Com estimativa de mais de 65 mil novos casos a cada ano, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens. Quando diagnosticado em estágio avançado, as opções de tratamento são mais limitadas. Uma das mais efetivas é a castração, que, embora traga bons resultados no controle da doença, impacta na qualidade de vida masculina. O cenário levou um grupo de pesquisadores brasileiros a desenvolver um estudo para avaliar outras alternativas com efeitos colaterais menores.
Realizado em 14 centros, o estudo teve três braços: um grupo recebeu a castração combinada com comprimidos e os outros receberam apenas medicamentos — alguns pacientes tomaram dois e outros, apenas um.
— O pilar do tratamento dos casos avançados é a castração, isto é, diminuir os níveis de testosterona. É uma medida extremamente efetiva em mais de 90% dos pacientes, mas carrega consigo muitos efeitos colaterais. O estudo quis avaliar a possibilidade de tratar pacientes só com agentes hormonais visando melhorar a qualidade de vida sem castração — explica André Fay, coordenador médico do Centro de Oncologia Oncoclínicas- Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Embora os resultados obtidos não sejam uma resposta definitiva, ressalta Fay, o estudo levantou hipóteses importantes no que diz respeito ao tratamento da doença:
— Não conseguimos provar que o uso da medicação é melhor do que a estratégia usada hoje em dia, mas vimos que é grande a proporção de pacientes que conseguiram reduzir a doença sem diminuir a testosterona. O grande resultado é mostrar que, de fato, existem pacientes que podem ter o câncer controlado sem redução de testosterona. Ele gera a hipótese de que o tratamento pode ser usado em uma população específica.
Por sua relevância, o estudo foi apresentado, em maio, na reunião anual da American Society of Clinical Oncology (Asco), que em 2020 foi realizada online.
— Isso mostra a capacidade dos nossos profissionais e do Grupo Cooperativo Latino-Americano de Pesquisa em Oncologia (LACOG) de liderar pesquisa de ponta e que possa impactar no cuidado médico em todo o mundo — avalia Fay.
Impacto na qualidade de vida
Conforme o oncologista, a castração, apesar dos resultados mais efetivos, traz muitos impactos à qualidade de vida. Fora as questões socioculturais envolvendo o tema, o tratamento pode acarretar perda de libido, disfunção erétil, aumento de problemas cardiovasculares, perda de massa muscular e tendência ao ganho de peso.