Em meio ao receio de uma nova pandemia global, o ministro da Saúde em exercício e ex-secretário do Rio Grande do Sul, João Gabbardo, garante que portos e aeroportos brasileiros estão em alerta, instruídos a orientar viajantes. Aeroportos, em específico, devem começar a orientar passageiros por alto-falante. Ele destacou que todas as transmissões da doença até agora ocorreram em Wuhan, entre chineses ou a viajantes que visitaram a cidade, e não fora do município.
Gabbardo afirma que o governo brasileiro, por enquanto, não tomará medidas de fiscalização rígidas (como scanners de temperaturas ou saída exclusiva de turistas em aeroportos) porque não há caso detectado no país e porque inexistem voos diretos entre China e Brasil.
— Dependendo da gravidade, estamos nos preparando para um possível risco de termos casos no Brasil, algo que não esperamos nem temos indícios de que vá acontecer — pontuou o ministro em exercício.
Ele explicou que a transmissão dos tipos anteriores de coronavírus, que causavam a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers), se dava através de gotículas, o que exigia contato próximo entre familiares ou de pacientes com profissionais da área da saúde. Por isso, a circulação foi relativamente pequena, restrita às regiões de origem.
— A expectativa é de que o novo coronavírus seja assim também. Mas é claro que o novo coronavírus sofreu uma mutação genética. Caso ele tenha novo comportamento, como o vírus da gripe A, a contaminação seria muito maior. Vamos acompanhar e, a partir daí, definir outras respostas — afirmou Gabbardo.
O governo federal implementou, na quarta-feira (22), um centro de operações de emergência, formado por especialistas, para monitorar possíveis casos do novo coronavírus no Brasil e direcionar profissionais da saúde. Essa espécie de gabinete de crise foi criada também na epidemia de febre amarela e após o desastre ambiental de Brumadinho.
O grupo está no alerta nível um (em escala que vai até quatro, entenda ao fim do texto), o que indica atenção inicial para preparar o Sistema Único de Saúde (SUS). A previsão é de que haja reuniões diárias para acompanhamento da situação. Até o momento, cinco possíveis casos de coronavírus no Brasil foram informados por governos estaduais, mas descartados pelo governo federal, que segue regras da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para o órgão das Nações Unidas, apenas duas situações podem ser consideradas caso suspeito:
- Paciente com febre e sintomas respiratórios que viajou a Wuhan nos 14 dias antes do início dos sintomas.
- Paciente com febre e sintomas respiratórios que tenha entrado em contato com caso de fora de Wuhan, confirmado por laboratório.
Por conta da definição da OMS sobre o que é um caso suspeito é que o governo brasileiro descartou os cinco possíveis casos no país. A mulher investigada pelo governo de Minas Gerais teve suspeita descartada porque viajou para Xangai, e não para Wuhan, e nem entrou em contato com nenhuma pessoa doente. Segundo Gabbardo, outros dois casos notificados ao Ministério da Saúde eram de pessoas que viajaram ao Japão e à Tailândia.
Um quarto possível caso era no Rio Grande do Sul. O indivíduo viajou a trabalho para a China e voltou com tosse e febre, mas sem sinais de gravidade nem motivo para ser internado, explicou por nota a Secretaria da Saúde gaúcha (SES). O indivíduo não esteve em Wuhan, nem teve contato com pessoas doentes da cidade. Não foram reveladas informações sobre sexo, idade nem data de viagem e destino da pessoa.
OMS desiste de declarar emergência
A OMS comunicou nesta quinta-feira (23) que é muito cedo para declarar emergência internacional por coronavírus. Até agora, ao menos 18 pessoas morreram e há registro de cerca de 660 casos em vários países. No entanto, a entidade afirma que a doença ainda está restrita sobretudo na China, onde cerca de 25% dos pacientes está em estado gravíssimo.
Nesta quinta-feira, morreu a primeira pessoa de fora de Wuhan – na província de Hubei. O último relatório da OMS afirma que a origem do coronavírus 2019 ainda é desconhecida. No entanto, as novas infecções não dependem mais da visita ao mercado de peixes e frutos do mar em Wuhan, visto que menos de 15% dos novos doentes chegaram a visitar o local. Há, agora, mais evidências de que existe transmissão entre humanos.
O receio é de que o novo tipo de coronavírus tenha alta taxa de transmissão e cause uma pandemia global. Cientistas buscam respostas para importantes perguntas: quanto tempo vive o vírus? O quão perto é preciso estar para infectar-se? É preciso ter adoecido ou basta ter o vírus no corpo? As respostas definirão a gravidade do cenário.
David Heymann, da OMS, afirmou que a transmissão é mais fácil do que se pensava, informou a rede de televisão norte-americana CNN. Antes, imaginava-se que era apenas por contato entre saliva e mucosa. Agora, as evidências apontam que o vírus passa de forma mais distante, como quando alguém tosse no rosto de outra pessoa. No entanto, ele destacou que não há evidências de que o vírus se espalhe pelo ar, dentro de um cômodo, como é o caso da gripe.
Cientistas chineses acreditam que o vírus tenha origem em morcegos, informou a agência de notícias estatal chinesa Xinhua. A hipótese "seria o entendimento mais lógico e conveniente, ainda que permaneça provável que um hospedeiro intermediário esteja na cadeia de transmissão de morcegos para humanos", dizem os pesquisadores.
Médicos do Instituto Pasteur de Xangai afirmam que o novo coronavírus é 70% próximo ao vírus da Sars e 40% semelhante ao vírus da Mers, doenças graves que causaram a morte de centenas de pessoas anos atrás.
China em alerta
A China está em alerta reforçado pelo receio de o novo coronavírus se espalhar durante o feriadão do Ano-Novo chinês, neste sábado (25), quando milhões de pessoas viajam a lazer. Até agora, 25 províncias têm casos confirmados.
Três cidades na China foram isoladas e estão de quarentena. Em Wuhan, metrópole de 11 milhões de habitantes, não há como chegar ou sair de trem ou avião, conforme a agência estatal Xinhua. O uso de máscaras é obrigatório em lugares públicos. Morador de Wuhan desde setembro de 2018, o brasileiro Heros Fernandes Martines Paulo, de 23 anos, viu sua rotina mudar ao longo desta semana na cidade do tamanho de São Paulo.
Segundo Martines, que é paulista e estuda mandarim em uma universidade da cidade chinesa, apesar de os primeiros casos terem sido registrados no final de 2019, a população de Wuhan não tinha dimensão da gravidade do surto até o início desta semana.
— Na segunda-feira (20), eu saí do dormitório da universidade e estava normal, poucas pessoas usando máscara. Depois disso, a imprensa aqui começou a mandar mais notícias e as autoridades a pedirem mais cautela. Na quarta-feira (22), saí novamente e o cenário já era completamente outro, tinha um pouco menos de pessoas na rua, mas quase todo mundo estava usando máscara — relata.
As cidades vizinhas de Huanggang e Ezhou também estão com restrições de viagem. Aeroportos, estações de trem, rodoviárias e portos têm sensores de calor, para detectar viajantes com febre. Pequim, que até agora tem 26 casos confirmados, cancelou as festividades de Ano-Novo.
O governo do Vietnã anunciou que dois pacientes chineses estão sendo tratados por coronavírus, mas o diagnóstico não foi confirmado pela OMS. A Arábia Saudita negou ter caso de coronavírus, após o Ministério das Relações Exteriores ter anunciado a informação na quarta-feira.
Na Escócia, cinco pessoas são suspeitas e estão sendo testadas, de acordo com o The Guardian. No Canadá, mais pessoas estão sendo investigadas, incluindo de Vancouver, Montreal e Québec. As Filipinas não estão mais aceitando voos diretos de Wuhan.
Quais são os níveis de alerta?*
O comitê de operações de emergência no Brasil está em nível 1. Entenda as variações:
- Nível Zero: monitoramento diário junto à OMS.
- Nível 1: esfera local não tem todos os recursos necessários para responder à emergência e precisa de ajuda (estadual ou federal).
- Nível II: risco significativo a ponto de superar a capacidade de resposta do Executivo municipal ou estadual. É preciso mobilizar recursos adicionais do governo federal.
- Nível III: ameaça de relevância nacional com impacto sobre diferentes esferas de gestão do SUS, o que exige ampla resposta. Situação de excepcional gravidade, pode culminar na Declaração de Emergência Saúde Pública Nacional (Espin).
*Informações do Ministério da Saúde.
Esclareça suas dúvidas sobre o coronavírus
O que é?
O coronavírus é uma família de vírus que causa síndromes respiratórias, como resfriado e pneumonia. Versões mais graves do coronavírus causam doenças piores, como a temida Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, sigla em inglês), responsável pela morte de mais de 600 pessoas na China e em Hong Kong entre 2002 e 2003. A versão de vírus que circula agora é uma espécie nova, desconhecida da comunidade médica, e o medo é de uma pandemia global.
Quais os sintomas?
Dentre os possíveis sintomas estão febre, dor, dificuldade para respirar, tosse, diarreia, pneumonia e morte.
O vírus é transmitido facilmente?
David Heymann, da OMS, afirmou que a transmissão é mais fácil do que se pensava, informou a rede de televisão norte-americana CNN. Antes, imaginava-se que era apenas por contato entre saliva e mucosa. Agora, as evidências apontam que o vírus passa de forma mais distante, como quando alguém tosse no rosto de outra pessoa. No entanto, ele destacou que não há evidências de que o vírus se espalhe pelo ar, dentro de um cômodo, como é o caso da gripe.
Onde surgiu?
Na cidade de Wuhan, na província de Hubei, na China.
Como surgiu?
A origem possível é um mercado de peixes e frutos do mar. Um estudo apontou que o hospedeiro inicial pode ser morcegos, mas que há possibilidade de existir outro animal como hospedeiro intermediário.
Como ele é transmitido?
De animal para pessoa e de pessoa para pessoa. Segundo o governo chinês, o vírus pode se modificar e ser transmitido. Segundo o CDC, pessoas mais velhas e doentes parecem ter maior risco.
Como é o tratamento?
Não há tratamento contra o coronavírus em si, apenas contra os sintomas. Pacientes tomam remédio para baixar a febre e podem receber máscara de oxigênio para respirar melhor, por exemplo.
Preciso me preocupar com a chegada do vírus ao Brasil?
Segundo o Ministério da Saúde, não há caso suspeito no Brasil. No Rio Grande do Sul, um possível caso foi descartado. Não há transmissão fora da China.
Quais os cuidados?
Lavar as mãos (sobretudo quem passar por aeroportos), evitar contato dos dedos com mucosas do nariz, olhos e boca. É recomendável usar álcool em gel.
A vacina contra a gripe protege?
Não. Segundo Alexandre Zavascki, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e professor da UFRGS, o vírus da gripe não é o coronavírus, e sim o influenza. Portanto, a vacina regular tomada antes do inverno não protege.
Por que o nome coronavírus?
Visto de um microscópio, o coronavírus parece uma coroa ou auréola. Em inglês, coroa é "crown".