O prefeito Sebastião Melo cumpriu a promessa feita e o carregamento de cloroquina solicitado ao Ministério de Saúde já está distribuído em 18 farmácias distritais da Capital. Foram pedidas 25 mil doses de cloroquina — 18 mil chegaram nos postos de saúde e o montante que restou "ficou armazenado para distribuição posterior", informa a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
O sistema público de saúde de Porto Alegre recebeu as doses na semana passada, como alternativa para o "tratamento precoce" contra a covid-19. Vale destacar que não há estudos que comprovem a eficácia deste medicamento para este fim.
Segundo consta no portal da prefeitura Onde Está Seu Medicamento, todas as unidades farmacêuticas receberam 1 mil comprimidos, cada. A única farmácia que distribuiu pílulas até o momento — foram 10 — foi a Farmácia Distrital Centro. Todas as outras ainda estão com estoque cheio.
Nos postos, os pacientes encontrarão a cloroquina, e não a hidroxicloroquina. Ambas são indicadas para o tratamento da malária, de doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide, e doenças fotossensíveis. Contudo, a segunda tem menos efeitos colaterais e potencializa a ação anti-inflamatória quando comparada à cloroquina. Ressalta-se que este fármaco é contraindicado para quem já teve qualquer tipo de arritmia cardíaca, crianças, idosos, gestantes, lactantes, alérgicos a compostos da fórmula e doentes hepáticos (hepatites, cirrose). Pessoas que nunca tiveram problemas cardíacos — ou que não sabem que têm — também podem sofrer arritmias.
Cabe ao médico a decisão de prescrever ou não a substância, sendo necessária também a vontade declarada do paciente, com a assinatura do Termo de Ciência e Consentimento. Neste documento, o indivíduo assume os riscos e diz estar ciente de que não há garantia de resultados positivos e que pode haver efeitos colaterais. A retirada da substância, por sua vez, requer a apresentação do receituário médico.
Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, desta sexta-feira (29), Melo falou sobre o assunto:
— O remédio vai estar disponível na rede, deu. Se o médico quiser usar, usa. Se não quiser, não usa. Pronto. Não haverá nenhuma manifestação minha ou do secretário nem da equipe de saúde para usar, nem não usar — disse.
Durante a entrevista, em um primeiro momento, o prefeito afirmou que a cloroquina não havia chegado em Porto Alegre, depois, que ela estava disponível aos pacientes desde quinta-feira (28). A reportagem contatou novamente a assessoria de imprensa da SMS e foi confirmado que o lote das substâncias desembarcou na Capital na semana passada Foi solicitada ainda entrevista com um representante da pasta, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.
A cloroquina não apresenta eficácia comprovada no combate preventivo ao coronavírus e não tem seu uso referendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que inclusive decidiu suspender seus testes em diversos países. A reportagem questionou a SMS sobre a decisão de distribuir, mesmo assim, a cloroquina para a população. A pasta informou que "apenas disponibiliza os medicamentos. Toda e qualquer decisão ou recomendação do uso cabe ao profissional médico. A prefeitura apenas está igualando as condições da iniciativa privada que também fornece da mesma forma".
A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Associação Médica Brasileira (AMB), em nota conjunta, afirmam que "as melhores evidências científicas demonstram que nenhuma medicação tem eficácia na prevenção ou no tratamento precoce para a covid-19 até o presente momento".