A China confirmou, neste sábado, mais 13 mortes relacionadas ao coronavírus na província de Hubei, onde mais 323 pessoas foram infectadas. Com isso, o número de óbitos em consequência da doença subiu para 54. Ao todo, são 1610 casos de infecção confirmados no país, de acordo com o governo local.
A epidemia gerou uma "situação grave", nas palavras do presidente chinês Xi Jinping.
— Se mantivermos nossa confiança, trabalhando em cooperação com os estudos científicos de prevenção e seus respectivos tratamentos, aliados às políticas combativas, seremos, com certeza, capazes de vencer essa batalha — disse Xi.
A cidade de Wuhan, epicentro da epidemia, sofre com restrições de tráfego, sendo dificultada a entrada e a saída no perímetro municipal. A prefeitura de Xangai, capital financeira da China, também registrou sua primeira vítima fatal, um homem de 88 anos que já tinha problemas de saúde anteriores ao contágio.
A partir da próxima segunda-feira, as agências de turismo estarão proibidas de vender pacotes turísticos a grupos, anunciou a emissora estatal chinesa CCTV.
A Europa registrou seus três primeiros casos na sexta-feira (24), em três pessoas que vivem na França e que estiveram recentemente em Wuhan. A Austrália também confirmou quatro casos neste sábado, todos em pessoas que acabaram de voltar da China.
Na Ásia, vários países registraram casos e nos Estados Unidos um segundo foi confirmado na sexta.
O estudo dos primeiros casos confirmados mostra que a taxa de mortalidade do vírus, da família do coronavírus, chamado de 2019-nCoV, é pequena. A taxa é, até o momento, de menos de 5%, explicou o professor Yazdan Yazdanpanah, especialista francês membro da Organização Mundial de Saúde (OMS), que atendeu pacientes na França.
— De forma geral, os pacientes (afetados pelo vírus) apresentam um quadro menos grave do que os que têm SARS — explicou o especialista, comparando o coronavírus à doença que matou mais de 800 pessoas entre 2003 e 2004. A Síndrome Respiratória Aguda Grave apresentava taxa de mortalidade de 9,5% na época.
Comemorações suspensas
As comemorações do Ano Novo Chinês foram mínimas e pouco festivas. Nas ruas de Wuhan, metrópole de 11 milhões de habitantes, por exemplo, não houve fogos de artifícios nem desfiles de dragões. Em Pequim e outras áreas da China, muitas celebrações do Ano Novo foram suspensas. A capital parecia deserta e os restaurantes estavam praticamente vazios.
Muitos locais turísticos, como a Cidade Proibida, ou partes da Grande Muralha, foram fechados para reduzir o risco de infecção. Segundo jornalistas da AFP, Wuhan se tornou praticamente uma cidade fantasma e as poucas pessoas que saem às ruas usam máscara protetora obrigatória.
— Ninguém pode sair — repetia um policial. Desde quinta-feira, nem trens nem aviões podem deixar a cidade.
Além de Wuhan, quase toda a província de Hubei está isolada do mundo, com cerca de 56 milhões de pessoas confinadas, o equivalente à população da África do Sul.
Em uma farmácia do centro, os funcionários, vestindo trajes de proteção e luvas cirúrgicas, atendiam aos clientes. Em um dos poucos supermercados abertos, os trabalhadores repunham as máscaras de proteção e produtos desinfetantes.
— As pessoas tentam se proteger — explicou um cliente, que afirma estar confiante na detenção da epidemia.
— O governo assumiu o problema. Não há problema — afirmou.
Hospitais saturados e ajuda do exército
O Exército chinês enviou três aviões com 450 médicos e pessoal da saúde para a área isolada. Alguns deles têm experiência na luta contra o vírus ebola e a SARS. Os médicos militares trabalharão em diferentes hospitais da cidade, onde numerosos pacientes com pneumonia viral foram internados, informou a agência Xinhua.
Os hospitais estão saturados. Um novo centro médico para mil pacientes está sendo construído na região e estará operacional em 10 dias. Outro hospital com capacidade para 1.500 leitos estará pronto no surpreendente período de 15 dias, anunciou a imprensa estatal neste sábado.
Todas as mortes, exceto duas, foram registradas em Wuhan ou na província de Hubei, grandes como a Síria. Neste sábado, as autoridades anunciaram novas medidas em praticamente todo o país. Pontos de inspeção serão instalados e todos os viajantes com sintomas de pneumonia serão "imediatamente transferidos" para um centro médico, segundo a Comissão Nacional da Saúde.
Até o momento, a maioria das vítimas fatais eram pessoas com mais de 65 anos ou que já tinham uma doença. Internacionalmente, o coronavírus já foi detectado em vários países da Ásia, como Japão, Tailândia, Coreia do Sul, Singapura e Vietnã.
Alerta máximo em Hong Kong
Em Hong Kong, onde há cinco casos confirmados, o alerta máximo foi decretado, o que implica o cancelamento da maratona e o fechamento das escolas. Qualquer pessoa que chegar da China continental terá que passar por controles.
Até o momento, a maioria dos falecidos eram pessoas de mais de 65 anos de idade e que já sofriam de alguma outra doença.
Nos Estados Unidos, onde dois casos foram confirmados, o presidente Donald Trump parabenizou Pequim pelas medidas adotadas para impedir a propagação do vírus.
—A China trabalha muito duro para conter o coronavírus. Os Estados Unidos apreciam muito seus esforços e transparência — tuitou.
Na época da epidemia de SARS, nos anos 2000, a China havia sido criticada por ocultar os primeiros casos, o que agravou a crise. Por enquanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou a situação preocupante, mas não decretou a "emergência de saúde global".