O Ministério da Saúde informou nesta quarta-feira (25) que recebeu estudos para ampliar a validade, para 12 meses, dos cerca de 7 milhões de testes para o diagnóstico do coronavírus comprados pela pasta que vencem entre dezembro deste ano e janeiro de 2021. Esses exames RT-PCR estão estocados em um armazém do governo federal em Guarulhos (SP) e, até hoje, não foram distribuídos para a rede pública.
Segundo o secretário nacional de Vigilância Sanitária, Arnaldo Medeiros, em audiência pública na Câmara dos Deputados, o início do estudo ocorreu nesta quarta-feira. A análise foi conduzida pela fabricante do produto, o laboratório coreano Seegene. A validade dos testes é de oito meses.
A Saúde não informou por quanto tempo ainda poderá ser usado o teste, por exemplo, caso a validade seja prorrogada. A prorrogação depende de aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A diretora da Anvisa, Cristiane Gomes, afirmou que a agência fará análise técnica sobre o pedido de ampliação da validade. Ela informou que a solicitação da pasta ainda não foi feita.
Medeiros disse ainda que o prazo de validade do produto era apenas "cartorial", dado pela Anvisa para a entrada emergencial do produto no país. Mas Cristiane afirmou que o prazo de validade, na verdade, foi dado pela própria empresa.
No domingo (22), o Estadão revelou que 7,1 milhões de exames estão em um armazém do ministério, ou seja, não foram enviados ao SUS em plena pandemia. Do total estocado, 96% (cerca de 6,86 milhões de unidades) estão próximos de perder a validade
O secretário de Vigilância Sanitária falou aos deputados sobre a estratégia de testagem nacional. Ele não explicou, porém, a razão de o SUS estar distante da meta de realizar mais de 24 milhões de exames até dezembro. Segundo Medeiros, foram feitos somente 7,2 milhões.
O secretário também não citou a baixa entrega de reagentes para extração do RNA, insumo necessário para realizar a amostra laboratorial. A pasta enviou aos Estados cerca de 9,3 milhões de testes RT-PCR, mas apenas 3 milhões de reagentes de extração de RNA.
Consultor técnico do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Leonardo Vilela reforçou que os exames têm sido entregues de forma incompleta pelo ministério. Além disso, estimou que há 600 mil exames armazenados nos Estados que vencem em breve.
Considerado "padrão ouro", o RT-PCR é um dos exames mais eficazes para diagnosticar a covid-19, além de ser arma poderosa para o controle da pandemia por ajudar a localizar e isolar infectados e seus contatos próximos. A coleta é feita por meio de um cotonete aplicado na região nasal e faríngea (a região da garganta, logo atrás do nariz e da boca) do paciente. Na rede privada, o exame custa de R$ 290 a R$ 400.
As evidências de falhas de planejamento e logística no setor ocorrem em um período de aumento dos casos no país. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, assumiu o cargo justamente por sua experiência em logística, sempre elogiada pelo presidente Jair Bolsonaro.