As 251,2 mil doses de CoronaVac que começam a ser distribuídas nesta quarta-feira (19) aos municípios gaúchos não devem ser suficientes para completar o esquema vacinal da população em atraso em pelo menos oito cidades consultadas por GZH.
Porto Alegre sinalizou o déficit ainda na terça (18), quando os dados da Vigilância em Saúde do município apontavam a necessidade de mais de 80 mil doses. A Capital, no entanto, deve receber 37.590 doses.
A situação se repete em alguns municípios do entorno de Porto Alegre. Cachoeirinha, por exemplo, vai receber metade dos imunizantes necessários para completar o esquema vacinal da população: são 2.650 doses para atender as mais 5,3 mil pessoas em atraso.
— O problema é que a informação que vem tanto do Ministério da Saúde quanto do governo do Estado é de que chegariam as doses suficientes para zerar a fila. Isso não é verdade. E a pressão da população vai em cima da prefeitura, parece que não estamos organizados, o que não é o fato — argumenta Miki Breier, prefeito de Cachoeirinha.
Na Região Metropolitana, pelo menos outros quatro municípios estão na mesma situação. Esteio vai receber 2.050 doses, enquanto há 6.060 pessoas em atraso, ou seja, 33,8% da necessidade. Sapucaia do Sul tem 5,3 mil em atraso e terá 2.880 doses disponíveis (54%). São Leopoldo vai receber 4.680 vacinas e tem 5,2 mil pessoas com mais de 28 dias entre doses.
Em Novo Hamburgo, a Secretaria Municipal de Saúde enfatiza que a quantidade de doses de vacina CoronaVac enviadas pelo governo do Estado nesta quarta-feira não será suficiente para zerar a fila pela segunda aplicação do imunizante na cidade. Desde sexta-feira, o município recebeu um total de 8.350 doses de CoronaVac para um público estimado em 15 mil pessoas aguardando a segunda aplicação.
— Só teremos o quantitativo exato de falta à medida que avançarmos nos públicos que aguardam a segunda dose — explica Naasom Luciano, secretário municipal de Saúde de Novo Hamburgo e vice-presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems/RS).
O secretário lembra que a diferença nos números é resultado da quebra de até 20% nas doses enviadas pelo Instituto Butantan e principalmente em razão de o público-alvo vacinado ter sido sempre superior ao estimado pelo Ministério da Saúde.
— Estamos notificando a Secretaria Estadual de Saúde sobre essa diferença entre o público estimado e o público realmente vacinado. Entre os profissionais de saúde e idosos acima de 60 anos, por exemplo, há uma diferença de 7,3 mil pessoas a mais em relação ao número estimado pelo Ministério da Saúde — explica o secretário.
Em relação à quebra no número de doses por frasco, Naasom lembra que Novo Hamburgo foi o primeiro município a notificar o Ministério da Saúde. Segundo a notificação, frascos com 10 doses estavam rendendo apenas oito ou nove a partir do momento em que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o Butantan a reduzir a quantidade de imunizante por frasco, em março. A Anvisa verificou a situação e não encontrou problemas.
No sul gaúcho, a chegada de 8.520 doses da CoronaVac também não será suficiente para fechar o esquema vacinal, conforme a Vigilância em Saúde de Pelotas. Embora não tenha um dado atualizado sobre as doses em atraso, a estimativa é de que, para completar a imunização de todos com 60 anos ou mais, seria preciso mais 10 mil doses. Cachoeira do Sul e Santiago, na Região Central, ficarão com déficit de 500 doses, cada.
A Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal), que é presidida pelo prefeito da Capital, Sebastião Melo, se manifestou sobre o tema na tarde desta quarta-feira. Em nota, a entidade afirmou que a mais recente remessa de doses da CoronaVac não será capaz de zerar o déficit de segundas doses da vacina nos municípios da Região Metropolitana. Um levantamento conduzido pela associação aponta que, para colocar em dia o esquema vacinal dos indivíduos dos 19 municípios associados, seriam necessárias 162.090 doses. No entanto, foram recebidas apenas 79.890, de forma que, para suprir a demanda, seria necessária nova remessa, de 82,2 mil doses.
"A Granpal lamenta o fato e esclarece às comunidades, a fim de evitar que as pessoas procurem os postos de vacinação e saiam frustradas", disse a associação, em nota.
O que diz a Secretaria Estadual da Saúde
Em nota, a SES comentou o assunto. Confira a íntegra:
"Desde o início da campanha de vacinação da Covid-19 no RS, em janeiro de 2021, a Secretaria da Saúde (SES) distribuiu 1.647.470 doses da vacina Coronavac aos municípios gaúchos para aplicação da primeira dose em grupos prioritários, seguindo a ordem estabelecida pelo Plano Nacional de Imunizações (PNI) e conforme pactuações entre Estado e municípios (municípios representados pelo Conselho das Secretarias Municipais de Saúde, o Cosems).
Para segundas doses (D2), a SES repassou 1.650.580 doses aos municípios (a última distribuição está ocorrendo nesta quarta, dia 19).
Matematicamente, portanto, o Estado distribuiu doses suficientes para completar o esquema vacinal de todos os gaúchos imunizados com a primeira dose da vacina Coronavac.
A recomendação da SES é que os municípios apliquem as segundas doses da Coronavac recebidas nesta quarta tão logo seja possível, para garantir a imunidade completa dos cidadãos, e que registrem de forma célere todas as aplicações no SI-PNI (Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações). A partir desse registro, será possível avaliar faltas pontuais e planejar, se for o caso, remanejamento de saldos entre os municípios.
É importante, nesse sentido, que as doses de Coronavac que estão sendo distribuídas nesta quarta sejam aplicadas exclusivamente para D2 e que haja o registro imediato no sistema oficial de acompanhamento, o SI-PNI."
*Colaboraram Amanda Boeira e Frederico Feijó