O nascimento de Trinidad Ignácia Hernandez, que provocou o pouso em razão de emergência médica de um voo da Gol em Porto Alegre, na madrugada desta segunda-feira (9), chama a atenção para as orientações que as gestantes devem seguir no caso de viagens aéreas. Daniela Nicole Hernandez, 30 anos, que estaria na 37ª semana de gravidez, com parto previsto para o dia 20, começou a ter contrações na viagem entre Rio de Janeiro e Santiago, no Chile. Não deu tempo de aterrissar: o bebê nasceu antes do pouso, com o auxílio de dois médicos e de uma enfermeira presentes a bordo. Uma foto tirada dentro da aeronave mostra Manoel Hernandez, sentado no chão, amparando a esposa. Mãe e filha foram encaminhadas ao Hospital Fêmina, na Capital.
No Brasil, as exigências de documentação – que incluem atestado médico, declaração de responsabilidade e formulário específico – variam conforme a companhia aérea e o período da gestação.
De acordo com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), as gestantes, em geral, podem viajar de avião normalmente até a 27ª semana, tanto para destinos nacionais quanto internacionais. A empresa deve ser informada da condição da passageira no momento da compra do bilhete. A partir da 28ª semana, orienta a Abear, é necessário apresentar um atestado médico, emitido até sete dias antes do embarque, autorizando o deslocamento. Informações como origem e destino da viagem, data dos voos, tempo máximo de voo permitido, estimativa da data de nascimento do bebê, idade gestacional e parecer médico devem constar do documento.
O ginecologista e obstetra Antonio Celso Ayub, diretor da maternidade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, explica que a duração habitual ideal de uma gestação é de
40 semanas, podendo variar entre 37 e 42. Até a 28ª semana, tratando-se de uma gravidez normal, a mãe pode viajar tranquilamente. Gestações normais entre a 29ª e a 35ª semanas, frisa Ayub, requerem atestado.
– Com uma avaliação clínica, observando o colo uterino e sintomas, o médico vai verificar se ela tem qualquer sinal indicativo de possibilidade de trabalho de parto antes do tempo – afirma o especialista.
No geral, a gestante que estiver entre a 36ª e a 37ª semanas precisa preencher uma declaração de responsabilidade fornecida pela companhia aérea e levar também o atestado médico. Com mais de 37 semanas, a grávida não deve se deslocar por via aérea, sob risco de o trabalho de parto ser desencadeado, destaca Ayub. Após a 38ª semana, o trajeto só é autorizado se a passageira estiver acompanhada por um médico (GaúchaZH ainda apura se a presença dos médicos no voo Rio-Santiago da Gol tinham alguma relação com Daniela Nicole Hernandez ou se foi coincidência).
– Se a gestante tiver hipertensão ou diabetes gestacional descontrolado, a viagem é vedada em qualquer período – alerta Ayub.
O médico da Santa Casa ressalta que os prazos são um pouco mais rigorosos nos casos de gestações de múltiplos (gêmeos).
Como não há consenso entre as companhias aéreas, a Abear indica que as regras sejam conferidas pelos passageiros antes da emissão da passagem, especialmente a partir da
30ª semana, porque podem existir pré-requisitos específicos para que o embarque da mãe seja autorizado.
Lucas Teixeira, também ginecologista e obstetra, acrescenta que as restrições aos deslocamentos por via aérea têm o objetivo principal de evitar eventuais atropelos logísticos, uma vez que, do ponto de vista biológico, o ambiente pressurizado de uma cabine não oferece riscos adicionais a gestantes. Se a mulher entrar em trabalho de parto longe da cidade onde mora e do médico que a acompanha, pode enfrentar dificuldades.
Por conta disso, Teixeira desaconselha viagens de avião a partir das 32 semanas.
Em trajetos mais longos, devido ao risco de trombose, recomendam-se o uso de meias de compressão, cuidado com a hidratação e caminhadas pela aeronave. Outras orientações podem ser dadas pelo médico.