Às vésperas do anúncio da retomada de atividades econômicas, Porto Alegre registrou número recorde de pacientes com coronavírus em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Havia, na tarde desta quarta-feira (5), 324 pessoas diagnosticadas com covid-19 em leitos críticos da cidade.
A marca mais alta anterior havia sido alcançada nos dias 1º e 2 de agosto, quando 319 pessoas com covid-19 estavam internadas em UTIs da Capital. Embora os dados preocupem, o ritmo de hospitalizações ainda é considerado estável – a média móvel de pacientes de coronavírus (soma do número de internados nos últimos sete dias dividido por sete) subiu 3,6% na última semana. Na anterior, 11,8%.
O secretário-adjunto de Saúde de Porto Alegre, Natan Katz, admite que o cenário está longe de ser confortável, mas considera menos preocupante do que nos meses de junho e julho. À época, pelos cálculos da prefeitura, a perspectiva era de que a quantidade de pacientes dobrasse a cada duas semanas, sem as medidas de distanciamento social.
— É esperado que tenhamos dias de maior e de menor ocupação. Se olharmos a demanda na última semana, os números oscilam pouco. Durante uma pandemia, a maior apreensão sempre se dá pela velocidade dos casos — analisa Katz.
Para o secretário-adjunto, a reabertura de indústrias e comércio mostra-se inevitável devido ao impacto causado pelos quatro meses de fechamento na economia da cidade. Ele alerta, contudo, que empresários e moradores terão de retomar a rotina com responsabilidade, mantendo distanciamento e usando máscara.
Já em construção, o plano de flexibilização gradual das atividades deverá ser divulgado ainda nesta semana pelo prefeito Nelson Marchezan. O gerente de risco do Hospital de Clínicas, Ricardo Kuchenbecker, alerta, contudo, que o aparente platô na demanda por UTIs pode ser artificial.
— Nossa preocupação é que essa certa estabilidade ocorra porque estamos chegando no limite dos leitos de UTI, implicando maior tempo de espera pela perda de capacidade do sistema de absorver mais pacientes. Não por acaso, isso está acontecendo no momento em que a curva de casos é ascendente — pontua Kuchenbecker.
De acordo com o último boletim, havia 11 pacientes de covid-19 aguardando leitos críticos em emergências da cidade. Já o número recorde de doentes de coronavírus nas UTIs representa 46% do total de pessoas internadas nessas unidades em Porto Alegre. Na quarta-feira, a taxa geral de ocupação era de 88,29%.
O cenário de esgotamento nos leitos de terapia intensiva ocorre mesmo após a cidade ter implantado 275 novos leitos de UTI, em meio à pandemia. Nesta quarta-feira, o Clínicas, por exemplo, concluiu a instalação dos 105 leitos críticos previstos para atendimento a casos graves de covid-19. Já o Hospital Conceição ampliou em 55% o número de leitos em sua UTI destinada a contaminados pelo coronavírus.
— A situação realmente se estabilizou um pouco, mas não se pode comemorar. Seguimos em alerta, monitorando constantemente, afinal, ainda estamos no meio de uma pandemia. E longe do seu fim — conclui Cláudio Oliveira, diretor-presidente do Grupo Hospitalar Conceição (GHC).