O Rio Grande do Sul passou da 21º posição no ranking de transparência de dados epidemiológicos da covid-19 entre os 27 Estados para o terceiro lugar. A reação ocorreu entre os dias 21 de maio e 4 de junho, quando foi realizado o décimo relatório da Open Knowledge Brasil. A entidade fiscaliza o direito à informação e acompanha a oferta de dados na pandemia desde 3 de abril nos Estados e governo federal.
O avanço da transparência no RS também foi posterior a reportagem de GaúchaZH, publicada em 26 de maio, que mostrava que rankings internacionais apontavam falta de transparência do governo estadual na divulgação das informações sobre a pandemia.
Junto com o Distrito Federal, o Rio Grande do Sul agora está com 95 pontos, do total de cem, no ranking. Em primeiro lugar — com pontuação máxima —, estão Ceará, Goiás, Minas Gerais e Rondônia. Em segundo lugar, com 98 pontos, estão Alagoas, Espírito Santo, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
O boletim da Open Knowledge Brasil destaca que o Rio Grande do Sul foi o maior destaque da semana em variação de pontos positivos. E aponta ainda que foi o último Estado do Sul do país a subir para as primeiras posições do ranking.
Para chegar ao patamar de Estados como Ceará, por exemplo, a diretora-executiva da Open Fernanda Campagnucci explica que o RS teria que divulgar informações específicas sobre a situação da doença por bairros da Capital:
— É o único detalhe que ainda falta. É importante monitorar as informações nesse nível porque fica mais próximo das pessoas, para compreenderem como isso está atingindo a região delas, como a doença chega na vida delas. O que estamos cobrando são dados básicos para pesquisadores e cientistas trabalharem. Apesar de ter levado o tempo que levou, o RS deu um passo fundamental para ampliar a transparência e permitir o combate à doença.
O avanço aconteceu porque nesta quinta-feira (4) o governo gaúcho lançou uma nova versão do site que permite monitorar o avanço da pandemia de coronavírus no Rio Grande do Sul. A reformulação do painel digital apresenta melhorias como a possibilidade de fazer download dos dados apresentados, além de trazer informações como perfil de vítimas por sexo, idade, hospitalizações, sintomas mais frequentes entre os pacientes e números de testes realizados e distribuídos aos municípios.
Uma das principais vantagens da reformulação é permitir o download das informações — algo que já era feito pela maioria dos outros Estados. Isso permite aos interessados encontrar tendências sem depender da interpretação oficial.
— Estamos focados no propósito de informar com clareza e transparência tudo o que diz respeito à pandemia, desde o número de casos até o valor investido em cada EPI (equipamento de proteção individual). Acreditamos que tempo de enfrentamento ao coronavírus também é tempo de enfrentamento à corrupção — pontuou o governador Eduardo Leite.
Em um link no site de dados do coronavírus, também é possível acessar uma página com esclarecimentos sobre aquisições emergenciais realizadas pelo governo para fazer frente à pandemia de coronavírus. O último relatório da Transparência Internacional, divulgado em 21 de maio, apontava que o governo do RS precisava melhorar a transparência sobre compras emergenciais, como leitos, aventais, máscaras e outros equipamentos.
Embora a próxima análise da entidade seja divulgada oficialmente 24 de junho, Maria Dominguez, pesquisadora do Centro de Conhecimento Anticorrupção da Transparência Internacional, adianta observações preliminares de avanços do governo gaúcho neste quesito:
— Foi criada uma aba específica para as aquisições emergenciais, com valores unitários e a quantidade comprada. Outra novidade, é que agora é possível baixar essas informações, para fazer análises e relações. O único problema é que as informações estão descentralizadas, quanto mais estiverem em um lugar só, mais fácil e rápido é o acesso.
De acordo com Maria, no final de maio, a Casa Civil gaúcha procurou a Transparência Internacional para entender como melhorar a oferta de informações e em quais itens precisava avançar.
A nova versão do site que monitora o avanço da pandemia de coronavírus entre os gaúchos não disponibiliza em tempo integral os números de casos confirmados e mortes nas últimas 24 horas. A SES informou que este dado é inserido no sistema diariamente por volta das 18h e fica ao lado do nome do município. Porém, a informação fica disponível na lista de municípios apenas até a meia-noite. Uma atualização colocou registros de casos e óbitos nas últimas 24 horas ao lado dos números acumulados também.
Ao virar o dia, esse dado desaparece, de acordo com a SES, para que não haja "confusão no dia seguinte, quando haverá novo carregamento de dados". Com isso, o internauta terá acesso ao dado das 18h até às 24h. A SES argumenta que dúvidas sobre este dado específico podem ser buscadas no Twitter da SES.
Outra alteração da nova versão diz respeito ao gráfico que apresenta a evolução dos casos no Rio Grande do Sul. Antes, apareciam números por data de confirmação e data de notificação. Na atualização, o gráfico principal se baseia na data de confirmação, ou seja, o dia do resultado do exame laboratorial (RT-PCR) ou teste rápido.
A secretaria deixou de apresentar gráficos com a data de notificação e passou exibir um gráfico também por data de início de sintomas. Questionada por GaúchaZH, a SES argumenta que este dado é "epidemiologicamente mais consistente, pois indica a data em que a pessoa começou a sentir sintomas."
No entendimento da secretaria, a notificação ocorre quando a pessoa procura o atendimento médico, o que pode se passar vários dias entre o início dos sintomas e a data da notificação. A SES defende que é mais importante saber quando se iniciaram os sintomas do que quando a pessoa procurou atendimento, pois essa data dos sintomas está mais próxima à data do contágio. Segundo a secretaria, essa mudança só foi possível ser feita agora, no momento em que o Estado tem dados mais completos a respeito das notificações.
Nesta sexta-feira (5), o novo site não disponibilizava os dados de ocupação de leitos de UTI por município. A SES informou que vai disponibilizar, em breve, em mapa ou lista a ocupação de leitos por hospital, dado mais preciso do que o anterior. A mudança está em fase de ajustes técnicos.