O Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale, integrante da Rede Corona-Ômica BR-MCTI, divulgou informe de estudo mostrando que a primeira infecção em solo gaúcho pela variante P.1, originada mais provavelmente no Norte do país, se deu antes do que se pensava anteriormente. A análise também detectou o primeiro caso de reinfecção pelas variantes P.1 e P.2 do Sars-CoV-2, vírus causador da covid-19.
Os genomas sequenciados foram obtidos de um paciente de 39 anos, morador de Campo Bom. A primeira amostra, identificada com a variante P.1, foi coletada em 30 de novembro do ano passado, cerca de dois meses antes da disseminação dessa cepa de forma intensa no Estado, ocorrida no final de janeiro deste ano.
Segundo o coordenador da Rede Corona-Ômica BR-MCTI e professor do mestrado em Virologia da Universidade Feevale, Fernando Spilki, ainda não foi determinada a fonte exata de transmissão dessa variante ao paciente analisado. Até onde foi possível investigar, o paciente manteve contato com múltiplos indivíduos infectados nos dias anteriores à coleta do material. Na tentativa de detectar a P.1 em outras amostras no mesmo período e região do paciente, foram realizados estudos adicionais. Verificou-se, porém, que aquele foi um caso isolado.
A segunda amostra do paciente foi coletada em meados de março deste ano e apontou reinfecção, desta vez, com a variante P.2, identificada primeiramente no Estado do Rio de Janeiro. Conforme Spilki, o caso precoce de P.1 identificado não deve ter sido o causador da sua disseminação no Estado.
— A P.1 só veio a se alastrar no Rio Grande do Sul do final de janeiro em diante. Ou seja, fatores sociais como veraneio, Carnaval, entre outros, devem ter influenciado esse quadro — explica Spilki.
O pesquisador reforça o achado da reinfecção pela variante P.2.
— Por ser a primeira reinfecção detectada por essas duas variantes no mundo, o que chama atenção é que são duas variantes com algumas mutações similares na proteína Spike, o principal alvo dos anticorpos formados contra o Sars-CoV-2 — completa.
Para o virologista da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Brandão, o estudo tem embasamento científico e mostra que foram usados os métodos validados para detecção e tipificação do Sars-CoV-2:
— Dada a fraca vigilância molecular que se faz no Brasil, com um número pequeno de amostras desse vírus sequenciadas, não seria raro que a P.1 e a P.2 estivessem mais disseminadas do que se supõe, uma hipótese demonstrada na prática por essa equipe. Não é inesperado que coronavírus gerem variantes, mas elas podem vir a ser um vetor de complicação ao controle da Covid-19.
O estudo ainda está em fase de pré-print (ainda não foi revisado por outros cientistas) e deverá ser encaminhado para avaliação de pares e posterior publicação em revista especializada. A descrição completa dos resultados pode ser encontrada neste site. As sequências genômicas foram disponibilizadas em bancos de dados internacionais. A Rede Corona-Ômica BR-MCTI é uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações para monitorar a variação genética do Sars-CoV-2 no território nacional.