O aumento da ocupação de leitos por covid-19 aciona outro alerta nas autoridades médicas: a escassez de medicamentos para entubar os pacientes. Com os estoques em declínio, a prefeitura de Canoas suspendeu novas internações nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) do município.
A decisão entrou em vigor às 15h desta quinta-feira (2), depois que prefeituras da Região Metropolitana foram consultadas sobre a possibilidade de cedência dos medicamentos, mas relataram o mesmo problema, e irá se estender por pelo menos 48 horas. Canoas dispõe de 88 leitos de UTI, dos quais apenas oito estão vagos. Das 28 vagas para pacientes infectados pelo coronavírus, 27 estão ocupadas.
Segundo o prefeito Luiz Carlos Busato, a medida tem duração de 48 horas porque essa é a capacidade de atendimento do estoque atual de analgésicos e sedativos nos três hospitais do município. As cirurgias eletivas, que também precisam desses medicamentos mas não são de urgência, já tinham sido suspensas.
— Só nos resta essa alternativa, bloquear os oito leitos vagos, porque é melhor a gente bloquear e não receber o paciente do que nós recebermos o paciente e ele acabar morrendo por falta de medicamento — justifica Busato.
O prefeito diz já ter pedido auxílio ao Ministério da Saúde, à Secretaria Estadual da Saúde (SES) e às bancadas gaúchas na Câmara e no Senado. Nos últimos dias, ele recebeu cerca de 800 doses da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e chegou a requisitar medicamentos da rede pública e privada, inclusive no Centro de Bem-Estar Animal.
— Já até suspendemos as castrações e vamos pegar os medicamentos que possam ser usados por humanos — afirma Busato.
A SES está monitorando a situação no Estado e, nos últimos dias, fez um levantamento com todos os hospitais sobre o volume de medicamentos para UTI em estoque. Já há pedidos de compra emergencial protocolados no Ministério da Saúde, no Conselho Nacional de Secretários de Saúde e na Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).
Compras emergenciais
A SES foi informada da decisão. Consultada, a pasta relata que a Central de Regulação de Leitos do Estado seguirá encaminhando os pacientes que necessitarem de UTI para hospitais que estejam com vagas disponíveis, mas não comentou a redução da oferta. Por volta das 17h desta quinta-feira, o índice de ocupação alcançava 70,7% da oferta, com 1.538 internações (entre os 2.174 leitos disponíveis).
A pasta encaminhou, há cerca de 10 dias, um levantamento ao governo federal sobre a necessidade de reposição dos medicamentos na rede hospitalar gaúcha. A responsabilidade de compra das substâncias é dos municípios e dos próprios hospitais. No entanto, devido à dificuldade na aquisição dos produtos no mercado, o Ministério da Saúde abriu processos de compras emergenciais junto a fornecedores e iniciou o encaminhamento das doses aos Estados.
A reportagem questionou o ministério sobre o prazo para a chegada da remessa e a quantidade que será encaminhada e ainda aguarda resposta.