Um grupo de médicos que sustentam o tratamento precoce para combater o coronavírus participou de um webinar, organizado pelo Sindivarejista-DF e mediado pelo jornalista Alexandre Garcia, na noite de quarta-feira (15). A discussão "A Importância da intervenção precoce para vencer o coronavírus - como salvar vidas e a economia" teve duração de duas horas. O encontro online contou com a participação de quatro especialistas de Brasília, a otorrinolaringologista Carine Petry, idealizadora do grupo covid-19-DF, formado por médicos que defendem a intervenção precoce no Distrito Federal, a cardiologista Alexandra Mesquita, o anestesiologista Paulo Guimarães, a otorrinolaringologista Hercília Pimenta e o infectologista gaúcho Ricardo Ariel Zimerman.
Ainda fizeram parte da mesa o empresário Carlos Wizard, a secretária de Estado de Empreendedorismo do Distrito Federal, Fabiana Di Lúcia, o vice-presidente do Sindivarejista-DF, Sebastião Abritta, e o médico militar Pedromar Melo, representando o Comitê Médico de Enfrentamento à Covid-19 do Amapá, que contou como o Estado do Norte enfrentou a pandemia ao criar um protocolo de tratamento precoce nos pacientes com covid-19 e usando, entre outros medicamentos, a ivermectina.
Os médicos que fizeram parte do debate são favoráveis ao tratamento de casos iniciais da covid-19, com o uso de medicamentos como a hidroxicloroquina associada ou não à azitromicina, cloroquina, ivermectina e outras vitaminas, dependendo do paciente, mesmo que este ainda não tenha recebido o resultado confirmando a presença do coronavírus.
GaúchaZH traz, em tópicos, os argumentos de quem defende a ideia do tratamento precoce e a visão da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) sobre o mesmo tema:
Medicina baseada em evidência e intervenção precoce
Ricardo Ariel Zimerman - infectologista
"A medicina baseada em evidências não é algo novo. É um paradigma que surgiu no Canadá na década de 1980. A população está sendo introduzida e, às vezes, está sendo introduzida de forma enviesada. Medicina baseada em evidência não é somente ensaio clínico, randomizado e controlado por placebo. É usar a melhor evidência disponível. E, durante uma pandemia, a melhor evidência é a que estamos utilizando. Todos os estudos negativos para hidroxicloroquina iniciaram o tratamento tarde demais, quando o vírus já parou de se dividir e a tormenta inflamatória se autoamplifica, independentemente da remoção do insulto viral".
O que diz o infectologista Alexandre Naime, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)
"A medicina baseada em evidência tem como base usar o melhor nível de evidência na tomada de decisão. E isso inclui ensaio clínico randomizado. Quando não há o ensaio clínico, ela pressupõe que não se faça a intervenção. E é este o conceito que o colega coloca de forma equivocada. Devemos usar evidência que demonstre efetividade. Para ivermectina e hidroxicloroquina, ou qualquer outro tratamento, existe ausência de evidência. E quando existe esta ausência, não se deve fazer a intervenção. Visto que, pela própria história natural da doença, 85% das pessoas melhorarão espontaneamente. Na verdade, cada vez mais, os estudos têm mostrado que, independentemente da fase, a hidroxicloroquina não tem ação."
Alexandra Mesquita - cardiologista
"Quanto mais rápido começar a intervenção precoce, a gente tem melhor resposta destes pacientes. Começou o sintoma e não tem exame, mas é sugestivo a covid-19, estamos habilitados a começar a intervenção precoce até sair o resultado porque o primeiro resultado deste exame pode demorar até 48 horas. Perderíamos dois dias do tratamento."
O que diz o infectologista Alexandre Naime, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)
"O perigo de intervir é maior ainda, antes da confirmação diagnóstica, porque estará expondo pessoas que podem não ter infecção pela covid-19. É uma suposta intervenção. Há efeitos colaterais destas drogas. O erro aumenta mais."
Médico Pedromar Melo - representante do Comitê Médico de Enfrentamento à Covid-19 do Amapá
"No Amapá, tratamos a despolitização do tratamento precoce. A ivermectina foi incluída no protocolo. Foi um conjunto de medidas que baixamos as bandeiras da ideologia para salvar vidas. Hoje, temos a quarta menor letalidade do país".
O que diz o infectologista Alexandre Naime, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)
"É um show de horrores começar a falar de experiências próprias, que é o que tem menos nível de evidência. Não significa que a Ivermectina funcionou no Amapá. Pode ter uma série de fatores confunditórios como, por exemplo, a covid-19 não ter chegado de forma intensa no local ou ainda não ter afetado os grupos mais vulneráveis. Ou seja, não é assim que se calcula menor impacto ou benefício da droga. É mais uma falácia que eles colocam."
Economia e saúde
Fabiana Di Lúcia - secretária de Estado de Empreendedorismo do Distrito Federal
"Não podemos pensar só em saúde, mas também em economia. Uma família que não tem alimento, que não tem renda para pagar as suas contas, ela adoece também. Uma pessoa não vai morrer só de covid-19. Não temos que tratar só o covid-19, temos que tratar a pandemia do desemprego".
O que diz o infectologista Alexandre Naime, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)
"Não tem como discordar, é um problema sério a questão econômica. Mas aí vale um pensamento "o que se coloca primeiro: a economia ou a vida das pessoas?" E é mentira que as pessoas estejam passando fome ou sem comida por conta da covid-19. A questão econômica deve ser pensada, sim, mas usar este tipo de argumento é completamente demagógico."
Lockdown
Paulo Guimarães - médico anestesiologista
"Sempre vi o lockdown como (uma forma de) aumentar o tempo de resposta para que o governo pudesse montar uma estrutura para combater o vírus e atender os doentes adequadamente. Nunca vi o lockdown como salvando vidas, mas apenas para o governo se organizar".
O que diz o médico infectologista Alexandre Naime, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)
"Está correto. O lockdown faz com que as pessoas fiquem em casa, o vírus não circule e dê mais tempo para o governo se organizar. Mas tempo é fundamental para uma doença tão grave e que não conhecemos tão bem."
Ricardo Ariel Zimerman - infectologista
"O grande problema é que ele (lockdown) não se baseou no mecanismo de disseminação do coronavírus. Na verdade, este é um modelo importado da influenza, da gripe, que tem uma disseminação diferente do coronavírus. A chave se chama coeficiente de dispersão. Na gripe, ele é próximo de 1. Todos os infectados transmitem. Numa situação extrema, até faria sentido aplicar uma medida comunitária horizontal para todos. O coronavírus é o oposto e tem um coeficiente de dispersão de 0,1. Ou seja, 10 vezes menor que o da influenza, significa que 80% das pessoas mesmo infectadas não transmitem coronavírus para ninguém. Enquanto, 20% a 30% são as responsáveis pelo grande número de casos. Não há base teórica para um lockdown horizontal".
O que diz o infectologista Alexandre Naime, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)
"É um argumento completamente mentiroso. Existe base legítima para o lockdown. É uma medida que, inclusive, tem respaldo dentro da Constituição brasileira. E ela tem como medida, principalmente, fazer com que o vírus não se transmita de forma muito rápida, evitando com que as pessoas com mais comorbidade ou de maior risco vão se infectar rapidamente, poupando o sistema de saúde. Com relação à base teórica, não só tem, como está sendo comprovada, diversos países da Europa fizeram o lockdown e estão tendo que retornar a ele porque é a única estratégia quando realmente a epidemia alcança um grande número de infectados em pouco tempo."
Ricardo Ariel Zimerman - infectologista
"A taxa de ataque secundário na comunidade é só 0,45%, a chance de pegar covid-19 porque toquei no tomate que a dona Maricota tocou é baixíssima. E dentro de casa, ao contrário, quando tem alguém doente, a transmissão passa de 30%".
O que diz o infectologista Alexandre Naime, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)
"A informação está correta."
Fechamento de escolas
Ricardo Ariel Zimerman - infectologista
"O fechamento das escolas é um dos capítulos mais tristes da pandemia. Desde o início, já dava para saber que fechar escola não seria uma boa ideia porque todos os modelos de fechamento de escola eram baseados em influenza, onde a criança é o reservatório importante, frequentemente transmite para o adulto e a criança fica muito doente. A experiência mostrava que, mesmo na influenza, quando o número reprodutivo básico, que é o número de casos secundários para cada caso primário, passa de dois, o fechamento de escola não é eficaz. Foi assim na gripe asiática, de 1957 (H2N2). A gente sabia que o número reprodutivo básico da covid-19 era de 2,5. Porque se basear em modelos de influenza, se tivemos a experiência com o coronavírus anterior, de 2002, com a SARS, que é 80% semelhante a covid-19. Naquela ocasião, fechamento de escolas em Taiwan, Singapura, Pequim e Hong Kong não reduziram um único caso".
O que diz o infectologista Alexandre Naime, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)
"Infelizmente, os dados apresentados não se baseiam em realidade. Ele (Ricardo Ariel Zimerman) alterou os dados. As crianças têm um potencial, sim, do SarsCov2, e tem um importante elo de possibilidade de infectar os seus parentes, principalmente, os mais velhos. Portanto, em todos os países que teve uma epidemia de covid-19, as escolas foram fechadas e permanecerão até que a taxa de transmissão tenha caído. Em suma, são argumentos falaciosos, de quem quer ter um ganho político, extremamente demagógico, com discurso fácil, cheio de números mentirosos e, infelizmente, sem compromisso com a verdade."
Como se pronunciaram as entidades
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), em nota, "enfatiza o artigo 113, do Código de Ética Médica (CEM), que trata de publicidade médica. O texto diz que é vedado ao médico divulgar fora do meio científico protocolos de tratamento ou descoberta cujo valor ainda não esteja expressamente reconhecido cientificamente por órgão competente".
Por meio de nota oficial, a Sociedade Riograndense de Infectologia (SRI), em conjunto com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), todas associações técnicas representativas das principais especialidades que atuam e cuidam dos pacientes com a covid-19 afirmaram que "não existe nenhuma indicação técnica, baseada em evidências clínicas, de tratamento precoce para o novo coronavírus. Existem, ao contrário, evidências de que o uso da hidroxicloroquina, independentemente da fase, não tem ação, não tem eficácia sobre o SARS-CoV-2. Sobre a ivermectina, não existe nível de evidência clínica que suporte sua indicação, ao contrário, seu uso fora das suas recomendações (off label) pode representar toxidade e risco aos pacientes. Não há nenhum estudo bem fundamentado na Medicina Baseada em Evidência que suporte o uso precoce dessas medicações, e sua recomendação como protocolo é irresponsável e deletéria. Sua promoção e divulgação por um grupo de especialistas, alheios na sua maioria ao cuidado desses pacientes, infringe o artigo 113, do Código de Ética Médica (CEM) conforme alertam o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (CREMERS), e de SP (CREMESP)."
Ainda na nota, a SRI defendeu "o isolamento social, no contexto do novo coronavírus, como estratégia mais adequada e de melhor evidência disponível, à luz das experiências asiáticas, europeias e americana, para a mitigação e o controle da disseminação viral com redução das hospitalizações. O lockdown, nesse contexto, é medida de isolamento social extrema necessária, por algum tempo, em locais com grande transmissão viral e esgotamento do sistema de saúde. Refuta ainda a falsa escolha entre atividade econômica e a segurança das pessoas". E finalizou a nota dizendo que "à medida que o tempo passa, num cenário de muitas incertezas, as histórias de sucesso e mitigação da dor foram feitas por aqueles que escolheram a vida como bem maior, usando a ciência como referência segura para protegê-la. Os capítulos mais tristes dessa epidemia, por outro lado, foram feitos pelos governos e pessoas que negaram ambas."