Nesta sexta-feira (29) a Janssen, farmacêutica da Johnson & Johnson, anunciou que sua vacina contra a covid-19 tem 66% de eficácia contra casos graves e moderados do coronavírus. Em entrevista ao programa Gaúcha Mais, da Rádio Gaúcha, o infectologista e professor responsável pelos estudos do imunizante Eduardo Sprinz comentou sobre os testes com a vacina, que é aplicada em dose única, e contou quais os próximos passos previstos para a pesquisa.
De acordo com o médico, os bons resultados da vacina mostram que ela é mais uma arma no combate à pandemia e que, por sua logística, acrescenta algo “um pouco mais brilhante”, que é a oportunidade de imunizar uma pessoa com apenas uma dose do medicamento. Em relação ao cronograma, Sprinz afirmou que a Janssen irá solicitar à agência reguladora de saúde dos Estados Unidos, nos primeiros dias de fevereiro, a autorização para uso emergencial da vacina no país.
Para o infectologista, os órgãos reguladores brasileiros de pesquisa e de medicamentos receberão quase que simultaneamente a informação da vontade da Janssen de dar prosseguimento ao estudo no Brasil com a quebra de cegamento dos participantes da pesquisa:
— Não sei qual será a celeridade do processo, eu sei que com a Oxford foi um processo muito acelerado para que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberasse e aceitasse os dados e informações. Então a gente espera que isso venha a acontecer na mesma velocidade agora com a vacina da Janssen.
Sprinz ressaltou que sua vontade é que os participantes da pesquisa saibam se receberam vacina ou placebo antes do Carnaval, mas que acredita que no máximo até o final de fevereiro isso já esteja resolvido.
A vacina da farmacêutica ainda está em fase 3 do estudo, que acompanha 60 mil adultos em Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru, África do Sul e Estados Unidos. No Brasil, estão previstos 7 mil voluntários, incluindo no Rio Grande do Sul, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e no Hospital Conceição.
Durante a entrevista, o professor também explicou o que representa o percentual de 66% de eficácia e o motivo pelo qual os resultados foram inferiores na América Latina (66%) e na África do Sul (52%), em comparação aos Estados Unidos (72%). Segundo ele, provavelmente nessas localidades já existam vírus com algumas mutações que talvez a vacina não proteja tão bem.
— Quando a gente diz que uma vacina tem eficácia de 50%, deve-se imaginar que em uma população sem vacina com 10 mil casos da doença, se essa população for vacinada, haverá 5 mil casos, ou seja, uma queda de 50% — exemplificou.
Além disso, Sprinz enfatizou que uma proteção geral de 66% é um resultado muito bom e que o objetivo principal é sempre fazer com que a vacina proteja das formas moderadas e graves da doença, pois esses são os casos que necessitam de internações e que muitas vezes levam à morte.
— Se a vacina proteger contra isso, acaba a pressão sobre o sistema de saúde. E depois vêm os objetivos secundários, como a diminuição total dos casos, que essa vacina da Janssen também conseguiu — informou.
Questionado sobre a fabricação da vacina, o médico salientou que o imunizante tem uma estabilidade de três meses se ficar condicionado em uma temperatura entre 2°C e 8°C, e, por isso, a logística de distribuição não será um empecilho. Sprinz afirmou ainda que, como o medicamento foi testado no Brasil, certamente também poderá ser aprovado para utilização no país.
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Quem pode se vacinar
Com o número bastante reduzido de doses disponíveis no Brasil neste primeiro momento da fase 1 do Plano Nacional de Imunização (6 milhões em todo o país, 340 mil no RS), a prioridade para receber as doses é dos profissionais da saúde que atuam no atendimento de pacientes com coronavírus, idosos que vivem em lares de longa permanência ou acima dos 75 anos e indígenas. Ainda não há vacinação aberta em postos de saúde para demais pessoas previstas nos grupos prioritários.