O carregamento de ingrediente farmacêutico ativo (IFA) que aguardava liberação do governo da China para a produção da CoronaVac deve chegar a partir de 3 de fevereiro ao Brasil, anunciou na manhã desta terça-feira (26), em coletiva de imprensa, o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas.
Os 5,4 mil litros de IFA permitirão a fabricação de 8,6 milhões de doses da CoronaVac, segundo Covas. Há, ainda, "em processo adiantado de liberação", mais 5,6 mil litros da matéria-prima.
— Já tivemos a sinalização de que a liberação dos lotes será rápida, começando pelos 5,4 mil litros anunciados ontem e que chegarão com previsão para 3 de fevereiro. Na sequência, outro volume de 5,6 mil litros está em processo adiantado de liberação. Com esses dois lotes, totalizando 11 mil litros, regularizarmos nossas entregas ao Ministério (da Saúde) — afirmou Dimas Covas.
A partir da chegada do IFA, o Butantan precisa de cerca de 20 dias para liberar as vacinas. Outros envios da matéria-prima chinesa que chegarão até o fim de abril permitirão a entrega de 40 milhões de doses acordadas para entrega ao governo federal até este momento.
Segundo o presidente do Butantan, existe a possibilidade de uma produção adicional de 54 milhões de doses da CoronaVac, mas "isso depende de manifestação do Ministério da Saúde". Ele citou que enviou ofício à pasta solicitando a manifestação para que a fábrica paulista planeje a produção.
Neste momento, a campanha de vacinação no Brasil depende da compra de doses prontas do Exterior ou da importação do IFA para que Butantan e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) produzam os imunizantes. O país depende, portanto, da diplomacia para avançar na vacinação.
A independência brasileira na fabricação de doses, um cenário que deslanchará de vez a imunização contra a covid-19, só ocorrerá a partir do processo de transferência de tecnologia, que é quando o laboratório desenvolvedor das vacinas (no caso brasileiro, Sinovac e AstraZeneca) ensinam o passo a passo para fabricar o IFA e produzir a vacina do zero.
Isso só ocorrerá no segundo semestre, para a Fiocruz, e a partir do ano que vem, no caso do Butantan. A nova fábrica do instituto paulista responsável pela fabricação da CoronaVac deve ficar pronta apenas em setembro. O investimento foi de R$ 162 milhões, doados pela iniciativa privada sem contrapartida.
— Será uma fábrica de 11 mil metros quadrados com capacidade de produção de 100 milhões de doses ao ano. Esperamos colocar em operação no inicio do próximo ano. O Butantan ainda tem outros projetos em andamento que podem dar uma resposta à pandemia no segundo semestre — afirmou Covas, sem explicar o que é essa outra pesquisa em desenvolvimento.
Na coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), trouxe o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming. O tucano repetiu que as negociações para a liberação do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) foram conduzidas pelo Butantan e pelo governo do Estado de São Paulo, e não pelo Palácio do Planalto.
Questionado sobre a alegação frente à carta do embaixador endereça ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, demonstrando o diálogo entre China e o governo federal, Doria reduziu o gesto a uma formalidade diplomática.
— O embaixador da China é um homem profundamente educado e cioso de sua condição diplomática. Ele respondeu a uma demanda feita por escrito ao Ministério da Saúde, mas todo o relacionamento cultivado com China e Sinovac foi conduzido pelo governo de São Paulo e pelo Butantan. Chegamos à vacina apesar de todas as manifestações do presidente e de seus filhos contra a vacina chinesa, ou como eles se referem, à "vachina". Apesar dessas dificuldades, conseguimos trazer a vacina ao Brasil. Por isso colocamos aqui o embaixador da China pra participar da reunião com vocês. Até agora não recebemos nenhum centavo do Ministério da Saúde. Acreditamos que vão honrar, mas todo o investimento de maio do ano passado até agora foi suportado pelo governo de São Paulo e pelo Butantan.
O embaixador da China negou que o entrave para a liberação do IFA tenha ocorrido por questões políticas e alegou que as dificuldades eram técnicas.
— Em relação à autorização para a exportação de insumos para a vacina, acredito que todos sabíamos que isso se trata de uma questão técnica, e não política. As vacinas são uma arma para conter a pandemia e garantir a saúde do povo, não um instrumento político. A parte chinesa atribui muita importância às cooperações para o desenvolvimento da vacina — afirmou Wanming.