O ano de 2020 não foi marcado por celebrações. Devido à pandemia, não houve tantas comemorações, aglomerações e festas. Até mesmo os momentos de alegria foram contidos – tornou-se impossível vibrar diante do risco de colapso da saúde que o país vive em razão da covid-19. Apesar disso, eu terminei o ano com uma fagulha de esperança, já que me voluntariei para participar dos estudos da vacina contra o coronavírus do laboratório Janssen, da Johnson & Johnson.
Recebi uma dose teste da imunização em novembro. Apesar da euforia, não me sensibilizei (nem pude tirar fotos, como pedem os laboratórios). O Dia D de qualquer pessoa que participa desse estudo não é o da vacina. Depois da agulha adentrar no meu braço, o sentimento é de incerteza. Perguntas como "Era vacina ou placebo?", "Será que posso ter algum efeito colateral?" ou, simplesmente, "Será que funcionou?", não saíram do pensamento.
Como frisei – o grande dia não é o da vacina, e sim o da quebra do sigilo da imunização. Convocado para ir ao laboratório, eu estava nervoso. Preparei-me psicologicamente, tomei banho e passei perfume. Domingo, 14 de março de 2021 era o meu Dia D. Sentei-me nas cadeiras do centro de saúde e troquei conversas rápidas com as brilhantes profissionais de saúde do Grupo Hospitalar Conceição. Ao entrar em uma sala, o resultado foi revelado – a dose de novembro era da vacina!
Naquele momento, eu tive a sensação mais genuína de felicidade e paz que um ser humano pode experimentar. Uma esperança quase infantil brotou na minha alma. Eu me senti, a partir do conhecimento da ciência, mais perto do ser divino (eu sou católico, mas convido o amigo leitor a pensar em seu próprio Deus). Foi um sopro de alívio, um recado de algo que está além do nosso plano, para manter a crença em dias melhores. Saí do laboratório emocionado e alegre, como se o Brasil tivesse conquistado a Copa do Mundo, como se soubesse que viraria pai.
É claro – não pude deixar de pensar nos que partiram e não tiveram a oportunidade de ser imunizados. Entretanto, a alegria, a esperança e o sentimento de dias melhores me encorajaram. O meu Dia D foi de vitória e felicidade. O futuro será duro, doloroso e longo. Mas venceremos a covid-19.