Em meio à preocupação de que Porto Alegre esteja a caminho de uma piora na pandemia, a média de internados por coronavírus em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) da cidade neste domingo (22) chegou a 238,4 pessoas, a mais alta de novembro, mostram estatísticas da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
O cenário vem piorando aos poucos diariamente, sobretudo nas últimas duas semanas. Médicos e autoridades pedem que a população use máscaras nas ruas e em ambientes fechados e não se reúna com muitas pessoas quando fizer encontros sociais.
A média de ocupação de UTIs deste domingo é 14,3% mais alta do que em 6 de novembro, quando havia, em média, 208,6 internados em hospitais porto-alegrenses, o patamar mais baixo registrado após o pico de pandemia na capital gaúcha. O pior momento para as UTIs da capital gaúcha ocorreu na primeira semana de setembro, como mostra o gráfico a seguir.
A análise de GZH é com base na média móvel, um indicador recomendado por especialistas para realizar reflexões menos vulneráveis a variações pontuais – em vez de usar a fotografia de um único dia, observa-se o cenário da semana. Para isso, soma-se o total de internações em hospitais porto-alegrenses nos últimos sete dias e divide-se por sete. O resultado trará a média de internados por dia na cidade da última semana.
Três hospitais não haviam atualizado as informações até as 19h15min deste domingo: Porto Alegre, Pronto-Socorro e Independência.
O Hospital Moinhos de Vento segue com 100% dos leitos de UTI para coronavírus ocupados. Por mais de uma vez, a instituição suspendeu atendimento a novos pacientes por risco de não dar conta da demanda. O Hospital Santa Ana também estava lotado. O Moinhos mantém, ao longo da pandemia, todos os leitos abertos para tratar pessoas com coronavírus.
Outros hospitais fecharam temporariamente algumas vagas para conseguir atender pacientes com outras doenças cujos tratamentos não ocorreram durante o inverno. Caso a pandemia piore, esses leitos podem ser novamente usados apenas para covid-19, o que já ocorreu no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a pedido da prefeitura, mas especialistas se preocupam com a pressão das duas demandas.
Reportagem de GZH da semana passada analisou diversos indicadores da pandemia em Porto Alegre e mostrou que há sinais de que a melhora observada em outubro pode ter terminado.
Especialistas rechaçam a ideia de uma segunda onda de contágio porque o fenômeno é tipicamente europeu: o lockdown impôs uma queda acentuada nas infecções, enquanto que, aqui, manter atividades estabilizou a epidemia em patamares altos de transmissão. Preferem, no lugar, falar de uma piora da primeira onda após a flexibilização de atividades.
A deterioração de indicadores motivou a prefeitura de Porto Alegre a suspender, na quarta-feira (18), novas flexibilizações no comércio. Em nota, o Executivo municipal diz que a medida "se deve ao cenário epidemiológico apresentado nas últimas semanas, com estabilidade e possível tendência de aumento dos indicadores". Em entrevista a GZH, o secretário-adjunto de Saúde de Porto Alegre, Natan Katz, afirmou que, caso a piora continue, a prefeitura considera impor novas restrições para promover o distanciamento e evitar problemas no sistema hospitalar.
— Se a gente está em momento de alerta, não faz nenhum sentido manter a flexibilização (do comércio). Quanto mais segurança temos do controle da pandemia, mais permissivos podemos ser. Mas, se tivermos menos segurança, precisamos ser menos permissivos. Avisamos agora à sociedade: não é o momento de flexibilizar mais — argumenta Katz.
O governo do Estado também está preocupado com a piora da pandemia no Rio Grande do Sul como um todo e, por isso, decidiu antecipar a Operação Verão na saúde. A ação irá destinar verbas a cidades do Litoral para reforçar o atendimento de hospitais e postos de saúde, em meio à migração em massa de gaúchos para a praia.
A secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, chegou a alertar que os gaúchos relaxaram o cumprimento dos protocolos de distanciamento controlado e passaram a se aglomerar mais, sobretudo após o aumento das temperaturas.
— É preocupante a situação. A população tem de se cuidar — disse a secretária à colunista Rosane de Oliveira.
O receio ocorre após um novo entendimento de especialistas: se antes havia a interpretação de que o verão protegeria os brasileiros contra a pandemia, agora médicos e autoridades entendem que as aglomerações típicas do calor, com festas de fim de ano, férias na praia e reuniões em barzinhos, "anulam" os efeitos benéficos das temperaturas mais altas. Na prática, aglomerar-se ao ar livre, sem máscara, também é perigoso.