O número de pacientes com coronavírus em unidades de terapia intensiva (UTIs) de Porto Alegre bateu o recorde de internações desde o começo da pandemia pelo segundo dia seguido nesta quinta-feira (6).
Depois de alcançar 324 pacientes na véspera, as hospitalizações somavam 331 casos até as 18h de quinta. A média dos últimos sete dias representa aumento de 4,1% em comparação com o período anterior. Esse cenário coincide com uma tendência de alta nas mortes na Capital.
Os dados indicam que o ritmo de avanço da pandemia nas UTIs ficou mais lento em relação ao da semana prévia, quando havia crescido pouco mais de 10%, mas mostram que ainda não há estabilização à vista.
A ocupação média nas UTIs por todo tipo de patologia estava em 89% no final da tarde, mas cinco estabelecimentos já estavam com leitos esgotados: Moinhos de Vento, Cristo Redentor, Independência, Porto Alegre e da Restinga. São Lucas e Independência não haviam atualizado suas informações diárias até as 18h.
Especialistas alertam que uma menor velocidade de aumento das internações por covid não deve servir de alento porque também pode ser, em parte, consequência do fato de o sistema de saúde já se encontrar próximo do limite de capacidade. Nessas condições, é mais custoso fazer o rodízio de pacientes nas vagas disponíveis.
O professor de Infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alexandre Zavascki observa ainda que a ampliação de 275 vagas na rede de atendimento pode dar uma falsa sensação de controle da pandemia na Capital, já que reduz o risco de um colapso iminente, mas deixa uma margem que pode ser superada rapidamente em caso de novo salto nas hospitalizações.
Zavascki sustenta que é preciso olhar para outros indicadores além da quantidade de pessoas com covid nas UTIs.
— Vamos criando mais leitos e deixando sempre uma margem de 10 pontos percentuais de folga na ocupação. Mas a ocupação das UTIs não deve ser o único marcador. Se as internações estão subindo pouco, mas as mortes estão em elevação, é um problema — diz Zavascki.
Na média dos últimos sete dias até terça-feira (4), a média diária de óbitos em Porto Alegre foi de 12,1 — o levantamento deixa de fora os últimos dois dias porque mortes mais recentes podem levar mais tempo para serem contabilizadas. Isso representa crescimento de 23% em comparação com o período anterior, quando houve, em média, 9,6 novas vítimas a cada dia. Somente na segunda-feira (3), a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) registrou 19 vítimas da pandemia.
Uma das razões para essa situação é a repetição de baixos índices de isolamento social na cidade — o que tende a aumentar a circulação do vírus, o número de contágios e a proporção de casos que se agravam. Na quarta-feira (5), o índice de isolamento ficou em 38,9%. A SMS informa que seria necessário, no mínimo, uma taxa de 55% para cortar a transmissão do coronavírus na Capital.