Para fazer frente ao coronavírus, Porto Alegre precisa contar com pelo menos 360 leitos de UTI dedicados apenas ao tratamento das vítimas mais graves da covid-19 no pico da pandemia. Esse número corresponde a um parâmetro internacional que prevê a destinação de 2,4 vagas por 10 mil habitantes para tratamento intensivo de pacientes com o novo vírus.
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) tem um plano para destinar até 383 vagas do SUS a esses doentes, incluindo leitos novos e já existentes, mas esbarra em dificuldades práticas, como adquirir respiradores mecânicos para atingir a meta máxima. Não há um prazo definido de quando o município poderia comprar por conta própria ou receber do governo federal todos os equipamentos, o que reforça a importância de medidas preventivas como o distanciamento social para evitar uma sobrecarga no sistema de saúde.
Em um primeiro momento, a SMS prevê destinar 174 leitos do SUS para a covid-19 — 105 novos no Hospital de Clínicas e 69 já existentes no Conceição, que seriam liberados por meio do direcionamento de pacientes com outros tipos de problema para o restante da rede hospitalar. À medida que o vírus se alastrar, novas vagas seriam abertas ou requisitadas em diferentes instituições até somar 383 em um cenário batizado como “extremo” no plano de contingência do município. A assessoria de comunicação do Clínicas informa que 10 leitos já foram entregues, e o restante deverá ser disponibilizado "até o começo do inverno".
A situação nas unidades de tratamento intensivo está sob controle neste momento, o que ajuda a ganhar tempo para os ajustes necessários, mas não garante que tudo seguirá bem se as contaminações aumentarem. Somadas as estruturas do SUS e da rede privada, a cidade contabiliza 660 leitos de UTI não especializados para adulto (conta que exclui alas reservadas a perfis específicos, como queimados). Desse universo, até sexta-feira (17), 560 vagas eram consideradas “operacionais” e aptas a receber doentes com o coronavírus (nem todas as UTIs recebem doentes de covid-19 para reduzir possíveis focos de contaminação).
Graças a um recuo no registro de doentes graves nas últimas duas semanas, os casos suspeitos ou confirmados de covid-19 têm ocupado cerca de 10% da capacidade atual.
— Graças ao distanciamento social, conseguimos deitar essa curva (de ocupação nas UTIs) e evoluir com uma progressão menor —afirma o diretor de Atenção Hospitalar da SMS, João Marcelo Lopes Fonseca.
O plano de contingência da Capital prevê que, dos 383 leitos de terapia intensiva do SUS aptos a serem utilizados para enfrentar a pandemia, 129 seriam novos. O restante seria obtido principalmente mediante a conversão de salas de recuperação ou emergência em UTIs ou pela requisição de outros espaços já existentes (veja no gráfico o detalhamento da estratégia municipal).
Como os hospitais privados seguirão atendendo os pacientes de coronavírus, Fonseca considera que o plano conta ainda com uma “margem de segurança” para dar conta da pandemia do novo vírus. Outras instituições fazem planos à parte para ampliar sua capacidade de enfrentar a covid-19, como o Hospital da Brigada Militar, que deverá aumentar a oferta de camas de sete para 20 até o final de maio.
“Precisamos de mais respiradores”, diz diretor da Secretaria da Saúde da Capital
Para implementar o plano de destinar até 383 leitos de UTI para pacientes de covid-19 em Porto Alegre, a Secretaria Municipal da Saúde tem desafios práticos a vencer. Um dos mais árduos é garantir novos equipamentos para os hospitais na cidade — principalmente respiradores.
Hoje, a Capital tem pouco mais de mil ventiladores, conforme a SMS. O número é superior ao de leitos de UTI porque esses aparelhos também são utilizados em outras alas hospitalares como emergências. Para dar conta da nova demanda de pacientes, o diretor de Atenção Hospitalar da secretaria, João Marcelo Lopes Fonseca, afirma que o ideal seria contar com 360 novos respiradores.
— Para ter segurança para trabalhar, seria importante contarmos com mais 360 pares (respiradores e monitores), já que os respiradores existentes terão de continuar sendo usados para outros pacientes também, além de termos sempre um percentual de aparelhos que estragam e precisam de manutenção — afirma Fonseca.
Uma boa parte desse maquinário deverá ser obtida por meio da ampliação de 105 leitos de UTI no Clínicas, que prevê também o repasse de equipamentos. A expectativa da SMS é de que isso se confirme “nas próximas semanas”. Mas não há um prazo definido para obter todo o material excedente. A maior dificuldade para conseguir respiradores é o fato de estarem sendo disputados no mundo inteiro em razão da pandemia.
— A prefeitura vem negociando a compra, mas muitos fabricantes não tem mais previsão de entrega nem para 2021. Estamos vendo com outras fontes, desde repasses do governo federal até tentando diretamente outros fabricantes, mas não temos um prazo para conseguir tudo o que gostaríamos — diz o diretor da SMS.
Outras 140 vagas das 383 previstas para a covid-19 correspondem a leitos já existentes, então devem contar com aparelhos – embora o ideal fosse dispor de itens extras por segurança. Mas outro tanto ainda teria de aguardar a chegada de novos aparelhos ou requisitar, mesmo que temporariamente, parte dos cerca de mil existentes na cidade.
Outra frente é a contratação de pessoal para trabalhar nos hospitais. As duas principais referências para atender a covid-19 na Capital, o Conceição e o Clínicas, têm previsão de aumentar seus quadros em 2,2 mil profissionais em todo tipo de setor. O Clínicas, que responde pela maior parte de novas vagas de UTI para lidar com a pandemia, já recebeu autorização para contratar 775 pessoas – isso deve ocorrer à medida que forem abertos novos leitos.
O diretor técnico do Grupo Hospitalar Conceição, Francisco Paz, diz que a instituição já contratou 34 técnicos de enfermagem, 10 enfermeiros e cinco fisioterapeutas para UTIs. No total, foi autorizada a contratação de 1,5 mil funcionários para diferente salas. Desse universo, já foram efetivadas 262 contratações até a sexta-feira (17).