A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) alertou nesta terça-feira (19) sobre o impacto "desproporcional" da pandemia da covid-19 sobre povos indígenas e mulheres nas Américas, colocando-os entre os grupos vulneráveis para os quais pediu proteção para colocar a região "no caminho da recuperação".
— Estamos cada vez mais preocupados com os pobres e outros grupos vulneráveis com maior risco de doença e morte pelo coronavírus — disse a diretora da Opas, Carissa Etienne, destacando grupos indígenas que vivem na Bacia Amazônica e mulheres.
A curva de contágio do coronavírus, relatado em dezembro na China e declarado pandemia em 11 de março pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cresce nas Américas depois de achatar ou cair no resto do mundo.
Mais de dois milhões de contágio e mais de 121 mil mortes foram registradas na segunda-feira nas Américas, um aumento de 14% em relação à semana anterior, de acordo com Etienne durante a videoconferência semanal da Opas, o escritório regional da OMS.
Etienne alertou sobre a situação na Amazônia, que abriga mais de 2,4 mil territórios indígenas em oito países: Brasil, Peru, Colômbia, Bolívia, Equador, Venezuela, Guiana e Suriname. O perigo é tanto em aldeias isoladas, com difícil acesso a serviços de saúde, quanto em cidades densamente povoadas, como Manaus, Iquitos e Letícia.
— Já confirmamos 20 mil casos de covid-19 nas províncias que compõem a bacia amazônica, onde a incidência tende a ser o dobro, em comparação com outros estados dos mesmos países. Sem ação imediata, essas comunidades enfrentarão um impacto desproporcional — advertiu.
Etienne lembrou que as populações indígenas estão expostas a altas taxas de insegurança alimentar, diabetes tipo 2 e doenças endêmicas como tuberculose e malária, o que as torna mais propensas a sofrer com a pandemia. Ela também pediu o cuidado com as mulheres, que considerou "afetadas desproporcionalmente pelo covid-19".
— As mulheres em nossa região enfrentam disparidades de renda, falta de acesso adequado aos serviços de saúde e são frequentemente sujeitas à violência de gênero. Além disso, as mulheres representam 70% da força de trabalho em saúde nas Américas — disse.
Entre os grupos de risco para sofrer "discriminação estrutural" e "desigualdade racial" também incluíam populações negras na América Latina.
— Frequentemente, deixamos de priorizar a saúde e o bem-estar dos mais vulneráveis. Isso deve mudar se quisermos deter a disseminação da covid-19 e, ao mesmo tempo, estarmos preparados para enfrentar futuras pandemias — afirmou Etienne.