O esgotamento de leitos privados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) verificado neste domingo (6) na Região Metropolitana é visto por especialistas em saúde como um alerta de que o Rio Grande do Sul está ingressando na fase mais difícil de combate à covid-19 desde o começo da pandemia.
Durante a tarde, 100% das 354 vagas particulares para pacientes graves estavam em uso na macrorregião metropolitana, que inclui a Capital, cidades próximas e do Litoral Norte. Esse patamar recuou levemente para 99% ao final do dia.
— Se não estamos entrando na fase mais difícil da luta contra o coronavírus, estamos muito perto disso — avisa o secretário da Saúde de Porto Alegre, Pablo Stürmer.
Conforme o site de monitoramento da Secretaria Estadual da Saúde (SES), a macrorregião onde está a Capital tinha apenas três leitos particulares de UTI disponíveis às 19h. Em Porto Alegre, a lotação da rede privada estava em 98,3%. Levando-se em conta também a estrutura do SUS, a taxa geral de uso estava em 89% conforme a Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
O problema, segundo Pablo Stürmer, é que há uma demanda maior de outras doenças concorrendo com a covid em comparação com o pico da pandemia, entre agosto e setembro.
— Mesmo que a ocupação por doentes de covid ainda esteja menor do que no pico do inverno (havia 295 pacientes graves no final da tarde deste domingo, em comparação com o recorde de 347 no início de setembro), há uma competição muito mais forte com a demanda de doentes não covid, que haviam ficado represados. É um momento de grande desafio para nós — admite o secretário.
Segundo o titular da SMS, os hospitais de Clínicas e Conceição deverão abrir mais 14 leitos cada um nos próximos dias. A SES já havia informado que está providenciando o lançamento de 190 vagas em todo o Estado.
Se não estamos entrando na fase mais difícil da luta contra o coronavírus, estamos muito perto disso.
PABLO STÜRMER
Secretário da Saúde de Porto Alegre
Para o professor de Infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alexandre Zavascki, não há dúvidas de que os gaúchos passam pelo momento de pior pressão sobre a rede de atendimento.
— Há agravantes em relação ao que já enfrentamos, como o fato de que agora a pandemia está avançando no Estado como um todo. Na primeira onda, apenas algumas regiões foram mais afetadas. Não há para onde fugir. Outro ponto é que o crescimento está ocorrendo de forma exponencial — alerta Zavascki.
O mais recente mapa preliminar do distanciamento controlado apontou 20 das 21 regiões gaúchas sob “alto risco”. O infectologista acrescenta que há um limite de profissionais capacitados para seguir ampliando a rede de atendimento, e é preciso dar conta da demanda de outras doenças que ficou reprimida durante o inverno.
Infectologista do Hospital Conceição, André Luiz Machado da Silva acredita que os hospitais do Estado só não entraram em colapso ainda porque os profissionais de saúde aprenderam a manejar melhor os doentes ao longo da pandemia.
— As UTIs só não colapsaram em razão da curva de aprendizado dos últimos meses. Hoje, manejamos melhor os pacientes em leitos de enfermaria, usando recursos como corticoides e ventilação não invasiva, antes de mandá-los para a terapia intensiva — diz Silva.
Para o infectologista do Conceição, se a população não intensificar cuidados como distanciamento social e uso de máscaras, em breve não haverá como garantir atendimento adequado a todos.