Uma estimativa publicada pela Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (28) aponta que quase 7 milhões de crianças em todo o mundo podem passar a sofrer os efeitos da desnutrição por conta da pandemia.
Antes da crise da covid-19, 47 milhões de crianças estavam nessa condição, de acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Agora, o número pode atingir quase 54 milhões de crianças nos primeiros 12 meses da crise", o que "pode se traduzir em 10 mil mortes infantis adicionais por mês", principalmente nos países da África Subsaariana e na Ásia.
— Faz sete meses desde que os primeiros casos de covid-19 foram relatados e está cada vez mais claro que as consequências da pandemia estão prejudicando as crianças mais do que a própria doença — comenta a diretora-executiva do Unicef, Henrietta Fore. — A pobreza e a insegurança alimentar aumentaram. Os serviços essenciais e as cadeias de suprimentos foram interrompidos. Os preços dos alimentos dispararam. O resultado é que a qualidade do regime alimentar das crianças diminuiu e as taxas de desnutrição aumentaram — continua ela.
O Unicef se baseia em uma análise publicada pela revista médica The Lancet, na qual os pesquisadores alertam para as consequências da desnutrição ligada à pandemia de covid-19 nas crianças.
"O profundo impacto da pandemia de covid-19 sobre a nutrição de crianças pequenas pode ter consequências intergeracionais", estimam, temendo que isso prejudique "o crescimento e o desenvolvimento dessas crianças".
Esses pesquisadores fizeram estimativas para 118 países de baixa e média renda. Segundo eles, a crise alimentar causada pelo coronavírus poderia aumentar em 14,3% a prevalência de perda de peso moderada ou grave em crianças com menos de cinco anos.
Em uma carta aberta, também publicada pela revista The Lancet, o Unicef e três outras agências das Nações Unidas — Organização Mundial da Saúde (OMS), Alimentação e Agricultura (FAO) e PAM (Programa Mundial de Alimentos) — pedem ações imediatadas para conter a crise alimentar. Tais organismos estimam em US$ 2,4 bilhões as necessidades para proteger as crianças em maior risco.
"Devemos estabelecer ações e investimentos substantivos para a nutrição, a fim de impedir a crise da covid-19 e suas repercussões na fome e na desnutrição infantil", defendem essas organizações.