A Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo (SES/SP) confirmou nesta terça-feira (25) um caso de exame positivo para coronavírus em um paciente que chegou recentemente da Itália, onde esteve de 9 a 21 de fevereiro. O caso foi para contraprova no laboratório do Instituto Adolfo Lutz, conforme o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis. Segundo o secretário, o resultado será divulgado em entrevista coletiva às 11h desta quarta-feira (26).
O primeiro exame, que deu positivo, foi feito no Hospital Albert Einstein. Trata-se de um homem de 61 anos, residente na capital paulista. Ele apresentou sinais e sintomas compatíveis com a suspeita de doença pelo coronavírus, como febre, tosse seca, dor de garganta e coriza. Conforme o Ministério da Saúde, o paciente está bem, com sinais brandos da infecção, e recebeu as orientações de precaução padrão.
A verificação do vírus ocorre no momento do primeiro atendimento. Diante de um caso suspeito, o médico já é orientado a fazer uma coleta de amostra das narinas e da cavidade bucal do paciente. O exame é realizado pelo hospital que atendeu o caso suspeito e encaminhado ao laboratório de saúde do município onde houve o registro.
A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo também informou nesta terça que está monitorando outros três casos suspeitos de coronavírus em São Paulo, totalizando quatro, sendo três na capital paulista – incluindo o do homem de 61 anos – e um quarto caso no interior do Estado.
O último boletim do Ministério da Saúde informa que o governo também investiga uma suspeita no Rio de Janeiro.
O resultado positivo em São Paulo, nesta terça-feira, ocorre no mesmo dia em que o coronavírus foi confirmado em mais sete países, para além do Brasil: Áustria, Suíça, Croácia, Iraque, Afeganistão, Omã e Argélia.
A Itália, onde o paciente investigado em São Paulo esteve, é o epicentro do coronavírus na Europa. Até agora, foram confirmadas 11 mortes (quatro apenas nesta terça-feira) e 325 pessoas com a doença.
A maior parte dos casos é no norte da Itália, nas regiões de Lombardia (capital Milão) e de Vêneto (capital Veneza). Segundo o primeiro-ministro, Giuseppe Conte, o surto começou em um hospital de Codogno, na Lombardia. O homem, de 38 anos, foi internado com uma "pneumonia forte". Nenhum dos italianos mortos havia viajado para a China recentemente.
O governo italiano afirma que ainda não encontrou um "paciente zero", que tenha trazido o coronavírus para a Itália. A hipótese de autoridades médicas é de que o país encare uma segunda ou terceira "geração" do vírus.
Confira na íntegra a nota do Ministério da Saúde
"O Ministério da Saúde, em conjunto com as secretarias estadual e municipal de São Paulo, investiga possível caso de Doença pelo Coronavírus no município de São Paulo.
Em 25 de fevereiro de 2020, após 12h, o Hospital Israelita Albert Einstein registrou a notificação de caso suspeito de Doença pelo Coronavírus 2019 (COVID-19). No atendimento, adotou todas as medidas preventivas para transmissão por gotículas, coletou amostras e realizou testes para vírus respiratórios comuns e o exame específico para SARS-CoV2 (RT-PCR, pelo protocolo Charité), conforme preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Com resultados preliminares realizados pela unidade de saúde e de acordo com o Plano de Contingência Nacional, o hospital enviou a amostra para o laboratório de referência nacional, Instituto Adolfo Lutz, para contraprova.
Este processo de validação dos resultados está em curso e o Ministério da Saúde divulgará o laudo final da investigação oportunamente. A pasta recomenda, portanto, cautela sobre quaisquer informações que não sejam as oficiais, uma vez que a investigação não está concluída.
Trata-se de um homem de 61 anos, residente em São Paulo/SP. Traz o histórico de viagem para a Itália, na região da Lombardia (norte do país), a trabalho, sozinho, no período de 09 a 21 de fevereiro. Iniciou com sinais e sintomas (Febre, tosse seca, dor de garganta e coriza) compatíveis com a suspeita de Doença pelo Coronavírus 2019 (COVID-19). O paciente está bem, com sinais brandos e recebeu as orientações de precaução padrão.
A SES/SP e SMS/SP está realizando a identificação dos contatos no domicílio, hospital e voo, com apoio da Anvisa junto à companhia aérea.
Todas ações e medidas seguidas estão de acordo com os protocolos do Ministério da Saúde e da OMS e diariamente atualizações são informadas em coletivas e boletins epidemiológicos. Mais informações, acesse www.saude.gov.br/coronavirus."
O que faz
Quais são os sintomas de uma pessoa infectada pelo novo coronavírus?
Os sintomas incluem febre, tosse e dificuldade respiratória. De acordo com a OMS, a maioria dos infectados com o novo coronavírus desenvolve sintomas semelhantes aos da gripe e cerca de 20% progridem para doenças mais graves, como pneumonia e insuficiência respiratória. Crianças pequenas, pessoas com mais de 60 anos e pacientes com condições que comprometem a imunidade estão mais suscetíveis a manifestações mais graves.
Qual é a letalidade do novo coronavírus?
A estimativa inicial é de que a letalidade seja de 2% a 3%, ou seja: a doença mataria em torno de três pessoas a cada 100 infectadas.
A epidemia de Sars registrou 774 óbitos em todo o mundo, com 8.096 casos entre 2002 e 2003. A taxa de letalidade foi de 9,5%. Já a epidemia de Mers notificou 858 óbitos dos 2.494 casos registrados em 2012, demonstrando uma taxa de letalidade de 34,4%.
Como se proteger
Existe um tratamento para o novo coronavírus?
Não há um medicamento específico. Aos pacientes infectados, indica-se repouso e ingestão de líquidos, além de medidas para aliviar os sintomas, como analgésicos e antitérmicos. Nos casos de maior gravidade, com pneumonia e insuficiência respiratória, podem ser necessários suplemento de oxigênio e mesmo ventilação mecânica.
Posso tomar um antibiótico para prevenir contra o novo coronavírus?
Não. Antibióticos não são indicados nem para prevenção nem para tratamento, pois não agem contra vírus, somente bactérias.
Existe uma vacina para o novo coronavírus?
Como a doença é nova, não há vacina até o momento. Contudo, as autoridades chinesas divulgaram seu código genético rapidamente e laboratórios já estão estudando como criar uma imunização aplicável em escala global. Cientistas esperam ter uma vacina pronta para testar em humanos no início de junho.
Tomei a vacina contra a gripe. Estou protegido contra o novo coronavírus?
Não. A vacina da gripe protege somente contra o vírus influenza.
Como reduzir o risco de infecção pelo novo coronavírus?
- Evitar contato próximo com pessoas com infecções respiratórias agudas.
- Lavar frequentemente as mãos por pelo menos 20 segundos, especialmente após contato direto com pessoas doentes ou com o ambiente em que elas estiveram, e antes de se alimentar. Se não tiver água e sabão, use álcool em gel 70%, caso as mãos não tenham sujeira visível.
- Usar lenço descartável para higiene nasal.
- Cobrir o nariz e a boca ao espirrar ou tossir.
- Evitar tocar nas mucosas dos olhos.
- Higienizar as mãos após tossir ou espirrar;
- Não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas;
- Manter os ambientes bem ventilados;
- Evitar contato próximo com animais selvagens e animais doentes em fazendas ou criações.
Qual é a orientação diante da detecção de um caso suspeito?
Os casos suspeitos devem ser mantidos em isolamento enquanto houver sinais e sintomas clínicos. Pacientes devem utilizar máscara cirúrgica a partir do momento da suspeita e ser mantidos preferencialmente em quarto privativo.
Qualquer pessoa que entrar no quarto de isolamento ou entrar em contato com o caso suspeito deve utilizar equipamentos de proteção individual, preferencialmente máscara N95, nas exposições por um tempo mais prolongado, ou então máscara cirúrgica, em exposições eventuais de baixo risco. Além disso, recomenda-se o uso de protetor ocular ou protetor de face, luvas e capote/avental.
Todo o caso que se enquadrar na definição de suspeito para o novo coronavírus deve ser notificado o mais rápido possível para as autoridades de saúde.
Deve-se tomar cuidado com produtos importados da China?
Especialistas apontam que o envio de embalagens por correio internacional vindos da China não deverá trazer risco aos consumidores no Brasil, devido ao tempo decorrido entre o envio e a chegada. Isso porque, em geral, os coronavírus sobrevivem pouco tempo fora de um hospedeiro.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos afirmou que não há, até agora, nada que indique qualquer risco associado à importação de produtos industrializados e ou de origem animal.
"Em geral, por causa da baixa sobrevivência dos coronavírus em superfícies, há um risco muito baixo de disseminação por meio de produtos ou embalagens enviados ao longo de dias ou semanas em temperatura ambiente."
E quem vai viajar?
Estão contraindicadas as viagens para a China e para os países com casos importados?
A OMS recomenda que medidas para limitar o risco de exportação ou importação da doença sejam implementadas, sem restrições desnecessárias ao tráfego internacional. O Ministério da Saúde do Brasil e o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos recomendam que viagens para a China sejam realizadas somente em casos de extrema necessidade, medida sugerida também pela Sociedade Brasileira de Infectologia.
O que fazer em caso de viagem para área com circulação do novo coronavírus, caso não possa ser adiada?
Proteger-se, lavando as mãos frequentemente com água e sabão ou higienizando-as com álcool em gel 70%; cobrindo a boca e o nariz ao tossir e espirrar, com o antebraço ou usando lenço descartável; evitando o contato com pessoas que apresentem febre e sintomas respiratórios; comendo carne e ovos bem passados; e esquivando-se de contato com animais selvagens vivos ou de fazenda.
Quais são as orientações para viajantes que retornam da China?
Os indivíduos que retornarem da China e que apresentarem febre e sintomas respiratórios dentro de um período de 14 dias devem procurar a unidade de saúde mais próxima imediatamente e informar sobre a viagem.
Devo usar máscara de proteção ao deixar o Brasil?
A infectologista Gynara Rezende, do Serviço de Controle de Infecção da Santa Casa e do Hospital Porto Alegre, diz que, em voos com saída do Brasil, não é preciso embarcar com máscara cirúrgica.
— E não vejo por que usar máscara nas conexões (fora do país). A maior parte dos casos está na China. Mas, na China, sugiro que a pessoa já chegue ao aeroporto de máscara e a use na rua, trocando-a a cada duas horas — fala a médica, acrescentando que basta adquirir a máscara cirúrgica comum, em farmácias, e que a do tipo N95 é recomendada para profissionais de saúde em determinadas situações.
Além de conter a dispersão das gotículas de saliva, a máscara protege a pessoa de encostar no rosto e acabar se contaminando — daí a recomendação mais importante para a prevenção de contaminação por vírus desse tipo, que é a de lavar repetidas vezes as mãos durante o dia.