Se a pandemia do coronavírus fez com que mais leitos exclusivos tivessem de ser criados nos hospitais, por outro lado, outras áreas de atendimento reduziram seu fôlego. Com menos pessoas tendo de circular e com aglomerações precisando ser evitadas, a oferta reduziu em várias especialidades do Sistema Único de Saúde (SUS) na Capital. E essas mudanças afetaram o tamanho da fila de espera por consultas especializadas, que vinha numa curva descendente desde 2018.
No primeiro mês daquele ano, 92.706 solicitações aguardavam atendimento. Em janeiro deste ano, esse número estava em 39.434 – redução de 57,4%. O índice de espera chegou a cair ainda mais em fevereiro deste ano, último mês antes da pandemia, quando eram 37.150 atendimentos esperando chamado.
Já a lista de espera atualizada, referente a junho, trouxe uma fila de 42.577 pedidos – um aumento de 14,6% em relação a fevereiro e o maior patamar desde setembro do ano passado, quando eram 42.759 pedidos de consultas especializadas acumulados.
A guinada na fila, entretanto, não assusta a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). O número sempre flutua em razão de mais e mais pedidos serem adicionados todo mês. O grande desafio, no qual o município focou-se desde 2018, é melhorar a oferta de atendimentos, conseguindo fazer com a que fila não acumule tantos pedidos, como em anos anteriores, quando mais de 90 mil requisições figuravam na lista.
Com a chegada da pandemia, a SMS precisou tomar diversas medidas que reduziram o acesso dos pacientes, principalmente, para evitar exposições em casos que não são urgentes. Natan Katz, secretário-adjunto da SMS, ressalta que, mesmo que a fila esteja crescendo de novo, o número poderia já estar maior.
– Nós reduzimos parte da oferta, mas também notamos que as pessoas têm procurado menos atendimento médico, mesmo nas emergências. Um pouco disso é pelo medo de se expor nesses locais e correr o risco de contrair o vírus. E a nossa ideia é justamente preservar os usuários deste risco. Sabemos que os atendimento não podem parar, principalmente, para casos urgentes, mas quem puder esperar, nesse momento, é o melhor a fazer – cita o secretário-adjunto.
Conforme Natan, a expectativa é de que a fila ainda cresça mais nos próximos meses, já que a oferta ainda não deve ser regularizada completamente enquanto a pandemia não amenizar seus efeitos de forma considerável.
Os gargalos no atendimento
Em tempos normais, o objetivo da prefeitura é que casos prioritários sejam atendidos em até 30 dias e casos gerais em até 90. Na lista de junho, das 175 especialidades ofertadas, em 36 o tempo ainda estava acima da meta para casos gerais e em 28 para os casos prioritários. O maior problema ainda é a reabilitação auditiva para adultos – que, na maioria dos casos, trata-se da entrega de aparelho auditivo.
Em dezembro de 2019, o DG mostrou o problema. Eram 3.643 solicitações aguardando atendimento, com um tempo médio de espera de 1.123 dias. Agora, na lista de junho, o número de solicitações caiu, são 2.509. Mas o tempo de espera em casos gerais subiu para 1.314 dias.
Além da lista de consultas especializadas, o município também tem um índice dos exames requisitados todo mês. Quem lidera o índice é o exame de ultrassonografia mamária bilateral. O secretário-adjunto da SMS explica como o município pretende lidar com estes gargalos, mesmo os de consultas especializadas:
– São pontos onde ainda não conseguimos qualificar a oferta da maneira mais adequada. Buscamos constantemente isso, mas ainda temos dificuldades em alguns pontos.
As especialidades mais demoradas em junho, segundo a SMS
1º) Reabilitação auditiva adulto: 2.509 solicitações e 1.314 dias de espera, em média
2º) Polissonografia: 874 solicitações e 883 dias de espera, em média
3º) Cirurgia da obesidade mórbida: 687 solicitações e 399 dias de espera, em média
4º) Saúde mental transexualidade: 264 solicitações e 399 dias de espera, em média
5º) Neurocirurgia coluna adulto: 681 solicitações e 382 dias de espera, em média
6º) Tratamento da dor: 320 solicitações e 376 dias de espera, em média
7º) Pediatria distúrbio do desenvolvimento: 28 solicitações e 372 dias de espera, em média
8º) Saúde mental álcool e drogas: 15 solicitações e 302 dias de espera, em média
9º) Andrologia adulto: 133 solicitações e 253 dias de espera, em média
10º) Cirurgia vascular varizes: 0 solicitações e 249 dias de espera, em média