O açougueiro Joeser Brasil de Souza, 33 anos, voltou para casa nesta segunda-feira (19) após 18 dias internado no Hospital Centenário, em São Leopoldo, no Vale do Sinos. O paciente teve teste positivo para a covid-19 no dia 25 de março e apresentava insuficiência respiratória. Durante quatro dias, recebeu tratamento com a chamada Bolha de Respiração Individual Controlada (BRIC) — um capacete que oferece respiração artificial de forma não invasiva.
— Os primeiros sintomas da covid apareceram no dia 23 de março. Acabei me isolando da minha esposa e dos meus três filhos. Uma semana depois, um raio X apontou que 50% do meu pulmão estava comprometido e estava ainda com baixa saturação de oxigênio. Fui naS UPA do bairro Feitoria e, dali, me mandaram para o hospital — contou.
Segundo o Hospital Centenário, o paciente utilizou a bolha entre os dias 9 e 12 de abril, enquanto esteve internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O equipamento é indicado para pacientes com disfunção respiratória, com baixa saturação e ainda sem indicação para entubação. Conectada a um respirador, a bolha é utilizada por até oito horas para avaliação da resposta do paciente. Antes de ser instalada e a cada quatro horas de uso, os níveis de oxigenação são medidos e os parâmetros indicam a nova etapa de tratamento.
— Antes de optarmos pelo uso, precisamos analisar a gasometria arterial do pacientes. É um exame bem específico para verificar as trocas gasosas e, assim, avaliamos a necessidade de oxigênio extra. A bolha é utilizada num protocolo que o índice de gás carbônico circulante no sangue precisa ser a partir dos 50%. Em alguns casos, o uso pode ter evitado o processo de entubação — afirma a fisioterapeuta do Centenário, Denise Schiehll.
A BRIC é impermeável, transparente, vedada, inflável e conta com conexões respiratórias que permitem a oxigenação pulmonar, reduzindo o esforço do paciente e sem a necessidade de sedação. A instituição de São Leopoldo conta com três equipamentos, sendo que cada um é de uso exclusivo do paciente.
Antes de se optar pelo uso do capacete, é feita uma avaliação. O tratamento não é indicado para pacientes claustrofóbicos, com histórico de deslocamento de retina e sangramento de vias aéreas. Com a bolha, não é necessário utilizar sedativos e, assim, o paciente consegue manter a comunicação com a equipe médica. A fisioterapeuta detalha ainda a vantagem da utilização do equipamento em vez da máscara de oxigênio:
— Com a bolha, utilizamos a pressão positiva e o paciente não precisa de um nível de oxigênio tão alto. Conseguimos controlar a pressão dentro da bolha e diminuir o nível de oxigênio. A máscara oferecer somente oxigênio e não faz o recrutamento alveolar, que é o aumento a área pulmonar disponível para a troca gasosa.
Desempregado, o açougueiro deixou o hospital por volta das 12h30min desta segunda. Os três filhos, de três, cinco e nove anos, ainda não sabiam da novidade:
— Vai ser uma surpresa. Quando chegarem em casa vou estar esperando por eles — contou Souza.
Conforto ao paciente
A presidente do Hospital Centenário, Lilian Silva, acompanhou na área de isolamento o primeiro paciente a fazer uso da tecnologia.
— É uma possibilidade real de avançar no tratamento proporcionando maior conforto ao paciente. Toda a tecnologia que podermos absorver para beneficiar os pacientes será bem-vinda — destaca.
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) disse que não tem informações sobre a utilização do equipamento no Rio Grande do Sul. O fabricante informou que já entregou a bolha para quatro hospitais do Estado.