Com elevação nas internações, a prefeitura de São Paulo decidiu abrir 200 novos leitos para casos suspeitos e confirmados de covid-19 na rede pública municipal. Uma das principais hipóteses da gestão Bruno Covas para justificar o aumento é o abandono por parte da população das medidas de distanciamento social e de uso de máscaras, especialmente entre as classes média e alta e os jovens.
Há pouco mais de um mês, a capital paulista também fez uma série de novas flexibilizações da quarentena ao ingressar na fase verde do Plano São Paulo, de reabertura econômica.
Em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (19), o prefeito destacou que os números de casos e óbitos seguem estáveis na cidade, com o crescimento sendo observado exclusivamente na taxa de ocupação de leitos. Ele também atribuiu o aumento à redução na oferta de leitos exclusivos para pacientes do coronavírus na capital — que caiu de 31 para 19 a cada 100 mil habitantes —, motivada pela retomada de procedimentos não eletivos.
Outro ponto destacado pela prefeitura é a maior demanda de pacientes vindos de fora do município (eram 13% das internações por covid-19 em março, agora 20%). Nos últimos dias, o número de internados na rede municipal por covid-19 ultrapassou a marca de 900 pela primeira vez desde meados de outubro. O aumento se tornou mais perceptível há cerca de uma semana.
Às 11h desta quinta-feira, a ocupação era de 45% da UTI e de 61% em enfermaria em leitos de covid-19 na rede pública. Na rede privada, a ocupação na UTI era de 76%, segundo o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido.
A ampliação de 200 leitos abrange os hospitais municipais da Brasilândia, na zona norte, de Parelheiros, no extremo sul, e Irmã Dulce (Bela Vista), na região central. Segundo a prefeitura, não há a possibilidade de reabrir hospitais de campanha.
Na segunda-feira (16), o governo do Estado admitiu pela primeira vez um aumento na média móvel de internações, com elevação de 18% em relação à semana epidemiológica anterior. Por esse motivo, decidiu adiar em duas semanas o anúncio de novas flexibilizações nos municípios paulistas. O aumento já havia sido reportado por hospitais privados dias antes.
Covas reiterou que não há possibilidade neste momento de recuo nas medidas de flexibilização da quarentena na cidade, que permite o funcionamento de escolas, shoppings, bares, museus e outros espaços, sempre com ocupação restrita.
— Não há nenhum número que indique qualquer necessidade de "lockdown" — declarou.
Porém, também disse que "não é o momento de ampliar a flexibilização". Para o prefeito, agora é o momento da população manter (ou retomar) a adesão aos protocolos de prevenção ao contágio do coronavírus.
— A pandemia continua a existir, e a ser um desafio a ser enfrentado.
Além disso, não há a previsão de nova paralisação na realização de exames, consultas e procedimentos eletivos, como ocorreu na fase mais intensa da pandemia na cidade. Segundo dados do município de quarta-feira (18), São Paulo totaliza 387.228 casos confirmados da doença, dos quais 14.066 resultaram em óbito.
Garantia de leitos
Por causa do aumento de casos e mortes por covid-19 nos últimos dias, o governo de São Paulo determinou em decreto que os hospitais não poderão desmobilizar seus leitos voltados para o atendimento de pacientes com coronavírus.
— O governo será transparente em qualquer tomada de decisão sobre a pandemia. São 145 coletivas de imprensa com os principais membros e representantes do centro de contingência. Não há decisão política ou econômica, há decisão da saúde — afirmou o governador João Doria.
Ele explicou que após os primeiros sinais de agravamento da doença no Estado, o governo optou por cancelar a reclassificação do Plano São Paulo e adiar para 30 de novembro a próxima data.
— Também diminuímos para 14 dias o período de reclassificação. O governo reitera nosso compromisso em proteger a vida das pessoas e ser exemplo de obediência à ciência e à saúde — disse.
— Estamos perdendo vidas todos os dias no Brasil ou será que vamos banalizar isso? É muito triste. Não é o momento para fazer festa ou aglomerações. Não é hora de retirar a máscara — continuou o governador.
Além de pedir a todos os hospitais do Estado para não desmobilizar seus leitos de covid-19, a Secretaria de Saúde também propôs outra medida.
— Colocamos no decreto para não haver realização de novos agendamentos de cirurgias eletivas. Queremos garantir leitos para pacientes que possam necessitar — explicou Jean Gorinchteyn, secretário da Saúde do Estado.
— A gente percebeu que nos últimos dias houve um recrudescimento. Pequeno, mas houve. Não temos risco de falta de leitos no momento. Houve aumento de quase 20%, mas ainda estamos abaixo de ocupação de 50%. De qualquer forma, a partir de agora ninguém está autorizado a mudar leito de covid para de outra especialidade — completou João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência de Covid-19.