O aumento assustador no número de casos de covid-19 em todo o país também se refletiu no estudo da vacina da Janssen do qual faço parte. Ao indicar que eu apresentava alguns sintomas que poderiam estar relacionados à doença – os participantes da pesquisa precisam preencher um aplicativo duas vezes por semana relatando estado de saúde –, fui contatada por uma médica e me foi solicitado que eu fizesse o teste de esfregaço no nariz.
Todo voluntário ganha um kit para colher, por si próprio, sua amostra nasal. Em caso de suspeita de covid-19, o participante faz a coleta e, depois, uma empresa terceirizada busca em sua casa o material. Pois o resultado deste meu primeiro teste demorou um pouco mais do que o normal para sair. Quando fui convidada a ir a uma consulta para novo teste, me explicaram que a demora podia ser resultado da alta demanda de participantes à procura de avaliação.
Alguém pode se perguntar: “Mas tanta gente apresentando sintomas em um estudo de vacina? Não deve ser boa”. A questão é que os estudos de vacina costumam ser controlados por placebo. Este é o caso da pesquisa da substância produzida pela Janssen, em que metade dos participantes não receberam o imunizante, e sim cloreto de sódio. Com a piora dos casos no país, são esses voluntários, em maioria, que devem ter relatado sintomas no estudo.
Mas só eles? Não, provavelmente, alguns que tomaram a vacina de verdade também podem ter apresentado sintomas e inclusive testado positivo. Entre esses, devem estar aqueles que apresentaram formas leves da doença. E é disso que falamos quando tentamos ressaltar a importância de estar vacinado: mesmo que a substância não apresente 100% de eficácia em evitar ser contaminado pela doença – e dificilmente alguma vai apresentar –, ela pode prevenir que um paciente desenvolva formas severas da covid-19, aquelas que têm levado milhares a UTIs de nosso país e que já ceifou a vida de quase 260 mil brasileiros.
No caso da vacina da Janssen, os estudos foram desenvolvidos em Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru, África do Sul e Estados Unidos e já tiveram resultados divulgados: 85% de eficácia contra formas graves da doença e 66% contra as moderadas.
“E afinal, o teu teste?” Deram negativos o primeiro e o segundo. Ainda não sei se recebi placebo ou vacina, acredito que assim que for aprovada para uso no Brasil, essa informação seja revelada. Enquanto isso, e mesmo depois disso: distanciamento social, álcool gel e máscara (dupla, sempre que possível).