Banheiros de uso coletivo, como em espaço públicos, hospitais, escolas, shopping centers, restaurantes e escritórios, são perigosos pontos de transmissão do coronavírus. Esta é a conclusão de um estudo realizado por um grupo de cientistas chineses e publicado na terça-feira no portal Physics of Fluids.
A pesquisa verificou que, ao ser acionada, a descarga de um vaso sanitário gera um efeito dinâmico que joga para cima partículas com vírus e bactérias nas fezes, inclusive o coronavírus. Em experimentos feitos em toaletes, os pesquisadores descobriram que até 60% destas partículas são arremessadas até 90 centímetros para cima, indo à parte externa no vaso.
Estes corpos podem se prender nas paredes das cabines dos banheiros ou flutuar pelo ar. Desta forma, quem entrar no toalete em seguida tem risco de se contaminar.
— Os resultados da simulação são alarmantes porque é observado o transporte maciço para cima de partículas de vírus, com 40% a 60% de partículas chegando acima da sanitário, levando à disseminação em grande escala de vírus — descreve a pesquisa.
Cientistas já sabiam que as fezes dos doentes podem conter o coronavírus, embora em intensidade menor do que a saliva. A novidade do estudo está na comprovação de que as descargas geram a força e o movimento necessários para fazer com que o vírus seja expelido até uma altura que poderá ser inalado pelo próximo usuário — causando a chamada transmissão fecal-oral. Conforme o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, o coronavírus é capaz de sobreviver no ar por até três horas.
— Alguns estudos já vinham mostrando como os sanitários são um perigoso fator de contágio, não apenas do coronavírus, mas de outros microrganismos. Por isso há uma preocupação grande na comunidade médica com o uso de banheiros compartilhados em meio à pandemia — analisa a doutora em epidemiologia Mariur Gomes Beghetto, professora da Escola de Enfermagem da UFRGS.
A especialista lembra que a diarreia é o segundo sintoma mais presente em pacientes com a covid-19, atrás dos efeitos respiratórios, como tosse e falta de ar. Isso faz com que o paciente utilize mais o banheiro e amplia a possibilidade de que as fezes carreguem o coronavírus. Como é praticamente impossível desinfectar o banheiro após cada descarga, os usuários podem ficar expostos.
— Recomenda-se, principalmente para quem está com os sintomas da covid-19, que dê a descarga com a tampa do vaso fechada, justamente para evitar que os vírus fique no ar — sugere Mariur.
Para quem vai utilizar uma cabine no sanitário, os cuidados precisam ser tão rigorosos quanto os adotados em quaisquer locais fechados. É preciso permanecer de máscara o tempo todo, por menos confortável que seja usar o sanitário com a cobertura facial, e não levar as mãos ao rosto até que sejam lavadas. Ao chegar em casa, recomenda-se que as roupas sejam colocadas para lavar, pois podem carregar o vírus.
— Há alguns estudos mostrando que os esgotos também podem espalhar o coronavírus a populações mais expostas, como, aqui em Porto Alegre, aos moradores de rua às margens do Arroio do Dilúvio e as populações mas vulneráveis nas ilhas — alerta Mariur.