Mais restritivo, o novo decreto estadual anunciado na segunda-feira (30) prevê, entre outras coisas, a proibição de permanência em locais públicos, como praias, praças e parques. Por outro lado, o texto mantém a permissão para bares e restaurantes funcionarem, ainda que com horário reduzido. As normas, que podem soar incoerentes, têm como pano de fundo a conduta da população em relação às regras em vigor, acreditam especialistas.
Rodrigo Pires dos Santos, coordenador da Comissão de Controle de Infecção do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, observa que as medidas são as mesmas de março. Entretanto, agora a adesão é mais difícil para a população, que, além de cansada da situação, vivencia uma falsa sensação de que o problema foi mitigado.
— Tudo poderia ser permitido desde que as normas fossem cumpridas. Mas o problema, que reflete nas medidas, é o comportamento das pessoas. Há uma sensação de liberdade. As pessoas estão cansadas, então, interpretam a mensagem de retomada como se estivéssemos livres da infecção, mas é exatamente o contrário — diz o médico infectologista.
Santos explica que as decisões são tomadas com base técnica e em experiências anteriores, o que justificaria o fato de a permanência nas praias estar enquadrada como proibida, enquanto alguns ambientes fechados, como restaurantes, seguirem abertos.
— Apesar de ser um ambiente ao ar livre, a prática mostrou que há risco, pois as pessoas estavam se aglomerando e sem máscaras. As normas podem parecer incongruentes, mas são embasadas no que foi visto na prática. Certamente, um ambiente fechado, como restaurante ou cinema, traz mais risco. Por outro lado, eles são bem controlados (no que diz respeito a distanciamento e número de pessoas) — complementa o médico do Clínicas.
Mais rigor
Para a infectologista Andréa Dal Bó, membro da Sociedade Rio-Grandense de Infectologia (SRGI), o grande objetivo por trás das decisões do governo de Eduardo Leite é evitar as aglomerações a partir de um perfil já identificado de novos infectados pelo coronavírus: jovens que circulam por diversos ambientes, em grupos e desrespeitando o uso de máscaras.
— Essas pessoas que estão se aglomerando estão se infectando e levando para casa, para os pais, os avós. E são os mais velhos que precisam de internação e fazem lotar os hospitais. Então, acredito que o objetivo é focar mais nessa população jovem, evitando a circulação — avalia.
Andréa é favorável ao fechamento das praias, no entanto, diz que esperava mais rigor em relação aos restaurantes, justamente por ser um ambiente fechado e que requer a retirada da máscara.
— A gente sabe que as pessoas sentam próximas, sem máscara. E, falando por mais de 30 ou 40 minutos, existe a possibilidade de contaminação. Com bandeira vermelha, devemos ser mais restritivos — opina.
A médica vai além e afirma que o governo também deveria voltar atrás nas medidas que permitem as aulas presenciais. Segundo a especialista, o número de casos de síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica tem aumentado no Estado desde que as aulas presenciais retornaram.
— Não tínhamos isso antes. É uma condição que acontece de quatro a oito semanas pós-covid-19, justamente quando voltaram as atividades — fala.
No Rio Grande do Sul, já foram confirmados 18 casos do problema. No Brasil, já são mais de 300 casos confirmados da síndrome e 23 mortes registradas pelo boletim epidemiológico de outubro.