A deficiência de uma proteína chamada interferon (IFN) do tipo I pode ser uma das respostas para os casos graves de covid-19, sugere um grupo de pesquisadores franceses. Isso porque ela é considerada a linha de frente das defesas do organismo humano contra ataques virais. O artigo com os achados foi publicado nesta semana no periódico Science.
A descoberta foi feita depois que os pesquisadores analisaram amostras de sangue de 50 pacientes com a forma mais grave da infecção por coronavírus. Eles perceberam que, nessas pessoas, a atividade da IFN estava deprimida, enquanto outra substância, relacionada à inflamação, estava elevada. Pacientes com a doença leve ou moderada não tiveram essas alterações.
Benjamin Terrier, que assina o relatório com outros especialistas, explicou à Science que a replicação viral local sem o controle da IFN produz uma inflamação que danifica os tecidos e os "exércitos" de células imunológicas. O resultado disso tudo é uma inflamação exacerbada, que pode matar.
De acordo com os pesquisadores, foi possível observar que todos os indivíduos infectados não tinham um tipo específico da proteína (IFN-β) circulando no sangue. Por outro lado, aqueles doentes mais severos tinham a produção de outro tipo da proteína prejudicado, a IFN-α, relacionada à depuração viral.
O levantamento, no entanto, sugere que mais estudos nessa área sejam feitos para compreender se essa produção reduzida da proteína IFN tipo 1 está presente no início da infecção, ou se a produção está atrasada ou mesmo se ela se esgota após atingir um determinado pico. Tratamentos para repor a IFN associados a anti-inflamatórios, concluem os pesquisadores, podem ser um caminho para tratar os pacientes mais graves.
Um levantamento feito pela revista Science mostra que pelo menos sete instituições de saúde coordenam pesquisas com administração de interferon dos tipos I e III nos pacientes de covid-19. Na China, por exemplo, a aplicação de gotas nasais de IFN-α se mostrou uma medida efetiva na prevenção da infecção, diz um estudo publicado em um site de pré-print (que ainda não foi revisado por pares). Nos Estados Unidos, a proteína já foi aprovada há anos pelo Food and Drug Administration (FDA), órgão semelhante à Agência Nacional de Vigilância Sanitária do Brasil, para melhoria do sistema imunológico em doenças como câncer e hepatite.