
O uso obrigatório de máscaras pela população para circulação em espaços públicos começa a ganhar força no Rio Grande do Sul por iniciativa de municípios da Região Metropolitana e do Interior. Com o uso recomendado pelo Ministério da Saúde, as proteções caseiras ajudam a conter a disseminação do coronavírus, asseguram especialistas, e a sua utilização obrigatória nas ruas está sendo compreendida por parte dos prefeitos como uma contrapartida de prevenção ante a paulatina flexibilização das medidas de fechamento do comércio.
Em pelo menos sete cidades gaúchas, os prefeitos já publicaram ou estão finalizando os decretos tornando as máscaras um requisito para sair de casa e transitar em espaços comuns. São os casos de Campo Bom, Uruguaiana, Santana do Livramento, Ivoti, São Sepé, Vista Alegre e Encruzilhada do Sul. O presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Dudu Freire, estima que a quantidade de cidades que caminham para adotar a máscara como item obrigatório esteja próxima de 20.
— Vários prefeitos têm falado disso nas reuniões. Decidimos nesta terça (14) tornar o uso das máscaras uma campanha institucional da Famurs. Vamos incentivar e atuar para que as proteções caseiras possam ser confeccionadas por voluntários, com a ajuda de pequenas empresas, seguindo as orientações do Ministério da Saúde — diz Freire.
A intenção dos prefeitos adeptos da ideia, até o momento, é disseminar o uso das máscaras caseiras, já que as hospitalares são escassas, sofreram alta nos preços e devem ser reservadas prioritariamente para profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate à pandemia.

Muitos prefeitos gaúchos aguardam o novo decreto do governador Eduardo Leite, previsto para ser publicado nesta quarta-feira (15), com a atualização das regras de distanciamento social. Para os gestores, a expectativa é de que Leite irá autorizar mais alguns ramos do comércio a retomarem atividades, e a adoção das proteções de boca e nariz poderia ser uma contrapartida de segurança.
Consultado pela reportagem, o governador disse que a discussão existe, mas ressaltou que a decisão não está tomada e será estritamente técnica.
— O que será definidor é a conversa com os especialistas no fim do dia — afirmou Leite, se referindo à reunião do Comitê Científico, que estava marcada para as 20h30min desta terça-feira (14).
Prefeitos já preparam decretos e produção
As máscaras devem fazer parte do novo decreto que a prefeitura de São Leopoldo vai editar na quarta, mas tudo vai depender do que o governador irá propor.
— A máscara ajuda, mas ela tem de estar dentro de um contexto de estratégia para evitar a contaminação, não pode ser medida isolada — avalia o prefeito Ary Vanazzi.
Em Campo Bom, o prefeito Luciano Orsi iniciou a produção de máscaras caseiras para serem distribuídas gratuitamente à população. Empresas locais doaram tecidos e estão recortando os moldes, enquanto mais de 60 costureiras voluntárias cadastradas pelo município finalizam os artefatos. A intenção é começar a entrega de um primeiro lote de 15 mil unidades nesta semana nas ruas do município.

Embora já tenha iniciado a confecção, o prefeito diz que aguarda o decreto de Leite para definir a melhor redação das regras específicas do município. Tornar a proteção obrigatória na cidade, contudo, é uma decisão já tomada, considerando que os prefeitos podem ser mais restritivos, e não mais permissivos, do que o governador.
— As máscaras de pano têm papel importante na redução do risco de contágio. Independentemente do governador, vamos instituir o uso obrigatório. A pressão para liberar o comércio é muito grande. Entendo que não podemos liberar sem uma contrapartida de prevenção — diz Orsi.
Ele explica como deverá funcionar a fiscalização da medida obrigatória em Campo Bom, cidade de 66 mil habitantes do Vale do Sinos, na Região Metropolitana:
— Não vamos prender ninguém, mas queremos criar consciência coletiva. Nós temos servidores que foram deslocados para atuar na conscientização das pessoas. Eles poderão fazer abordagens nas filas de mercados, por exemplo, para distribuir as máscaras que estamos produzindo. Se a pessoa quiser entrar no mercado, terá de usar máscara.
Medida já em vigor
Em Encruzilha do Sul, município de 25,8 mil habitantes no Vale do Rio Pardo, a medida já está em vigor. O prefeito Artigas Teixeira da Silveira assinou nesta terça-feira um decreto determinando a "obrigatoriedade do uso de máscara por toda a população em via pública".
Na pequena Vista Alegre, no noroeste do Estado, o prefeito Almar Zanatta contratou duas costureiras e adquiriu tecidos para produzir máscaras de pano para toda a população de 2,8 mil habitantes.
— Será obrigatório o uso no perímetro urbano da cidade. O decreto sai ainda nesta semana, quero apenas aguardar o conteúdo das novas determinações do Estado — pontua Zanatta.
Guia orienta sobre o uso
O Comitê Científico do governo estadual publicou, em 10 de abril, um guia de orientações sobre o uso de máscaras faciais em locais públicos. O documento alerta sobre o uso correto dos artefatos, seguindo as normas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Coordenador do comitê, Luís Lamb, secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia, diz que, por ora, o Palácio Piratini não trata o uso de proteção na boca e no nariz como item obrigatório.
— Percebemos que as pessoas estão usando nas ruas para se proteger, existe a percepção de que alguns países que adotaram as máscaras podem ter tido efetividade maior no enfrentamento da pandemia. O Comitê Científico não propôs como obrigação, mas orientou sobre como usar, em quais casos é recomendável. As máscaras sempre são usadas no ambiente médico ou entre infectados, mas, como estão usando na rua, decidimos orientar — explica Lamb.

Citado pelo secretário, o uso da proteção em outros países se tornou referência sobretudo na República Tcheca e em países orientais, como a Coreia do Sul e a China. A Áustria anunciou distribuição em mercados e o governo dos Estados Unidos recomendou a adoção da máscara de pano para a população.
Em Porto Alegre, o prefeito Nelson Marchezan não trabalha com o decreto de obrigatoriedade. Para ele, "o cidadão comum pode usar as de pano ou caseiras, e nãos as especiais N95, destinadas aos profissionais da saúde".
O que diz a recomendação do Ministério da Saúde
"Pesquisas têm apontado que a utilização de máscaras caseiras impede a disseminação de gotículas expelidas do nariz ou da boca do usuário no ambiente, garantindo uma barreira física que vem auxiliando na mudança de comportamento da população e diminuição de casos. Nesse sentido, sugere-se que a população possa produzir as suas próprias máscaras caseiras, utilizando tecidos que podem assegurar uma boa efetividade se forem bem desenhados e higienizados corretamente. Os tecidos recomendados para utilização como máscara são, em ordem decrescente de capacidade de filtragem de partículas virais:
a) Tecido de saco de aspirador
b) Cotton (composto de poliéster 55% e algodão 45%)
c) Tecido de algodão (como camisetas 100% algodão)
d) Fronhas de tecido antimicrobiano
O importante é que a máscara seja feita nas medidas corretas, cobrindo totalmente a boca e o nariz e que esteja bem ajustada ao rosto, sem deixar espaços nas laterais."