A partir dos decretos publicados e anunciados pelo governador Eduardo Leite e pelo prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, liberando o retorno gradual do comércio na Região Metropolitana e na Capital, surge uma questão: estamos prontos para isso? De acordo com o infectologista da Santa Casa de Porto Alegre Cláudio Stadnik e o presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) Eduardo Trindade, a resposta é: sim, mas com ressalvas.
Exaltando que as autoridades do Estado perceberam cedo a necessidade de começar o isolamento rapidamente para combater a proliferação do coronavírus, Stadnik entende que a hora do retorno estava se aproximando. Mesmo assim, os cuidados devem continuar, e os cidadãos precisam ter consciência de que a retomada do cotidiano ainda está longe de acontecer.
— Nós estávamos esperando esse retorno. Por termos iniciado o distanciamento social de forma precoce, a curva de evolução da doença está achatada. Além disso, temos boa capacidade de leitos nos hospitais (falando especificamente de Porto Alegre). Entretanto, é importante que passemos por uma adaptação de cultura e que essa retomada aconteça de forma gradual — explicou.
A principal preocupação do especialista é com a testagem na população gaúcha. Na sua visão, o Estado ainda não possui testes suficientes e, talvez por isso, os números apresentados sejam positivos para a retomada do comércio. A partir disso, será necessário um grande cuidado para que seja realizada uma volta gradual e, principalmente, uma reeducação da população.
— Ela (a retomada) não pode ser total. Tem que ser aos poucos. Precisamos colocar em prática medidas educativas e restritivas para evitar aglomerações. Liberar com consciência e aos poucos. Prefiro que comece agora do que esperar mais um tempo e o retorno ocorra tudo ao mesmo tempo. É a hora de testar a nossa população. Além disso, é importante reforçar para as autoridades que os testes têm que aumentar — defendeu.
Também apoiando o retorno do funcionamento do comércio de forma gradual no Rio Grande do Sul, o presidente do Cremers pede uma grande divulgação das informações à população e uma fiscalização rígida por parte das autoridades.
— O retorno precisa ser muito bem monitorado para que não aconteça uma liberação total, semelhante à que aconteceu em Passo Fundo e Lajeado, por exemplo. O planejamento teórico está ótimo, agora é necessário que as informações cheguem no grande público. Porque não adianta liberar agora e fechar tudo depois, novamente — alertou Trindade.
Assim como o infectologista, o presidente do Cremers mostrou preocupação com a mudança na cultura dos gaúchos e com o baixo número de testagem.
— Não se volta à normalidade da noite para o dia. O regramento precisa chegar ao conhecimento do público e necessita ser de fácil execução. Se tivéssemos testado mais pessoas, a estratégia de reabertura ocorreria por meio da imunização da população. Isso seria muito melhor de administrar. Mas, para isso, precisamos de uma testagem maior — finalizou.