A crescente demanda por leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em Porto Alegre está levando as autoridades de saúde a pensar em alternativas para evitar o colapso do sistema. Nesta sexta-feira (17), a capital gaúcha atingiu 89% de ocupação das unidades. Os pacientes com covid-19 demandam, no momento, 35% do total de leitos de UTI da cidade. Os demais estão internados por outras enfermidades.
A previsão é de que o esgotamento do sistema possa ocorrer no final de julho. Diante do cenário de pressão, o secretário-adjunto da Saúde de Porto Alegre, Natan Katz, avalia quais ações seriam viáveis para ampliar a rede e evitar o pior. Confira abaixo:
O aluguel ou requisição de vagas de UTI em hospitais privados é possível?
Já fizemos uma consulta aos hospitais privados de Porto Alegre. O Divina Providência foi o único que nos respondeu sobre a possibilidade. Estamos verificando os valores, se eles são compatíveis. Os outros hospitais privados (Moinhos de Vento e Mãe de Deus) manifestaram não ter disponibilidade de leitos de UTI para oferecer. Se formos olhar os hospitais privados, eles também estão lotados. Estamos conversando com o Divina Providência, mas não tem muita margem, estamos falando de um possível acréscimo de 10 ou 15 leitos, não mais do que isso. Hoje o prefeito se reuniu com diretores de hospitais públicos e privados, e o pedido para ambos foi de ampliação dos leitos. Talvez tenhamos mais informações na semana que vem.
A transferência de pacientes de Porto Alegre para outras regiões do Estado, menos pressionadas, é viável? Isso está em discussão com a regulação de leitos da Secretaria Estadual da Saúde?
A Secretaria Estadual da Saúde tem uma nota técnica referenciando que, quando uma região ultrapassa 90% de ocupação (dos leitos de UTI), ela poderia ter a transferência para regiões menos pressionadas. Isso é algo possível e até desejável, mas não vimos nenhum movimento da secretaria de Estado para fazer isso. Acaba não sendo da nossa competência. Hoje, a nossa taxa de pacientes não residentes em Porto Alegre varia entre 40% e 60%. São números da média histórica e que estão se repetindo na covid-19. Se uma parte desses pacientes da Região Metropolitana não viesse para cá, indo para outras regiões, sem dúvida reduziria a pressão no sistema. Sabemos da responsabilidade de Porto Alegre, não queremos fugir disso, mas tem aumentado a demanda. Temos recebido pacientes de Canoas, de Novo Hamburgo. Isso não é errado, mas é viável eles irem para outras regiões.
Montar um hospital de campanha com leitos de UTI, em tempo recorde, é opção?
Não nos falta espaço para leitos de UTI, o problema não é espaço. Também não nos faltam os respiradores. O problema é insumo e equipe. Hospital de campanha só atrapalharia porque não é só o leito. Tem a estrutura de materiais, exames. A gente nunca pensou em hospital de campanha, nunca achamos adequado. Conseguimos expandir os leitos nas estruturas hospitalares, mas os problemas maiores são recursos humanos e, agora, entrou junto a questão dos medicamentos. No Hospital de Clínicas, o consumo de uma medicação para deixar uma pessoa sedada aumentou em sete vezes de março até hoje.
Importar missões de profissionais da saúde de outras regiões do país está em discussão com o Ministério da Saúde? Isso foi feito para aliviar a pressão sobre os profissionais de Manaus, mais no início da pandemia. Considerando a exaustão dos profissionais locais e a dificuldade para contratar, seria opção para Porto Alegre?
A gente tem feito essa sondagem. Não fizemos oficialmente, mas estamos sondando a possibilidade de importar profissionais. Pode ser um caminho. Entretanto, temos demanda crescente de leitos no resto do país, não sabemos se isso é viável no curto prazo. Quando tivemos a pandemia em Manaus, os outros lugares estavam com baixa utilização, foi mais fácil levar pessoas para lá. O momento é diferente agora. São Paulo tem muitos recursos humanos, mas o interior do Estado está demandando bastante ainda. Esse movimento, da outra vez, foi capitaneado pelo Ministério da Saúde. Não sei se eles fariam isso novamente. Estamos estudando ainda, até porque o vínculo (de profissionais importados) não seria com a prefeitura. Eles seriam contratados pelo Hospital de Clínicas, pelo Grupo Hospitalar Conceição, pela Santa Casa. É algo que vislumbramos, inclusive discutimos esta semana.
Trazer para Porto Alegre profissionais de regiões do Rio Grande do Sul menos pressionadas é viável?
Acho menos viável, não temos demanda caindo no Interior. Temos demanda crescente, embora a capacidade do Interior esteja menos pressionada do que a de Porto Alegre. O Rio Grande do Sul ainda não está em momento de baixar a demanda, mais regiões estão ficando em bandeira vermelha. Acho difícil esse movimento.
Usar leitos de recuperação de pacientes de procedimentos pós-operatórios é uma opção viável?
No nosso plano de expansão para 383 leitos (terceiro teto do plano de contingência da pandemia), isso já está planejado, tanto os de pós-operatório quanto o uso de áreas de emergência.
Que outras soluções para as UTIs podem ser buscadas neste momento de pressão?
Nossa única saída é conseguir reduzir a mobilidade (das pessoas). Mesmo que continuemos aumentando a quantidade de leitos, isso, em algum momento, vai se esgotar. Não tem como aumentar leitos indefinidamente, nenhum lugar do mundo conseguiu fazer isso. Temos de achatar a curva novamente. Uma hora os leitos vão acabar.