O comando da Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou que, até agora, seu estudo abrangente Solidarity mostra não haver evidências de que o medicamento remdesivir seja bem-sucedido para auxiliar no tratamento de pacientes hospitalizados por covid-19. A entidade notou, durante entrevista coletiva virtual, que outros estudos menores viram benefícios no uso do remédio, mas apenas em alguns subgrupos.
Cientista-chefe da instituição, Soumya Swaminathan disse que alguns estudos menores mostraram "benefícios marginais" com o uso do remdesivir. Segundo ela, a análise do medicamento continua a ocorrer, mas até agora não houve a conclusão de que seu uso poderia ser vantajoso no tratamento.
A diretora técnica da resposta da OMS à pandemia, Maria Van Kerkhove, também comentou o assunto. Segundo ela, no momento a recomendação da entidade é de que não se use o medicamento, por falta de evidência de sua eficácia.
No Brasil, o medicamento, fabricado pela Gilead, teve seu registro definitivo aprovado em 12 de março pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e é o primeiro que terá em bula a recomendação para o tratamento da covid-19. De acordo com o gerente-geral de Medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes, apesar de haver muita discussão sobre o uso do medicamento, a decisão foi tomada com base em "qualidade, segurança e eficácia". O medicamento aprovado é indicado em casos mais graves da doença, nos quais os pacientes se encontram hospitalizados e entubados.
Originalmente destinado ao tratamento do vírus ebola, o remdesivir fazia parte do coquetel experimental administrado ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, após contrair o coronavírus em setembro de 2020.
As especificidades do uso do remédio e o seu custo — que, nos Estados Unidos, onde é fabricado, passa de US$ 3 mil, o equivalente a cerca de R$ 16,5 mil — são entraves apontados por especialistas para que a aprovação da Anvisa tenha algum impacto na situação dos hospitais a curto prazo.
Aumento de casos
Em outro momento da coletiva, Kerkhove alertou para o "aumentou exponencial" dos casos da covid-19 pelo mundo em semanas recentes, voltando a enfatizar a importância de medidas como o distanciamento social e o uso de máscaras para conter o problema. Kerkhove ainda defendeu que primeiro todos os profissionais de saúde do mundo sejam vacinados, antes que se passem para outros grupos.
Swaminathan, por sua vez, falou sobre uma força-tarefa que busca expandir a produção e combater barreiras para a exportação de vacinas, de modo a acelerar a imunização pelo mundo.
Pandemia em "ponto crítico"
A pandemia de covid-19 alcançou um "ponto crítico" com infecções que crescem exponencialmente, advertiu a OMS nesta segunda-feira (12).
— Estamos em um ponto crítico. A trajetória da pandemia está crescendo de forma exponencial. Não é a situação em que queremos estar 16 meses depois do início da pandemia, quando dispomos de medidas de controle eficazes —disse à imprensa a responsável técnica na OMS pela luta contra o coronavírus, Maria Van Kerkhove.