A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou nesta sexta-feira (12) o registro do antiviral remdesivir para o tratamento de pacientes hospitalizados com covid-19. Em entrevista ao programa Gaúcha Mais, o presidente da Sociedade Riograndense de Infectologia, Alexandre Schwarzbold, disse que, do ponto de vista científico, o tratamento é eficaz na redução do tempo de internação.
— Este é um medicamento já muito discutido desde pelo menos metade do ano passado, dado que tínhamos mais de um estudo corrente tentando analisar o seu impacto. Tivemos até dados divergentes, mas se mostrou, com o tempo, que os resultados mais consistentes eram muito favoráveis ao seu uso. O único porém para que não se possa usá-lo tão rapidamente é o seu custo — pondera.
De acordo com o infectologista, a aplicação generalizada do medicamento poderia atenuar o número de hospitalizações por covid-19 no Brasil. No entanto, as especificidades do uso do remédio e o seu custo — que, nos Estados Unidos, onde é fabricado, passa de US$ 3 mil, o equivalente a cerca de R$ 16,5 mil — são entraves para que a aprovação da Anvisa tenha algum impacto na situação dos hospitais a curto prazo.
— Nosso grande problema é o tempo de hospitalização — diz, referindo-se à superlotação de UTIs em todo o país. — Mas nós teríamos que ter um número bem maior de pessoas com acesso a ele (remdesivir) para que a gente pudesse aliviar todo o sistema hospitalar.
Schwarzbold diz que há mecanismos legais para disponibilizar medicamentos caros como o remdesivir a países pobres:
— Num contexto de pandemia, existem normativas internacionais a respeito de patentes que podem ser flexibilizadas para que se libere o medicamento com preços mais acessíveis aos países pobres. Isso ocorreu muito na pandemia de HIV/aids, em que as grandes farmacêuticas de nações de primeiro mundo produziam medicamentos com preços mais elevados e que, portanto, não chegavam na maior parte dos países mais pobres. Com o tempo, houve uma redução do custo deste medicamento justamente por essa pressão e por esse respaldo legal durante uma situação pandêmica.
O medicamento fez parte de um estudo liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em mais de 30 países, no ano passado, que apontou que quatro antivirais utilizados contra a covid-19 são ineficazes: além do remdesivir, tratava de hidroxicloroquina, lopinavir/ritonavir (combinação) e interferon beta-1a. Schwarzbold frisa que o tratamento do remdesivir deve ser adotado em um momento específico, para evitar a evolução do processo inflamatório no paciente.
— Esse momento é quando os pacientes se hospitalizam e têm determinadas características laboratoriais que definem a necessidade de oxigênio. Eu diria que atualmente seria lá pelo decimo dia (de infecção). Isto vai depender de uma análise laboratorial e radiológica do paciente — argumenta.
Portanto, em um primeiro momento, a eficácia do remédio deve ser observada com cautela:
— Nós não podemos, com um medicamento caríssimo, dispensá-lo como regra em todos os hospitais, quando na verdade não temos 100% de garantia de uma evolução favorável. Isso vai depender de uma série de outros fatores de cada pessoa internada.
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