O temor dos desdobramentos econômicos do coronavírus na China – e, por consequência, no mundo – começa a se traduzir em freada no ritmo de novos negócios com o país asiático. Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio Brasil-China (uma das várias entidades de intermediação de negócios entre os dois países), relatou à coluna que um brasileiro com viagem marcada à terra do dragão para "fechar um grande negócio" suspendeu a visita até que o quadro sanitário fique mais claro.
Na avaliação do empresário, duas atitudes ilustram o alcance potencial da crise: o isolamento de 20 milhões de pessoas em três cidades (quase duas vezes a população do Rio Grande do Sul) e a suspensão das festividades do Ano Novo Lunar, que começariam hoje. Ontem, o preço do petróleo recuou 1,36% diante da incerteza aberta pelo episódio. O feriado dura uma semana, período no qual os habitantes se locomovem pelo país, a maioria para ver os familiares. Tang lembra, ainda que a China recebe cerca de 100 milhões de turistas ao ano. Os que tinham viagem marcada para o início de ano vão cancelar, cogita.
A principal conexão do Rio Grande do Sul com a China, o Porto de Rio Grande, recebeu alerta da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Conforme Henrique Ilha, diretor de Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Saúde (QSMS) do terminal público, no ano passado 196 navios chineses trouxeram mercadorias ao Brasil e 388 levaram produtos daqui para lá. A única providência concreta até o final da tarde de ontem havia sido o contato da Anvisa com agências de navegação para recolher informações sobre a procedência dos navios que estão passando ou vão passar pelos portos brasileiros.
As principais bolsas asiáticas e europeias fecharam com baixas significativas diante da incerteza. A Índia foi exceção. Confirmando o quadro, o ouro, refúgio para a insegurança, teve leve alta (0,25%). No Brasil, porém, o dólar cedeu 0,27%, para fechar em R$ 4,167. O Ibovespa bateu mais um recorde, aos 119.527 pontos, resultado de alta de 0,96%. Houve forte elevação das ações de bancos compradas por estrangeiros, segundo analistas. Embora alguns festejassem a volta do capital internacional, é cedo para ter certeza.