuando de forma similar à vacina contra o vírus Influenza, que protege contra as complicações da gripe.
A vacina é feita a partir do vírus inativado, proporcionando resposta imune sem causar a doença.
A eficácia e a segurança da vacina do Butantan foram comprovadas por meio de testes clínicos de fase 3 realizados com 12,5 mil voluntários em 16 centros de pesquisa brasileiros, e pela Anvisa, órgão regulador nacional que autorizou o uso emergencial do imunizante.