O transtorno do espectro autista (TEA), diz a psicóloga clínica especializada em TEA Maíra Ainhoren Meimes, ainda não tem uma causa bem esclarecida, mas o que se sabe é que pode ocorrer em função da associação de questões genéticas e ambientais, com impacto em duas grandes áreas: comunicação e interação social, e comportamento.
— Essa segunda área, do comportamento, faz a gente entender o perfil mais rígido dessas crianças nesse momento de quebra de rotina. Como elas têm mais rigidez, pode, talvez, haver aumento nos sintomas — diz.
Neste período de distanciamento social por conta do coronavírus, explica, o primeiro passo dos pais ou responsáveis deve ser organizar o próprio dia a dia.
— Essa rotina começa com o adulto. No segundo momento, pensar onde inserir as crianças. Acordar cedo, começar com horários de alimentação, de brincadeira, de atividades da escola, de exercícios mais corporais. Não é a gente ficar à mercê da situação, mas se readaptar a ela a favor das necessidades — sugere.
A fim de otimizar as atividades, Maíra sugere que se confeccione um cartaz, prevendo a programação e o horário.
— É importante usar recursos além da fala. Pistas visuais, nas quais eles consigam enxergar a rotina e a hora, são positivas. A partir daí, se consegue mapear os horários em que as crianças vão estar mais tranquilas para fazer atividades estruturadas e, nos horários de maior agitação, fazer coisas mais simples.
Dê a noção de tempo
Outro aspecto importante, ressalta Raquel Alvarez Sulzbach, psicopedagoga do Centro Lydia Coriat e que também é professora na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), é manter a criança situada no tempo.
— É uma sugestão para qualquer criança — pontua.
Para isso, indica, os responsáveis podem oferecer materiais concretos, como calendários físicos. Tanto as pequenas crianças, quanto às mais velhas. Para aqueles que não têm um entendimento tão preciso, é possível se valer de desenhos feitos pelos pais com o auxílio das crianças, diz a psicopedagoga.
— Que eles simbolizem os momentos do dia, coisas que fizeram ou planejamento de algo a fazer, como brincadeiras ou confecção de algo para comerem juntos, por exemplo.
Como muitas dessas crianças fazem parte de grupos, como a escola, por exemplo, outra dica de Raquel é utilizar os encontros online para pontuar os dias da semana:
— Isso pode ser a rotina agora: uma vez por dia, combinar com as mães uma conversa. Na segunda, encontra um coleguinha, na terça outro. Um dia, vai ser com todos. Então, monta-se um calendário de encontros virtuais.
Incluir as crianças nas atividades domésticas de forma lúdica também é uma boa dica para entreter e ainda trabalhar algumas capacidades. Raquel dá como exemplo o auxílio na hora de separar roupas, como camisetas em uma pilha, juntar os pares das meias, que além de ser uma tarefa importante, ainda estimula a motricidade fina. Outra opção é pedir ajuda dos pequenos para guardar talheres nas gavetas, fazendo com que eles percebam tamanhos, diferenças e semelhanças.
Busque auxílio
Não apenas nesse momento, mas como regra geral, os pais ou responsáveis devem manter um acompanhamento terapêutico. Uma das ferramentas que Maíra sugere são vídeos. Ou seja, que os pais filmem alguns momentos da criança (sem que ela perceba) e depois os disponibilizem para análise do terapeuta.
— Pode auxiliar os pais em como manejar com a criança.
Raquel também recomenda que mães, especialmente as que vivem sozinhas com os filhos, aceitem o convívio com outras pessoas, desde que isso não coloque a saúde da família em risco.
— Todo mundo está recluso. Não estamos impedidos que alguém esteja em isolamento venha na nossa casa. É importante para as mães que possam aceitar essa visita eventualmente para ter a possibilidade de um convívio com outras pessoas — diz.
— E que as crianças não se ausentem das terapias, mantendo-as por meios online. Que os pais não fiquem sozinhos, pois a tendência é se isolar — conclui a professora da PUCRS.
Veja mais dicas:
- Estruture a sua rotina
- Adapte a rotina da criança
- Monte cartazes com horários e atividades
- Se não entende a capacidade de compreensão da criança, lance mão de desenhos, fotos ou figuras
- Situe a criança no tempo
- Explique o que está acontecendo seja através da comunicação verbal ou visual
- Inclua a criança nas atividades domésticas de forma lúdica
- Promova encontros virtuais com coleguinhas
- Estimule atividades sensoriais. Brincar de enrolar e desenrolar a criança de um edredom, por exemplo
- Use as telas com moderação
- Interrompa questões repetitivas com brincadeiras
- Não leve a recomendação de ficar preso em casa ao pé da letra. Quando for seguro, dê uma volta na quadra com a criança
- Mantenha as terapias
- Busque auxílio sempre