A China intensificou, neste sábado (25), as medidas de isolamento, controle e prevenção para impedir a propagação da epidemia do coronavírus, que provocou uma "situação grave", nas palavras do presidente chinês Xi Jinping.
— Se mantivermos nossa confiança, trabalhando em cooperação com os estudos científicos de prevenção e seus respectivos tratamentos, aliados às políticas combativas, seremos, com certeza, capazes de vencer essa batalha — disse o presidente chinês.
A China luta para conter o vírus, que já causou 41 mortes no país e cerca de 1,3 mil infectados. A partir da próxima segunda-feira, as agências de turismo estarão proibidas de vender pacotes turísticos a grupos, anunciou a emissora estatal chinesa CCTV.
O coronavírus, no entanto, continua a se expandir e já está presente em quatro continentes. A Europa registrou seus três primeiros casos nesta sexta-feira (24), em três pessoas que vivem na França e que estiveram recentemente em Wuhan. A Austrália também confirmou quatro casos neste sábado, todos em pessoas que acabaram de voltar da China.
Na Ásia, vários países registraram casos e nos Estados Unidos um segundo foi confirmado na sexta-feira. O estudo dos primeiros casos confirmados mostra que a taxa de mortalidade do vírus, da família do coronavírus, chamado de 2019-nCoV, é pequena.
A taxa "é, até o momento, de menos de 5%", explicou o professor Yazdan Yazdanpanah, especialista francês membro da Organização Mundial de Saúde (OMS), que atendeu pacientes na França.
— De forma geral, os pacientes (afetados pelo vírus) apresentam um quadro menos grave do que os que têm SRAS, infecção que, por sua vez, apresentava taxa de mortalidade de 9,5% — explicou o especialista.
Comemorações suspensas
As comemorações do Ano Novo Chinês foram mínimas e pouco festivas. Nas ruas de Wuhan, metrópole de 11 milhões de habitantes, por exemplo, não houve fogos de artifícios nem desfiles de dragões.
Em Pequim e outras áreas da China, muitas celebrações do Ano Novo foram suspensas. A capital parecia deserta e os restaurantes estavam praticamente vazios. Muitos locais turísticos, como a Cidade Proibida e partes da Grande Muralha, foram fechados para reduzir o risco de infecção.
Segundo jornalistas da AFP, Wuhan se tornou praticamente uma cidade fantasma e as poucas pessoas que saem às ruas usam máscara protetora obrigatória:
— Ninguém pode sair — repetia um policial. Desde quinta-feira (23), nem trens nem aviões podem deixar a cidade.
Além de Wuhan, quase toda a província de Hubei está isolada do mundo, com cerca de 56 milhões de pessoas confinadas - o equivalente à população da África do Sul.
Em uma farmácia do centro, os funcionários, vestindo trajes de proteção e luvas cirúrgicas, atendiam aos clientes. Em um dos poucos supermercados abertos, os trabalhadores repunham as máscaras de proteção e produtos desinfetantes.
— As pessoas tentam se proteger — explicou um cliente, que afirma estar confiante na detenção da epidemia. — O governo assumiu o problema. Não há problema — afirmou.
237 casos críticos
O Exército enviou três aviões com 450 médicos e pessoal da saúde para a área proibida. Alguns deles têm experiência na luta contra o vírus ebola e a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), que matou 650 pessoas na China e Hong Kong entre 2002 e 2003.
Os médicos militares trabalharão em diferentes hospitais da cidade, onde numerosos pacientes com pneumonia viral foram internados, informou a agência Xinhua.
Os hospitais estão saturados. Um novo centro médico para mil pacientes está sendo construído na região e estará operacional em 10 dias. Outro hospital com capacidade para 1,5 mil leitos estará pronto no surpreendente período de 15 dias, anunciou a imprensa estatal neste sábado.
Todas as mortes, exceto duas, foram registradas em Wuhan ou na província de Hubei, grandes como a Síria.
Neste sábado, as autoridades anunciaram novas medidas em praticamente todo o país. Pontos de inspeção serão instalados e todos os viajantes com sintomas de pneumonia serão "imediatamente transferidos" para um centro médico, segundo a Comissão Nacional da Saúde.
Até o momento, a maioria das vítimas fatais eram pessoas com mais de 65 anos ou que já tinham uma doença.
Propagação pelo mundo
Internacionalmente, o coronavírus já foi detectado em vários países da Ásia, como Japão, Tailândia, Coreia do Sul, Singapura e Vietnã. Em Hong Kong, onde há cinco casos confirmados, o alerta máximo foi decretado, o que implica o cancelamento da maratona e o fechamento das escolas. Qualquer pessoa que chegar da China continental terá que passar por controles.
Até o momento, a maioria dos falecidos eram pessoas de mais de 65 anos de idade e que já sofriam de alguma outra doença.
Nos Estados Unidos, onde dois casos foram confirmados, o presidente Donald Trump parabenizou Pequim pelas medidas adotadas para impedir a propagação do vírus. "A China trabalha muito duro para conter o coronavírus. Os Estados Unidos apreciam muito seus esforços e transparência", tuitou, estimando que tudo "está indo bem".
Na época da epidemia de SARS, nos anos 2000, a China havia sido criticada por ocultar os primeiros casos, o que agravou a crise. Por enquanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou a situação preocupante, mas não decretou a "emergência de saúde global".