Nesta terça-feira (28), cientistas relataram a existência de um novo exame de sangue que é capaz de diagnosticar a doença de Alzheimer com a mesma precisão de outros métodos muito mais caros e invasivos. Esse passo significativo para pacientes, médicos e pesquisadores de demência tem potencial de tornar o diagnóstico mais simples e acessível. As informações são do jornal The New York Times.
Segundo a pesquisa, publicada no Jama e apresentada na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer, o exame testado determinou se as pessoas com sinais de demência tinham Alzheimer em vez de outra doença. Os pesquisadores e especialistas acreditam que o teste pode estar disponível para uso clínico em até três anos e que ele também pode ser utilizado para prever se uma pessoa sem sintomas desenvolverá a doença.
— Esse exame de sangue prediz com muita precisão quem tem a doença de Alzheimer no cérebro, incluindo pessoas que parecem normais — disse Michael Weiner, pesquisador da doença na Universidade da Califórnia, em San Francisco, que não estava envolvido em o estudo. — Não é uma cura, não é um tratamento, mas você não pode tratar a doença sem poder diagnosticá-la. E o diagnóstico preciso e de baixo custo é realmente emocionante, por isso, é um avanço.
Nos Estados Unidos, quase 6 milhões de pessoas têm Alzheimer, e, no mundo, o número sobe para 30 milhões. A estimativa é que até 2050, conforme a população for envelhecendo, esse número mais que duplique. Os novos exames forneceriam esperança, já que ainda não se encontrou maneiras de tratar ou prevenir a doença.
Além disso, especialistas afirmaram que esse avanço aceleraria a busca por novas terapias, tornando mais rápida e mais barata a triagem dos participantes para ensaios clínicos — processo que demora e tem um preço elevado porque se baseia em métodos caros, como exames de PET do cérebro e da coluna vertebral.
O teste mede a forma da proteína tau encontrada nos emaranhados que se espalham pelo cérebro na doença de Alzheimer e foi extremamente preciso durante o estudo com 1.402 pessoas de três grupos diferentes na Suécia, na Colômbia e nos Estados Unidos. Seu desempenho foi melhor do que a ressonância magnética cerebral e tão bom quanto a PET ou a medula espinhal.
O professor de neurologia do Hospital Geral de Massachusetts e da Harvard Medical School, Rudolph Tanzi, e outros especialistas afirmaram que os resultados precisariam ser replicados em um número maior de pessoas, com mais diversidade racial e étnica. O teste também teria que ser refinado e padronizado para que os resultados pudessem ser analisados constantemente em laboratórios, além de precisar da aprovação dos reguladores federais.
Os diagnósticos de Alzheimer são feitos atualmente com avaliações clínicas de memória e comprometimento cognitivo, mas geralmente são imprecisos, pois os médicos têm dificuldade em distinguir a doença de outras demências. Medidas como exames de PET e medula espinhal podem detectar níveis elevados de proteína amilóide, que se acumula em placas no cérebro de pessoas com Alzheimer.
No entanto, o amilóide sozinho não é suficiente para diagnosticar a doença porque algumas pessoas com altos níveis não a desenvolvem.
— Apenas dizer que você tem amilóide no cérebro por meio de uma PET hoje não indica que eles têm tau, e é por isso que não é um diagnóstico para a doença de Alzheimer — afirmou Maria Carrillo, diretora científica da Associação de Alzheimer.
Por outro lado, o exame de sangue tau parece registrar a presença de placas amilóides e emaranhados de tau, ambos no cérebro de pessoas com Alzheimer confirmado, disse ela:
— Esse teste realmente abre a possibilidade de poder usar um exame de sangue na clínica para diagnosticar alguém mais definitivamente com Alzheimer. Incrível, não é? Quero dizer, há cinco anos, eu teria lhe dito que era ficção científica.
O teste com os exames foi 96% preciso, segundo Oskar Hansson, autor sênior do estudo e professor de pesquisa de memória clínica na Universidade de Lund, na Suécia. Segundo ele, pessoas com Alzheimer tinham sete vezes mais proteína tau, chamada p-tau217, do que pessoas sem demência ou pessoas com outras doenças neurológicas.