As toneladas de caixas empilhadas e empoeiradas com mais de 6 milhões de testes para covid-19 prestes a vencer são o retrato da equivocada estratégia do Ministério da Saúde durante a pandemia.
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro desdenhava da gravidade da doença e investia todos os esforços no uso precoce de um medicamento sem comprovação de cura, a pasta da Saúde comprava, no valor de R$ 290 milhões, lotes de testes sem saber se teria condições de distribuí-los e aplicá-los.
Mais: depois da demissão de Luiz Henrique Mandetta, que bem ou mal, tinha uma estratégia nacional e coordenada com os Estados — tanto que, quando ele saiu, os secretários de Saúde lamentaram a troca —, nunca mais houve um sinal claro de que o presidente, de fato, estava preocupado que essa engrenagem de enfrentamento à doença funcionasse bem entre o governo federal e os Estados.
O resultado está aí: um total de 6,86 milhões de testes estragando sem uso. Isso é mais do que todos os testes já aplicados pelo SUS em toda a pandemia.
É um dado estarrecedor para quem pensa na gestão da saúde e na eficiência do serviço público. Mais: não é um simples desperdício — o que já seria grave. É esforço e dinheiro empregados numa estratégia errada, a do remédio que não tem comprovação, em detrimento do modelo adotado em nações que enfrentaram bem a pandemia, a testagem em massa.