O Rio Grande do Sul tem 31,9 mil testes PCR, o mais adequado para diagnóstico de coronavírus ativo em uma pessoa, estocados e com prazo de validade previsto para vencer em 31 de dezembro, segundo a Secretaria Estadual da Saúde (SES). O estoque representa 40% do total de exames PCR realizados desde o início da pandemia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado – foram aplicados 80 mil de forma gratuita na população.
Em nível nacional, o Ministério da Saúde tem 6,86 milhões de testes PCR encalhados prestes a vencer entre dezembro e janeiro, mais do que o SUS aplicou até agora em todo o país, informou em primeira mão o jornal O Estado de S. Paulo. A descoberta causou a revolta de profissionais e gestores da Saúde – a Câmara dos Deputados chegou a convocar, na quarta-feira (25), representantes do governo federal para dar explicações. Esses testes estão parados em um galpão em Guarulhos (SP).
A diferença entre o caso estadual e o federal é que, como a SES afirma em nota, os 31,9 mil testes estão previstos para serem utilizados e analisados até o fim do ano no Laboratório Central (Lacen), que consegue processar até 800 exames por dia. A demanda excedente costuma ser enviada para laboratórios do Rio de Janeiro e do Paraná, que podem processar até 3 mil testes por dia originários do Rio Grande do Sul. Já o estoque encalhado da União não tem previsão para ser utilizado nem destino certo.
O Piratini acrescenta que, apesar da previsão de processar os testes antes do prazo de validade, “aguarda o posicionamento do Ministério da Saúde sobre a utilização dos insumos com o prazo de validade estendido, após a validação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”.
O Ministério tenta prorrogar a validade dos 6,86 milhões de exames, o que depende de aval da Anvisa. A fabricante do produto entregou na quarta-feira estudos indicando que os exames podem ser usados por mais quatro meses além do prazo de validade.
A Anvisa informou a GZH, por meio de sua assessoria de comunicação, que ainda não recebeu o pedido formal para avaliar a extensão do prazo de validade dos testes PCR estocados do Ministério da Saúde, mas que a análise será feita no menor prazo possível.
O presidente da Federação dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Maneco Hassen, diz que, se houvesse mais testes PCR, a epidemia seria melhor controlada e não seriam necessárias medidas tão restritivas para o comércio.
— A ampliação dos testes sempre foi uma reivindicação muito forte dos municípios, especialmente em momentos mais tensos de fechamento de comércio. Se tivéssemos política maior de testagem, o monitoramento da doença seria mais eficaz, haveria menos contaminação e, com isso, medidas menos danosas (à economia) — diz Hassen, que também é prefeito de Taquari.
O governo do Estado diz que os insumos recebidos do Ministério da Saúde garantem ao menos a realização de outros 70 mil exames aproximadamente para os próximos meses.
O jornal O Estado de S. Paulo aponta em sua reportagem que o Rio Grande do Sul é o 12º Estado na lista de recebimento de testes PCR, apesar de ter sexta maior população do país. Outros Estados menores também receberam mais testes do que unidades com mais habitantes.
Questionado por GZH sobre o critério na distribuição, o Ministério da Saúde diz que repassou conforme a demanda de Estados e de municípios. Também acrescentou que os exames estão prontos a serem enviados.
Procurada pela reportagem na terça-feira (24), a SES não informou quantos testes solicitou ao ministério nem se recebeu kits com insumos incompletos. A SES também não explicou se recebeu todos os insumos necessários nem se planeja solicitar testes PCR para aproveitar o estoque encalhado do governo federal.
O Piratini não informou se considera suficiente o número de exames aplicados até agora no Estado.
Porto Alegre deve pedir mais testes ao Estado
A Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre considera solicitar mais exames PCR que estão no estoque de quase 32 mil disponibilizados pelo governo do Estado. A capital gaúcha investe em testagem por PCR e já aplicou 172,4 mil exames do tipo – mais do que o dobro do que foi feito pelo governo do Estado.
Há uma política de testagem de rastreamento na qual quase 12 mil pessoas sem sintomas já foram diagnosticadas com covid-19 – eram familiares ou colegas de trabalho de pessoas que se infectaram.
— Se a Secretaria Estadual da Saúde tem esses testes e nos disponibilizar, não há dúvida de que vamos utilizá-los — afirmou o secretário-adjunto de Saúde de Porto Alegre, Natan Katz.
Leia o posicionamento do Ministério da Saúde
"O Ministério da Saúde informa que a exemplo do que ocorreu com outros lotes de testes utilizados em outros países, devem chegar ao Brasil, ainda esta semana, estudos de estabilidade estendida para os testes que a pasta tem em estoque.
A empresa Seegene, fornecedora dos testes ao MS, já está em contato com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o envio dos estudos, assim que disponibilizados pelo fabricante.
Esses estudos serão analisados pela Anvisa, que é a agência que concede o registro de utilização do produto. Uma vez concedido esse parecer técnico, o Ministério da Saúde elaborará uma nota informativa quanto à extensão da validade e segurança da utilização dos testes. (...)
O Brasil já testou mais de 10.491.142 pessoas, sendo 5.043.469 testes RT-qPCR realizados, dos 9.317.356 milhões de testes RT-qPCR distribuídos para os Laboratórios públicos dos Estados.
É importante esclarecer ainda que o diagnóstico médico para iniciar o tratamento precoce poderá ser apenas clínico-físico, podendo ainda ser clínico-epidemiológico, clínico com suporte de imagens ou clínico-laboratorial. Assim, o RT-qPCR não é a única forma de diagnóstico da doença. (...)
A pasta ressalta que nenhum teste de RT-qPCR perdeu sua validade e os mesmos estão prontos para serem utilizados conforme demanda dos estados e municípios, em consonância com a gestão do SUS, que é tripartite."
Leia a nota da Secretaria Estadual da Saúde
"Até o presente momento, a Secretaria da Saúde (SES) manteve o funcionamento integral das testagens por PCR no Laboratório Central do Estado (Lacen/RS), que começou esse tipo de diagnóstico em março. Desde lá, mais de 80 mil análises já foram realizadas no local. Os insumos recebidos do Ministério da Saúde garantem ao menos a realização de outros 70 mil exames aproximadamente para os próximos meses.
Por dia, são realizados até 800 exames no local, que em média levam até 72 horas para a liberação dos resultados. Além do Lacen, a SES conta com uma rede colaboradora com os laboratórios públicos da UFRGS, UFCSPA, LFDA-Lanagro (esses três em Porto Alegre) e HUSM em Santa Maria.
A estratégia programada para esse monitoramento da Covid-19 no Estado conta ainda com o envio de amostras para laboratórios fora do Rio Grande do Sul (no Rio de Janeiro e Paraná). Chamado de projeto Testar RS, a iniciativa já possibilitou a análise de mais de 80 mil testes encaminhados pelo Estado desde agosto.
Até esta quarta-feira (25/11), o Rio Grande do Sul já teve o registro de mais de 1,5 milhão de testes para a Covid-19, dos quais 614 mil foram pelo método de biologia molecular (RT-PCR). Além desses locais acima citados (Lacen/RS, laboratórios públicos e o Testar RS) estão aí somados todos demais testes notificados, incluindo aqueles adquiridos por prefeituras na rede privada e aqueles realizados individualmente pela população por meio de convênios ou particulares."