Enquanto o presidente Jair Bolsonaro coleciona frases reforçando o descrédito na eficácia da CoronaVac por a vacina ser de origem chinesa, o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, destacou, nesta quinta-feira (22), que a origem da imunização contra a covid-19 não será critério para autorização do registro.
Produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, a CoronaVac está na fase três de testes, que têm a participação de instituições no Brasil, entre elas o Hospital São Lucas da PUCRS, em Porto Alegre. Na terça-feira (20), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, chegou a anunciar em reunião com governadores um protocolo de intenções para a aquisição de 46 milhões de doses para distribuição no país.
Menos de 24 horas depois, Bolsonaro afirmou, em visita a um centro militar da Marinha em Iperó (SP), que estava cancelando o protocolo acordado pelo ministério. Ele reforçou a decisão em mensagens nas redes sociais. Ainda na quarta-feira (21), disse, em entrevista à Rádio Jovem Pan, que a decisão de cancelar o protocolo de intenção de compra da vacina foi motivada por uma questão de "confiança" e "credibilidade". Questionado se compraria um imunizante de origem chinesa que tivesse o certificado da Anvisa, o presidente respondeu:
— Da China não compraremos. Não acredito que ela transmita segurança para a população pela sua origem. Esse é o pensamento nosso.
Na manhã desta quinta-feira, contrariando a fala de Bolsonaro, o diretor-presidente da Anvisa reforçou, durante entrevista ao Gaúcha Atualidade, na Rádio Gaúcha, que, atualmente, a produção de medicamentos é composta por fármacos de diferentes nacionalidades.
— Não faz diferença se veio de um país A, B ou C. Nós temos uma série de exigências que devem ser cumpridas e, atendidos esses requisitos, temos critérios de análise e acompanhamento minucioso. (A origem da vacina) é indiferente — explicou Torres ao Gaúcha Atualidade.
De acordo com o diretor-presidente, a Anvisa nunca recebeu um pedido de interferência por parte de líderes e governistas, "nem do presidente Jair Bolsonaro nem de ninguém".
No início desta semana, Torres foi confirmado no cargo pelo Senado. Ele já ocupava o posto como interino desde dezembro de 2019, após o fim do mandato de William Dib. Na sabatina, ele afirmou que a Anvisa liberará as vacinas contra a covid-19 no "menor tempo possível".
Sem fazer menção de contrariar as decisões do presidente, o ministro da Saúde, que está com covid-19, participou de uma transmissão ao vivo, nesta quinta, ao lado de Bolsonaro. Ambos estavam sem máscara. Pazuello foi sucinto:
— É simples assim: um manda e o outro obedece. Mas a gente tem um carinho, entendeu? Dá para desenrolar, dá para desenrolar.