Correr pelas ruas ganhou novos desafios com a pandemia: agora, não basta treinamento, alimentação e tênis adequados, os corredores precisam se adaptar ao uso de máscara. Obrigatório em ambientes públicos, o equipamento de proteção individual (EPI) tem diversos materiais e apresentações, mas será que existe algum melhor para esta prática de exercício?
A resposta ainda não é precisa, afinal, poucos estudos fazem referência ao uso de máscara durante atividade física. Rafael Baptista, professor do curso de Educação Física da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), observa que, até 2019, todas as pesquisas sobre exercícios com máscaras eram limitadas àquelas que simulam altitude. Ou seja, que reprimiam o fluxo respiratório dos atletas para que eles melhorassem a performance.
— São máscaras que não têm nada a ver com as que usamos hoje. Pouco podemos extrapolar desses estudos para nossa realidade atual — fala.
Ainda assim, completa o docente, há algumas pesquisas deste ano que fazem ponderações sobre o tema. Todas elas, diz Baptista, analisam o uso das máscaras cirúrgicas e N95 — nenhuma focou nos modelos de pano, que são usadas em larga escala.
Dos tipos avaliados, o que mais interferiu no exercício foi a máscara N95, que é feita de um material mais robusto e dificulta a passagem de ar.
— Ela é mais fechada, deixa a respiração mais difícil e, consequentemente, acumula mais dióxido de carbono ali dentro. Isso interfere muito no exercício. Ela é excelente para evitar a contaminação, mas, para o exercício, é ruim — justifica o professor da PUCRS.
Já os modelos cirúrgicos, por serem mais leves, impactaram menos a atividade física, apontaram os textos.
Sobre as máscaras de tecido, embora não existam evidências científicas publicadas, o docente sugere o uso daquelas que não absorvam tanta água, evitando, dessa forma, que fiquem muito úmidas com o suor.
Baptista destaca que todos esses estudos foram feitos com pessoas sem problemas respiratórios, cardíacos e não fumantes. Todas essas condições, alerta, podem interferir na atividade com o EPI.
Recomendação médica
Andréa Dal Bó, infectologista da Sociedade Riograndense de Infectologia, reforça que, sempre que o exercício for praticado em ambientes públicos, mesmo que sem outras pessoas junto, o uso da máscara é obrigatório.
— Agora, se a pessoa for correr na esteira em um local sozinho (em ambiente fechado), pode ficar sem máscara — completa.
A médica destaca que as máscaras recomendadas são as que têm três camadas de tricoline ou duas desse material e mais uma de seda.
— Os estudos feitos são com esses materiais, que têm malha mais fechada e evita realmente a disseminação de gotículas.
Outra recomendação importante é o tempo de uso do EPI: ele deve ser trocado a cada duas horas, porém, se estiver úmido, a troca deve ser imediata. Quando úmida, explica a infectologista, ela perde sua eficácia.
Quem usa
Praticante de corrida há 15 anos, o servidor público federal Ivan Scarparo Forgearini reconhece a importância do EPI, no entanto, afirma que a atividade fica muito mais cansativa ao usá-lo.
— Eu ainda corro de óculos, é terrível, pois embaça. Então, preciso usar um esparadrapo para grudar a máscara no nariz. É ruim para respirar, mas não tem outra alternativa. Não é só você, tem as outras pessoas — conta.
Na tentativa de reduzir os efeitos negativos da máscara, Forgearini investiu em um modelo com duas válvulas que, segundo ele, facilitam a expiração.
O ator Nicolas Haag também encontrou dificuldade em se adaptar ao treino com o EPI, que ele descreve como "sufocante". Porém, para manter a atividade em dia, mexeu na duração do exercício: antes da pandemia, corria cerca de 40 minutos, agora, são apenas 20 minutos.
— Não dá para se cobrar muito. Tem que ir de pouquinho em pouquinho. Voltei a correr há um mês mais ou menos, sempre de máscara — fala.
O modelo preferido de Haag são os confeccionados com algodão e tecido sintético.
— É mais leve — justifica.
O professor de Educação Física da PUCRS recomenda que, de máscara, os praticantes de corrida reduzam a intensidade do exercício e invistam em um bom aquecimento a fim de adaptar o corpo para que ele entre mais rápido no estado estável do consumo de oxigênio.