O presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), Carlos Lula, afirmou que a entidade foi pega de surpresa com a informação de que o governo federal pode ter de jogar fora 6,8 milhões de testes de covid-19 perto do fim da validade. Os testes, de RT-PCR e comprados pelo Ministério da Saúde, perdem a validade entre dezembro deste ano e janeiro de 2021. O material está estocado em um armazém do governo federal em Guarulhos, em São Paulo.
— Essa notícia é terrível, porque são mais testes a perder a validade do que todo o Brasil já conseguiu fazer até o momento na pandemia.
Carlos Lula, que também é secretário de Saúde do Maranhão, afirmou que os Estados não receberam a informação do governo federal sobre o fato.
O presidente da entidade destaca que, ao longo do combate da pandemia, o Ministério da Saúde errou na logística ao não manter equilíbrio entre insumos, maquinário e pessoal necessários para as fases que envolvem o processo de testagem do RT-PCR:
— A gente lamenta muito ter chegado a essa condição. Me parece que houve uma falta de planejamento do próprio ministério a esse respeito, porque talvez tenhamos mais testes estocados do que o próprio Brasil tinha capacidade de realizar.
O presidente afirmou que a entidade vai trabalhar para tentar resolver o problema nesta semana. Segundo o secretário, se o Ministério da Saúde tivesse adotado postura mais transparente, seria possível resolver o impasse mais cedo e com mais celeridade.
Ouça a entrevista do presidente do Conass na íntegra:
Ponderando a falta de detalhes sobre o caso, o secretário municipal de Saúde de Porto Alegre, Pablo Stürmer, fez coro ao presidente do Conass no sentido de surpresa em relação ao montante de testes estocados e com risco de perder a validade.
Stürmer reforçou toda a cadeia que envolve o teste RT-PCR, que depende, além dos reagentes, de maquinário e profissionais capacitados. Contextualizando o cenário em Porto Alegre, o secretário afirma que existem dois formatos na Capital: os testes da rede oficial, do Laboratório Central do Estado (Lacen), e os contratados pelo município.
— Desde o início da pandemia, lá no mês de abril, nós já fizemos uma contratação de laboratórios para realizar os testes e nós repassarmos os recursos referentes à execução desses testes. Então, no caso de Porto Alegre, nós temos cerca de 1,6 mil testes/dia contratados para execução e em nenhum momento durante a pandemia nós chegamos a esse limite de testagem. Ou seja, nós não tivemos falta de testes para a rede dentro da nossa recomendação.
Ouça a entrevista do secretário municipal de Saúde de Porto Alegre, Pablo Stürmer na íntegra:
Stürmer destaca que o eventual repasse desses insumos estocados ao município ampliaria apenas um pouco a produção do laboratório próprio, pois o sistema tem capacidade limitada de operação no sentido de aparelhos e recursos humanos. No entendimento do secretário, essa grande quantidade de material parado não afeta diretamente Porto Alegre, levando em conta a realidade da Capital. No entanto, ele reconhece que esse montante de insumos é importante para o país.
Questionado se o eventual repasse desse material tornaria o processo mais barato na Capital, Stürmer afirmou que essa conta é complexa, pois, dentro do valor pago pelo município atualmente no processo, já estão inclusas todas as etapas de testagem.
O secretário avalia que esses regentes seriam mais vantajosos para laboratórios públicos:
— A discussão até poderia ser essa. Será que valia a pena ter comprado reagentes para distribuir ou teria sido melhor fazer uma parceria com laboratórios privados?
Busca pela vacina
O presidente do Conass destacou que o governo federal está conversando com os Estados sobre a questão da vacina. Carlos Lula afirma que é necessário deixar de lado o debate ideológico e pensar em vacinar a maior parte da população no menor tempo possível.
Segundo o presidente do Conass, mesmo sem a estrutura ideal, todos os municípios do Brasil têm uma rede considerável de imunização, que permite a distribuição mesmo em rincões mais afastados.
Carlos Lula destaca que o segundo passo em relação à vacina só deve ocorrer a partir da definição de qual imunizante será adotado no país em razão das particularidades de cada material.
O secretário municipal de saúde de Porto Alegre afirmou que a expectativa é de conseguir começar a vacinar a população, principalmente o público prioritário, a partir do primeiro semestre de 2021.
Sobre a classificação de bandeira vermelha no modelo de distanciamento de Estado, o secretário afirmou que a gestão municipal entende que a Capital apresenta certa estabilidade no combate à covid-19, mesmo com um sinal de alerta para as próximas semanas. Stürmer destacou que o momento é de não avançar nas flexibilizações e nem das restrições.
Segundo o secretário, eventuais manutenções seguidas da bandeira vermelha no futuro poderiam prejudicar as atividades nas escolas da Capital, pensando principalmente no papel social dessas instituições.