Pela primeira vez em 10 dias, o número de pacientes com coronavírus internados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de Porto Alegre se manteve estabilizado nesta terça-feira (21).
Havia 281 doentes hospitalizados com covid-19 até as 17h, igual ao registrado na véspera pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Como resultado dessa desaceleração, o crescimento verificado ao longo dos últimos sete dias ficou em 18%, quase metade dos 30% apurados no período anterior. Especialistas alertam que ainda é muito cedo para atestar que isso representa uma mudança na tendência de crescimento vista desde o mês passado.
Apenas os hospitais de Pronto Socorro (HPS) e Cristo Redentor, que não costumam receber doentes com coronavírus, ainda não haviam atualizado suas informações diárias.
O relatório desta terça é um dado positivo, levando-se em conta que, nos 10 dias anteriores, a demanda de vagas havia subido sem parar e saltado de 202 para 281 pessoas em estado grave. Mas ainda é impossível dizer se isso representa uma tendência de estabilização, já que o recuo no ritmo de hospitalizações se concentrou apenas nesta terça-feira.
— Um dia, diante de uma epidemia, não é suficiente para fazer uma avaliação de tendência. Internações em UTI flutuam muito e podem diminuir em um dia e voltar a aumentar no outro. Permitiu dar uma respirada, claro, mas ainda estamos muito próximos do limite de atendimento — avalia o epidemiologista e consultor do Hospital de Clínicas Jair Ferreira.
A velocidade de avanço nas internações por covid-19 verificada neste mês é a principal razão que levou o prefeito Nelson Marchezan a cogitar a possibilidade de um lockdown (grau mais elevado de restrição à circulação de pessoas) nos próximos dias na Capital.
Além do recuo pontual no ritmo de hospitalizações, a terça trouxe outra boa notícia: a abertura de mais 10 vagas de UTI destinadas à pandemia na Santa Casa reduziu a taxa de ocupação no hospital de 93%, na segunda-feira (20), para 83%. Outras sete vagas serão abertas na quarta (22). O índice geral de ocupação nas alas de terapia intensiva em toda a cidade, porém, seguia elevada: 91% dos 768 leitos operacionais se encontravam em uso.
Esse patamar não é inédito para este período do ano na cidade, mas desperta preocupação por dois fatores associados: ele ocorre mesmo com um aumento superior a 240 leitos em relação ao que havia no final de março e em meio a uma rápida aceleração de demanda por conta de uma doença nova. Isso gera um risco de colapso muito maior do que em outros anos, já que boa parte dos hospitais da cidade já informou ter atingido o limite para novas ampliações.
Secretário diz que números ainda preocupam
O secretário municipal da Saúde, Pablo Stürmer, admite que os números trazem um alento, mas ainda preocupam. Para ele, o cenário atual é também reflexo das restrições mais severas de atividades na cidade dos últimos 15 dias:
— É que as medidas restritivas começam a apresentar resultados (no sistema de saúde) em 15 dias. Mas tem um ponto do lado negativo, porque a gente caminha para a saturação dos leitos de UTI. Não estamos vendo pacientes represados precisando de leitos de UTI, mas estamos chegando no limite.